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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O COMBUSTÍVEL BOM E O COMBUSTÍVEL MAU

Mário Ceteno quer mesmo o Óscar de Melhor Artista Político do Ano e é capaz de o conseguir, embora a concorrência de António Costa e Azeredo Lopes seja feroz.

Depois da rábula da reforma sem cortes aos sessenta anos de idade e quarenta anos de descontos, que afinal é só para uma pequena minoria e terá, ainda assim, alguns cortes, agora, o suposto Ronaldo do défice, anuncia a redução do ISP (Imposto sobre Produtos Petrolíferos), mas só para a gasolina, como se o gásoleo não fosse petrolífero, mas feito de hidrogénio. 

Centeno gosta imenso destes golpes de ilusionismo, como se o povo português não lhe apanhasse a «marosca». Centeno reduz o ISP sobre a gasolina para tentar contornar a votação da Assembleia da República, no final do primeiro semestre do ano, que obrigava o governo a terminar com a sobretaxa que o Executivo aplicava aos produtos petrolíferos e que já não se justificava, dada a acentuada subida da cotação od petróleo nos mercados internacionais.

Na altura, Mário Centeno explicou que a medida só podia ser aplicada no Orçamento de 2019, agora quer fugir com o imposto à seringa da lei, aplicando-a apenas à parte menor da fatura, ou seja, à gasolina, já que os veículos a gasolina são menos de metade dos a gasóleo.

Detesto estes truques políticos, que me fazem lembrar contabilidade criativa e aquilo que a política tem de pior: a arte de contorcer a realidade. 
Esforço desnecessário e ridículo, ainda ssim perdemos muitas energias neste fogo de artíficio de pobre.

GAVB


domingo, 28 de outubro de 2018

OS BRASILEIROS ENCHERAM O SACO E ELEGERAM BOLSONARO


BOLSONARO GANHOU EM DEMOCRACIA, COMO TRUMP E JOSÉ SÓCRATES

Muitos europeus e em especial os portugueses não conseguem entender como Bolsonaro “ganhou” as eleições presidenciais brasileiras. Já foram ensaiadas várias teorias, desde a pouca instrução de grande parte do povo brasileiro (argumento rasteirinho), à influência do Whatsapp, passando pela falta de segurança nas ruas das principais cidades brasileiras e acabando no inevitável ódio à corrupção personificado no PT de Haddad.

Os brasileiros sabem quem é Bolsonaro e como ele pensa e promete agir. Mesmo assim ou, se calhar, por causa disso, quiseram votar nele. Sim, no Bolsonaro que ia (vai) atirar na “pretalhada” ou perseguir os homossexuais, no Bolsonaro que vai dar livre trânsito à polícia militar. 

Bolsonaro promete trazer segurança, venha ela da maneira que vier, e melhoria económica, seja ela conseguida à custa de direitos sociais ou laborais. Isso contou pouco, para os brasileiros. Não me digam que eles não sabem ao que vão, porque sabem.

Bolsonaro é eleito com o voto de dezenas de milões de brasileiros, muitos deles bastante informados e letrados. Se contassem os votos dos brasileiros que vivem fora do Brasil, Bolsonaro já tinha sido eleito à primeira volta.

A corrupção não vai acabar, pois ela é um fenómeno cultural que criou raízes ao longo de séculos e não é uma prioridade para Bolsonaro, mas o PT vai penar amargamente tantos anos de desmandos e soberba.


Os brasileiros “encheram o saco” e deixaram de importar com os factos ou ameaças de retrocesso na liberdade de expressão e na igualdade entre todos; hoje, eles votaram por convicção, tal como os americanos com Trump, os portugueses com José Sócrates ou os italianos com Conte e Salvini.  Neste particular, nenhum povo dá lições ao outro.



O que estas escolhas demonstram, quanto a mim, é a prevalência do pior do ser humano, quando os problemas apertam. Apesar de todo o conhecimento, de toda a evolução social e política desde finais do século XVIII, com os ideais da Revolução Francesa, parece que regressamos ciclicamente ao homo homini lupus est  (O Homem é o lobo do próprio Homem). 

É esse eterno regresso ao básico instinto que me deixa triste. Os problemas são cíclicos, mas as soluções têm de ser mais astuciosas por parte de quem decide, ou seja, os milhões e milhões de eleitores que ganharam o direito a votar, a ler, a escrever, a dizer o que pensam, a decidir o seu destino, mas, muitas vezes, abdicam de todos esses direitos em favor do “homem providencial”, que na verdade não existe.
Uns anos em democracia e já nos cansámos da trabalheira que isto dá?

GAVB

sábado, 27 de outubro de 2018

A POUPANÇA EM SALÁRIOS NA EDUCAÇÃO SERÁ GASTA EM REFORMAS: MAIS DE TRÊS MIL PROFESSORES PASSARÃO À APOSENTAÇÃO

Hoje, o jornal mais sensacionalista de Portugal titulava que "Poupança de 194 Milhões em Salários Da Educação", e alguns professores replicaram a notícia sem cuidarem de perceber o "como" e o "porquê", o que me deixa triste, especialmente quando tanto nos queixamos da falta de seriedade com que leem os nossos números e nos julgam erroneamente e, por vezes, com malvadez. 
De facto, tanto dinheiro a menos em salários de professores e funcionários tinha de ter como explicação lógica a aposentação de milhares de professores e funcionários das escolas e não o despedimento em massa de docentes, numa altura em que até entraram várias centenas nos quadros, pela primeira vez.

Os sindicatos de professores sabem perfeitamente que mais de três mil professores estão em condições de pedir a aposentação e que isso acarreta uma transferência de despesa de mais de 150 milhões de professores. 
Há cerca de um ano, o JN anunciava que cerca de três professores ascenderiam finalmente ao 10º escalão. https://www.jn.pt/nacional/interior/tres-mil-professores-sobem-ao-10o-escalao-8928050.html
Ora, se multiplicarmos o rendimento bruto anual desses docentes por cerca de 3000, encontraremos um valor aproximado de 150 milhões de euros. Ainda falta aqui contabilizar o valor pago aos funcionários e a algumas centenas de professores do 8.º e 9.º escalões que também se irão aposentar. Com a soma destes valores, chegaremos ao valor anunciado pelo Correio da Manhã, sem mais explicações.

No meu entender, o que a notícia deixa em aberto, é o destino desses 194 milhões, dentro do orçamento da Educação. Não sendo eles gastos em salários, onde serão aplicados, tendo em conta que o Ministério da Educação não sofrerá um corte de 200 milhões no seu Orçamento?
Serão gastos em infraestruturas? Há notícias que o Parque Escolar aumentará a sua dotação, mas não há notícias concretas sobre a política de investimentos do ME, até porque não é norma os ministros falarem abertamente dos planos de gastos dos seus ministérios, para cada exercício orçamental. É um mau princípio, porque se tivesse o hábito de explicar e esclarecer, seria sempre possível não cair em críticas desnecessárias ou injustas e, sobretudo, discutir opções políticas com mais abertura, clareza e hnestidade intelectual.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

PAI, QUE ALIMENTAVA OS FILHOS COM BOLOS E COCA-COLA, FOI PRESO, EM FRANÇA



Numa decisão inédita, mas provavelmente acertada e profilática, um tribunal Francês, acaba de condenar a três meses de prisão efetiva um pai, por negligenciar gravemente na alimentação e educação dos seus filhos, um com três anos e outro com quatro.
Quando entraram em casa do lamentável progenitor daquelas duas crianças, os serviços sociais de Limoges deram-se conta que aquela família vivia em condições de insalubridade e não havia comida no frigorífico.

O pai, um alcoólico violento e já referenciado pelos serviços sociais desde 2016, alimentava os seus dois filhos à base de coca-cola e bolos, apesar de receber apoio financeiro suficiente para alimentar e vestir as crianças de forma adequada. Obviamente o dinheiro era gasto, quase na sua totalidade, em vinho.
As crianças já foram  enviadas para uma família de acolhimento, onde chegaram em estado deplorável: a mais nova praticamente não fala e a mais velha já tinha perdido sete dentes devido ao excesso de açúcar ingerido, proveniente dos bolos e coca-colas em excesso.

A notícia destaca a inusitada dieta alimentar daquelas duas crianças franceses, a mim chamou-me à atenção outros pormenores.
Desde logo a pouquíssima instrução do pai. “Não sabe, ler escrever nem contar”. Com insuficiências tão básicas como poderia ele saber como alimentar os seus filhos? Realmente, a educação básica é um bem essencial, sobre o qual se constroem quase todos os outros. 

Outro pormenor relevante desta notícia é a ausência da mãe. A notícia nada diz sobre ela, mas a sua ausência naquela família disfuncional ajuda a entender o estado periclitante a que os seus filhos chegaram.

Mesmo partindo do princípio que um infortúnio qualquer afastou esta mãe dos seus filhos, é pouco aceitável que a Segurança Social de Limoges tenha tido a ousadia de deixar à guarda de um homem permanentemente bêbado e sem qualquer instrução dois crianças de tão poucos meses. As graves falhas deste pai já acontecem desde 2016, mas só agora ele ficou impedido de lhes fazer mal.

A pena de prisão pode parecer algo despropositada, mas a mim parece-me certíssima. Três meses na prisão, sem álcool, são o tempo necessário para refletir sobre a vida, as suas responsabilidades enquanto pai, a sua dependência do álcool e a tendência para a violência.

Chamar a atenção para os bolos e a coca-cola capta leitores e atiça comentários, mas tira o foco de algo mais importante e grave: a importância da Educação  na construção dos alicerces sociais de qualquer país; a ligeireza com que algumas instituições sociais avaliam as condições de certos progenitores ascenderem à condição de pais. Parece uma ligação automática, mas não é. 
GAVB

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

POR QUE RAZÃO CHAMAMOS LAMPIÕES AOS BENFIQUISTAS?

Os benfiquistas não gostam lá muito, mas a verdade é que são conhecidos como lampiões, pelo menos quando entramos num registo mais descontraído e brincalhão. 

De onde vem esta ligação?

A história aponta duas razões e ambas remotam aos primeiros anos da história do clube, ou seja, há mais de cem anos.

Em 1908, quando já se tinha dado a fusão entre o Sport Lisboa e o Sport Clube e Benfica, o então capitão de equipa (Cosme Damião) teve de pagar 720 réis às Companhias Reunião de Gás e Eletricidade, por prejuízos causados num candeeiro de iluminação, uma vez que uma bola chutada violentamente pelo cpitão Cosme Damião, durante um treino, ultrapassou a vedação do campo e atingiu mortalmente um globo e lâmpada de iluminação pública. Como nessa altura, esses candeeiros eram conhecidos como "lampiões", os benfiquistas começaram a ser tratados por lampiões.

A alcunha pegou definitivamente em 1919, quando o capitão Cosme Damião conseguiu convencer o reeleito presidente Bento Mântua a pagar do seu próprio bolso a instalação elétrica do campo em que a equipa encarnada jogava.
Cosme Damião tinha ficado impressionado com um jogo noturno, em que participara, no Brasil. E Bento Mântua fez-lhe a vontade. Em Setembro de 1919, colocaram-se dezoito mil refletores de mil velas nas bancadas enquanto nos camarotes elevado número de velas brancas e encarnadas acendidas, colocadas alternadamente, fizeram um efeito deslumbrante e o povo que assistiu ao jogo achou que eram lampiões no estádio. O efeito foi surpreendente e a partir daí os benfiquitas começaram a ser conhecidos como os lampiões. 



domingo, 21 de outubro de 2018

AFS - INTERCULTURA: ABRIR A CASA, O PAÍS E O CORAÇÃO AO OUTRO

A AFS é um organismo que surgiu nos EUA após a 2ª guerra mundial, para socorrer as vítimas da guerra.
Depois que a guerra terminou decidiram continuar como organismo mas numa missão de paz, tolerância, entendimento de diferentes culturas, troca de experiências com jovens de vários continentes.
Através deste organismo, jovens portugueses podem inscrever-se e viver uma experiência num país do mundo à sua escolha, de entre os países que se disponibilizam para os receber. Por sua vez o nosso país tem também protocolos com alguns países e recebe todos os anos cerca de 90 estudantes. Alguns ficam três meses, outros seis e outros 9 meses (um ano letivo).
As famílias portuguesas inscrevem-se e são sujeitas a uma seleção que inclui uma entrevista na nossa casa para que a AFS verifique as condições para receber um estudante e as motivações que as levam a receber um jovem na sua casa.

O estudante segue um programa académico, ou seja, frequenta a escola secundária mais próxima da família de acolhimento. Sempre que possível pode praticar um desporto que exista e seja do agrado do estudante e participar em alguma atividade cultural disponível caso seja do seu agrado.
O que se recebe por esta experiência é essencialmente a parte humana e cultural de ter connosco um jovem que partilha connosco o dia a dia, a sua vivência que se mistura com a nossa. É muito bom!
A AFS acompanha o estudante, cada um tem um voluntário de contacto que vai monitorizando o seu estado, adaptação ou alguma dificuldade. A AFS proporciona aos estudantes várias atividades, começou logo à chegada a Lisboa, ficaram juntos um fim de semana em Lisboa. Depois, cada núcleo organiza-se de forma a proporcionar aos estudantes várias atividades.

No nosso caso, o Porto é a cidade escolhida e onde os estudantes se juntam mais vezes, percorram-na e já a conhecem razoavelmente. Passaram também um dia em Braga.
Este fim de semana, por exemplo, estão num campo, na Foz do Douro Porto, também organizado pela AFS.
Além disso, cada família, segundo as suas possibilidades proporciona ao estudante outras saídas de forma a conhecer outros locais do nosso país.
É uma experiência que recomendo. No nosso caso, depois de termos recebido um jovem russo com 15 anos e agora uma jovem da Bélgica com 17 anos, tenho a dizer que este programa é muito bom, enriquecedor a vários níveis, para eles, para nós enquanto casal e para os nossos filhos. A empatia e abertura destes jovens é imensa e isso facilita grandemente a integração na família e mesmo na escola. A Escola de Vilela, Paredes, recebe muito bem estes estudantes, acarinha-os e dá-lhes o apoio que necessitam.


Fátima Costa

sábado, 20 de outubro de 2018

PROFESSORES, É PRECISO ACABAR COM O DISCURSO DE CALIMERO

Todas as semanas aparece uma queixa nova: o salário que não atualiza há décadas; os alunos que são agressivos e mal-educados; o cansaço físico e psicológico que toma conta da mente e do corpo; os pais que reclamam injustificadamente a nota dos filhos mas recusam responsabilidades perante a sua má educação; O Ministério da Educação que promete melhores condições salariais e de trabalho e depois não cumpre; a modernização do ensino imposta «de cima» sem ouvir os professores, quando estes é que estão no «terreno»....

Os professores entraram numa espiral de queixas e queixinhas, que os degasta imenso, e aumenta a antipatia social de que atualmente gozam. Não é por ser os professores, pois o mesmo aconteceria com qualquer outra classe profissional se assumisse a atual postura da classe docente.

É urgente que os professores mudem de registo, deixando esta infeliz atitude de Calimero, a quem todos devem e ninguém lhes paga. 

Os professores têm justas reivindicações, mas não são os únicos e, sobretudo, devem perceber que há um tempo para falar e outro para calar!
Calar não significa desistir ou ceder, mas tão só serenar a mente e encontrar outras estratégias para chegar ao porto pretendido.
No últimos anos, os professores somam derrotas, em vários quadrantes, e algumas eram perfeitamente evitáveis. Quando se perde, a culpa não é sempre da prepotência do adversário ou da sua batota; muitas vezes, cometemos erros e seria bom que soubéssemos fazer autocrítica interna e privada. 

Um exemplo: para o bem e para o mal, os professores são representados pelos sindicatos (e dentro destes a Fenprof assume papel principal). Ora, a Fenprof tem, há décadas, a mesma estratégia comunicacional, e esta tem afundado a imagem dos professores, além de não conseguir resultados palpáveis. Não estará na altura de renovar a estrutura diretiva da Fenprof, para que outros professores possam mudar a perceção que a sociedade tem de nós, estabelecendo uma nova estratégia de atuação com o governo, a comunicação social e outras profissões? 
Parece-me que sim!

Parar, pensar, mudar!

Acho que a prioridade deve ser valorizar a profissão (não confundir com carreira). Não porque somos melhores que os outros, não porque temos mais razões de queixa, não porque sem nós o mundo não anda, mas porque queremos ser parte ativa numa sociedade moderna, humanizada, tecnológica, artística, com autoestima e que prioriza o conhecimento. 
Precisamos de nos concentrar na qualidade daquilo que fazemos, aceitando que a nossa profissão tem espinhos cruéis e rosas belíssimas e perfumadas, como qualquer outra. 

O tempo passa, as sociedades transformam-se, algumas evoluem, e se os professores querem assumir um papel de destaque na construção de sociedades mais inteligentes e humanizadas, têm de se deixar de queixume e azedume, de crítica e ceticismo, adotando uma atitude de resiliência, aprendizagem, humildade e ação colaborativa, que tanto recomendam aos seus alunos!

GAVB   

domingo, 14 de outubro de 2018

FURACÃO LESLIE PASSOU PELO GOVERNO E DERRUBOU QUATRO MINISTROS

António Costa pode não ser um grande governante (que não é), mas come de cebolada os seus adversários políticos. Aproveitando a morte anunciada do Ministro da Defesa, o «azarado» Lopes, Costa mandou para casa o ministro da Saúde, o da Economia e o da Cultura também. Fê-lo a poucas horas de apresentar o seu último Orçamento de Estado, sem dar cavaco às suas muletas de esquerda.
De uma única penada, o primeiro-ministro deu várias lições à oposição, enviou recados a alguns setores sociais e pôs em sentido o partido. 

A um ano das eleições, Costa aposta tudo em ter uma maioria absoluta, por isso os ministros sem peso político nem vocação para o combate com os sindicatos e partidos de oposição, que se fará através do aproveitamento da contestação social, deixaram o lugar para os homens e mulheres da confiança do líder do PS.
Ao PS, António Costa deu um sinal claro: quem manda, quem escolhe é ele; qualquer outra interpretação é um pequeno delírio absurdo e suicidário, portanto os deputados do PS não tenham ideias de dar calor aos protestos de professores, médicos, enfermeiros ou agentes artísticos. 
A qualidade dos rebuçados é ele que escolhe!

Quanto à oposição, terá de dar três meses aos ministros da Saúde, Economia, Cultura, Defesa, antes de os criticar. Além de que eles sempre podem dizer que foi o outro que fez, disse, escolheu. 
Por falar na culpa alheia: estes ministros assinam de cruz o Orçamento de Estado. Vão gerir as opções dos seus antecessores ou, para ser mais realista, da dupla Costa/Centeno. Como criticar um ministro que entra quase nos descontos e mal conhece os restantes companheiros de equipa? 

Também à contestação social na saúde (greve dos enfermeiros), Costa deu uma espécie de xeque-mate aos sindicatos. Obviamente o novo ministro tem de se inteirar dos dossiês, perceber como a casa está organizada, blá, blá, blá,... "no próximo ano" já poderá assumir outro tipo de compromisso. 



Sim, sim… no próximo ano, no próximo orçamento, no próximo governo, na próxima encarnação.

Hoje o furacão Leslie varreu o centro de Portugal causando avultados prejuízos, numa espécie de comemoração sinistra que a natureza preparou para assinalar os trágicos acontecimentos de Outubro de 2017. 
Antes que alguém lhe perguntasse como pensa resolver mais esta calamidade, Costa antecipou-se e criou um fogo de artifício político e mediático para os próximos quatro/cinco dias, capaz de tirar força ao furacão real e ao Orçamento dos rebuçados doutor Costa. 
Costa percebe pouco de governação, mas de truques políticos percebe muito. 
GAVB

sábado, 13 de outubro de 2018

NÃO É A POLÍTICA QUE TEM DE COMBATER A CORRUPÇÃO, MAS A JUSTIÇA

Agora que saiu da Procuradoria Geral da República, Joana Marques Vidal farta-se de dar palpites, opiniões, recados sobre como ser deve fazer Justiça em Portugal, com deve atuar o Ministério Público, quem e como deve ser escolhido o Procurador Geral da República…

Em todo o momento, Joana Marques Vidal demonstra que digeriu muito mal a sua não recondução enquanto PGR, apesar de nem Primeiro-Ministro nem Presidente da República, em momento algum, lhe terem dado essa indicação. Talvez Joana Marques acreditasse que ia ser reconduzida por televoto ou por indicação do Correio da Manhã ou que o Primeiro-Ministro ainda fosse Passos Coelho e o Presidente Cavaco Silva… 



Depois de perorar sobre como deve ser o processo de escolha do PGR, hoje, JMV, atira sobre os políticos "A resposta política sobre à corrupção não é eficaz". 
Não são os políticos que têm de fazer frente à corrupção, mas sim os tribunais, os juízes, os magistrados do Ministério Público. Os políticos, enquanto decisores públicos, são um alvo da corrupção. Como podem ser eles a combater aquilo que tem interesse em esconder?
A estratégia tem de ser do aparelho judiciário, por isso mesmo é que são um órgão de soberania e não dependem da poder político, por isso há separação de poderes.
Joana Marques Vidal acha que não temos leis anti corrupção suficientemente eficazes? Que os políticos são responsáveis por isso? Então, devia tê-lo dito quando foi escolhida para PGR e não ter aceitado o cargo. 


Falar agora de falta de estratégia no combate à corrupção, culpando o poder político, quando ela teve à frente do Ministério Público durante vários anos, ajudando a formalizar processos de acusação contra José Sócrates, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro cheira tanto a ressabiamento e fica-lhe muito mal. 
Se houve Procuradora que pôde acusar quem quis, dos mais poderosos aos menos poderosos, amigos de quem estava no poder (Ricardo Salgado era amicíssimo de Marcelo, António Costa foi ministro de Sócrates), foi Joana Marques Vidal.
Se ela acha que não temos leis suficientemente fortes e  eficazes, que aponte as falhas e apresente propostas e se deixe de remoques e «bocas» que em nada a prestigiam.
GAVB

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

AS CASAS DOS ESTADO QUE SOBRAM AOS MILITARES ANDAM A FAZER FALTA AOS ESTUDANTES

As notícias de hoje dão conta do uso indevido que alguns militares fazem das casas que gratuitamente o Estado lhes cede - o arrendamento a turistas estrangeiros. 
É verdade que estaremos perante casos isolados, mas se esta infeliz andorinha não faz uma má primavera, ela é suficientemente icónica do péssimo jeito, dos militares de topo têm, para gerir os  injustificados privilégios que têm na sociedade portuguesa. Já não lhes bastava o envolvimento na tragicomédia do roubo do material militar em Tancos, espécie de anedota nacional em curso, para agora darem este mau exemplo de «chico espertismo» tuga, tão emblemático da nossa maneira de ser.


Quando o  Estado mantém privilégios sem razão a alguns (poucos) dos seus mais altos funcionários acontecem frequentemente duas coisas: os beneficiários mostram que não os merecem, fazendo um uso indevido e moralmente reprovável destes, e fica claro que esses bens ou serviços estão a fazer imensa falta a outros funcionários ou até a setores importantes da população.

Em Portugal falta habitação a preços aceitáveis para os estudantes, mas o Estado fornece quase gratuitamente casas a militares para estes fazerem negócios com turistas. Mesmo entre os funcionários públicos existem grupos claramente mais carenciados de apoio do Estado no que à habitação diz respeito. Todos os anos milhares de professores são obrigados a mudar de casa, tendo de arrendar habitação, a preços cada vez mais desproporcionados àquilo que ganham, mas o Estado (que os obriga como a nenhum outro profissional a mudar de casa todos os anos) não lhes disponibiliza nenhuma das suas inúmeras habitações. Entretanto algumas são arrendadas a turistas...   


O primeiro-ministro de Portugal desafiou, hoje, os senhorios portugueses a colocarem no mercado casas, dirigidas a estudantes universitários e famílias portuguesas, 20% abaixo do preço médio praticado pelo mercado. Em troca, propôs-lhes retirar os 28% de taxa liberatória que o Estado cobra aos arrendamentos urbanos. 
Não sei se arrendamentos 20% mais baratos já serão acessíveis à bolsa dos portugueses, mas parece-me uma proposta interessante e politicamente honesta. Infelizmente, não deve ter grande sucesso, porque muito do arredamento aos estudantes universitários sofre do vírus da clandestinidade e, portanto, não paga imposto ou paga um valor muito inferior ao que lhe era devido. 
Por muito que a lei melhor ou os políticos façam algum esforço para alterar as condições dos cidadãos, subsiste o pior dos problemas: a tendência tão portuguesa para cada um tratar da sua vidinha, «lixando» a vida dos outros. 
Os políticos portugueses são maus, é um facto, mas eles não saem às pedras da calçada.
GAVB



terça-feira, 9 de outubro de 2018

A ESCOLHA DO PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA NÃO SE PODE TRANSFORMAR NUM CONCURSO TELEVISIVO

Joana Marques Vidal, a PGR cessante, está a digerir muito mal a sua não recondução e hoje resolveu teorizar sobre o modus operandi da escolha do PGR. Agora que sabe que não é ela a eleita de Marcelo, Joana Marques Vidal acha que os candidatos a PGR deviam ser submetidos a uma espécie de audição parlamentar prévia, qual concurso público, para que os deputados pudessem também ter voto na matéria na escolha do PGR. 

Joana Marques Vidal perdeu uma ótima oportunidade para estar calada. Se não, vejamos…

Durante duas décadas como magistrada nunca tal ideia se lhe ouviu sair da boca; nem a ela nem a qualquer magistrado do Ministério Público nem a qualquer deputado;

A não recondução de Joana Marques Vidal apenas segue a regra do que aconteceu nos últimos quarenta anos de democracia portuguesa;

JMV não é, longe disso, a única magistrada honesta dentro do Ministério Público nem o seu consolado está isento de críticas;

Não é por ter atacado, e bem, os casos Sócrates, Pinho, Salgado, que não lhe devemos perguntar por Dias Loureiro, por exemplo;


O Presidente da República, que decidiu por outra pessoa, decidiu, ante de mais, escolher outra magistrada e não propriamente "não a reconduzir";

Sugerir o Parlamento como um novo patamar de escolha é altamente deselegante com Marcelo Rebelo de Sousa, um presidente que tem tido um comportamento absolutamente equidistante em relação ao jogo partidário;

Sugerir o Parlamento como influenciador decisivo da escolha do PGR é atribuir à Assembleia da República um estatuto que ela não merece, pois na Assembleia só passam as escolhas do governo, como já ficou provado em sucessivas comissões de inquérito e audições parlamentares, onde a verdade, por mais evidente que fosse demonstrada, não constou dos relatórios finais aprovados.

Continuar a falar indiretamente da sua não recondução sabe a ressabiamento e fragiliza objetivamente a nova Procuradora, que não merecia um começo tão atribulado.

GAVB 



sábado, 6 de outubro de 2018

COMO É DIFÍCIL SER JUSTO NO AMOR E NO ÓDIO


Como é difícil condenar um ato vil naqueles que aprendemos a admirar. Pomos em causa a veracidade da notícia, a idoneidade do mensageiro ou até a credibilidade do acusador, por mais flagrante que seja a culpa do herói. Fomos realmente capturados pelo hipócrita mundo da imagem.
Já não nos interessa a verdade. Apostamos tudo em fazer vingar a narrativa e as personagens pelos quais nos apaixonamos. E com fazemos figuras risíveis.
A hipocrisia já não incomoda o espírito e acho mesmo que se tornou numa espécie de perfume doce e mortífero que nos alimenta e destrói a vida.
É angustiante verificar como somos absolutamente parciais com aqueles que amamos e com aqueles que odiamos. Talvez não sejam precisos até sentimentos tão intensos… A miopia pode surgir perante uma simples antipatia ou irracional antipatia.

Há uns anos, era normal encontrar várias pessoas que se coibiam de comentar as ações daqueles com quem tinham divergências claras e públicas; hoje assiste-se a um ataque despudorado, ignóbil entre «gente que não se grama», como se o espectador não visse a motivação.
A mesma tendência se verifica com aqueles por quem nutrimos algum tipo de afeto, admiração ou simpatia. O crime tem sempre uma explicação e o criminoso atenuantes ponderosas.

Precisamos de nos libertar deste vírus sonso e vaidoso, que se chama hipocrisia, e aprender a lidar com os falhanços daqueles que amamos como com as vitórias dos nossos “ódios de estimação”.
Ter respeito pela verdade é o primeiro passo para voltar a ter respeito por nós.


GAVB

terça-feira, 2 de outubro de 2018

NÃO HÁ RECUPERAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO, PORQUE O OBJETIVO É ACABAR COM A CARREIRA DOCENTE


8 de Dezembro de 2017
Resolução aprovada pela AR, com os votos a favor do PS
“A Assembleia da República recomenda ao Governo que, em diálogo com os sindicatos garanta que (…) é contado todo o tempo para efeitos de progressão na carreira [com a] correspondente valorização remuneratória.”


18 de Agosto de 2018
António Costa
“Nunca foi criada qualquer tipo de expectativa por parte do Governo de que iriam ser contados os nove anos, quatro meses e dois dias. Nunca.”

Tal como aconteceu no caso do Infarmed, um político não surpreende: seja promessa, resolução da AR ou até lei, por norma, não cumpre. Não vale a pena crer no contrário.

Um ano volvido sobre o primeiro embate entre governo e professores sobre a recuperação do tempo de serviço, os professores continuam sem ver confirmadas as suas justas expectativas sobre a contagem integral do tempo de serviço para a carreira do docente. Nem verão tão cedo. Há mais de uma década que a maioria dos ordenados na função pública estão parados e assim permanecerão. 
O objetivo do governo é acabar com as carreiras na função pública, cristalizando os salários daqueles que já cumpriram, pelo menos, metade da carreira até chegar a idade da reforma. 

Tomemos nota de alguns sinais evidentes.

Os poucos trabalhadores que entraram nas diversas carreiras públicas, nos últimos dez anos, já trabalhavam na função pública há vários anos como precários. Somando os anos de "contratados" aos que permanecerão no primeiro escalão da suposta carreira, facilmente atingiremos um número entre os 15 e os vinte anos. Ou seja, metade da dita carreira é feita no primeiro nível remuneratório. A outra metade andará a passo de caracol, sempre condicionada a qualquer crise financeira criada pelos desmandos políticos. O mais certo é chegarem à reforma e nem a meio da escala remuneratória chegar.  

Mesmo tendo dinheiro, o governo recusa-se a atualizar os salários dos funcionários públicos de acordo com a inflação.

Apesar de ter alterado a estrutura, as competências e a responsabilidade de algumas profissões públicas, o executivo recusa-se a rever carreiras e vencimentos, mesmo sabendo ter aprofundado gritantes injustiças entre oficiais do mesmo ofício. (Veja-se o caso dos Conservadores e Notários, onde a disparidade salarial é enorme, apesar da alteração de competências ter igualado a carga de trabalho entre os trabalhadores).

A maneira como as carreiras gerais da função pública estão estruturadas torna impossível o acesso aos escalões mais altos a mais de 80% dos  trabalhadores, por muito competentes que sejam. 

O grande problema dentro da função pública, na perspectiva do governo, é a carreira docente. Como o governo não tem coragem de acabar com ela, como gostaria, optou por uma estratégia de desgaste dos professores, bloqueando, na prática, as progressões até à idade da reforma. 
Quando os professores com mais de cinquenta anos chegarem à reforma, a carreira docente não será mais do que um conto de natal. 
Vencidos os professores, todas as restantes carreiras públicas cairão com facilidade, com exceção dos magistrados, pois os juízes ainda podem levar os políticos a tribunal e colocar alguns sob prisão preventiva. Condená-los a penas de prisão, já é muito mais difícil, por muito evidente que seja a corrupção.

Com o fim das carreiras públicas, terminará a contestação laboral e será ainda mais fácil aprovar leis que ponham em causa os direitos mais básicos dos trabalhadores. 
Perderão todos: trabalhadores do público e do privado, porque a referência pública, dos direitos dos trabalhadores, deixará de existir, quando as carreiras públicas implodirem.
Portugal será apresentado como um caso de sucesso económico segundo o modelo do FMI: salários made in China, oportunidades de negócio made in USA. 
GAVB