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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

AS CASAS DOS ESTADO QUE SOBRAM AOS MILITARES ANDAM A FAZER FALTA AOS ESTUDANTES

As notícias de hoje dão conta do uso indevido que alguns militares fazem das casas que gratuitamente o Estado lhes cede - o arrendamento a turistas estrangeiros. 
É verdade que estaremos perante casos isolados, mas se esta infeliz andorinha não faz uma má primavera, ela é suficientemente icónica do péssimo jeito, dos militares de topo têm, para gerir os  injustificados privilégios que têm na sociedade portuguesa. Já não lhes bastava o envolvimento na tragicomédia do roubo do material militar em Tancos, espécie de anedota nacional em curso, para agora darem este mau exemplo de «chico espertismo» tuga, tão emblemático da nossa maneira de ser.


Quando o  Estado mantém privilégios sem razão a alguns (poucos) dos seus mais altos funcionários acontecem frequentemente duas coisas: os beneficiários mostram que não os merecem, fazendo um uso indevido e moralmente reprovável destes, e fica claro que esses bens ou serviços estão a fazer imensa falta a outros funcionários ou até a setores importantes da população.

Em Portugal falta habitação a preços aceitáveis para os estudantes, mas o Estado fornece quase gratuitamente casas a militares para estes fazerem negócios com turistas. Mesmo entre os funcionários públicos existem grupos claramente mais carenciados de apoio do Estado no que à habitação diz respeito. Todos os anos milhares de professores são obrigados a mudar de casa, tendo de arrendar habitação, a preços cada vez mais desproporcionados àquilo que ganham, mas o Estado (que os obriga como a nenhum outro profissional a mudar de casa todos os anos) não lhes disponibiliza nenhuma das suas inúmeras habitações. Entretanto algumas são arrendadas a turistas...   


O primeiro-ministro de Portugal desafiou, hoje, os senhorios portugueses a colocarem no mercado casas, dirigidas a estudantes universitários e famílias portuguesas, 20% abaixo do preço médio praticado pelo mercado. Em troca, propôs-lhes retirar os 28% de taxa liberatória que o Estado cobra aos arrendamentos urbanos. 
Não sei se arrendamentos 20% mais baratos já serão acessíveis à bolsa dos portugueses, mas parece-me uma proposta interessante e politicamente honesta. Infelizmente, não deve ter grande sucesso, porque muito do arredamento aos estudantes universitários sofre do vírus da clandestinidade e, portanto, não paga imposto ou paga um valor muito inferior ao que lhe era devido. 
Por muito que a lei melhor ou os políticos façam algum esforço para alterar as condições dos cidadãos, subsiste o pior dos problemas: a tendência tão portuguesa para cada um tratar da sua vidinha, «lixando» a vida dos outros. 
Os políticos portugueses são maus, é um facto, mas eles não saem às pedras da calçada.
GAVB



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