Sempre que os
professores reclamam aumento de salário, por via direta ou indireta, há sempre
um relatório de Bruxelas, da OCDE ou do FMI a dizer que os professores até
ganham de mais. Os jornalistas divulgam a notícia como a enviaram, os
sindicatos de professores não sabe reagir, explicando e desmontado uma verdade muito
relativa, e os docentes ficam mais uma vez mal perante a opinião pública. Por
isso, defendo que sempre que os sindicatos deviam publicitar quantos
professores estão em cada escalão e qual o salário líquido em cada escalão
remuneratório. Assim, qualquer pessoa intelectualmente honesta podia comparar e
tirar as suas conclusões. Os sindicatos de professores também se deviam
preocupar em anunciar anualmente o número de docentes contratados, o seu
salário e os custos médios anuais que a maioria deles tem porque está
deslocado.
É verdade que há professores que ganham dois mil euros e
trabalham menos que um professor que ganha cerca de mil euros e está deslocado.
É certo que há muitos professores com
salários a auferir os salários mais altos que a profissão paga, mas isso advém
do facto de estarem na profissão há mais de trinta anos e estarem no topo da
carreira, tendo-o alcançado quando esta ainda existia e havia governantes que
cumpriam leis e sobretudo a palavra dada. No entanto também é verdade que há
milhares de professores que ganham mil euros há mais de vinte anos e deixam
cerca de metade desse valor na casa que têm de arrendar, dos transportes que
têm de pagar, como não acontece com mais nenhuma outra profissão do Estado.
Quando se escreve sobre o salário dos professores normalmente
invoca-se aquilo que os mais velhos ganham, mas o mesmo não acontece com os
médicos, os juízes ou os trabalhadores das finanças. A média remuneratória dos
juízes do Supremo Tribunal de Justiça é superior a cinco mil euros líquidos, por mês. Será essa a média dos salários dos juízes? Quanto ganha um médico-cirurgião
com trinta anos de serviço público? Será essa a média salarial dos
clínicos portugueses? E algum jornalista compara esses valores com aquilo que ganham os restantes trabalhadores qualificados, o que na maioria dos casos significam “detentores
de uma licenciatura”?
Infelizmente, o mercado de trabalho paga muito mal há maioria
dos licenciados com menos de quarenta anos, fruto de várias circunstâncias, entre
as quais destaco a grave crise financeira que os políticos portugueses fizeram
passar o país nos últimos vinte anos e o facto da maioria trabalhar no setor
privado, onde não há uma cultura de carreira dentro das empresas, pois a maioria destas não se aguenta muito tempo no ativo.
Por conseguinte, parece-me intelectualmente
desonesto comparar o ordenado dos professores com o dos licenciados que estão a
exercer profissões que nada têm a ver com a sua formação académica e cujo ordenado
não faz jus à sua competência e valor.
A questão dos ordenados dos professores é recorrente e por
isso seria de esperar que aqueles que têm a responsabilidade de defender os
professores na praça pública soubessem explicar de um modo simples e eficaz o que
ganham os professores portugueses, fazendo as comparações razoáveis e justas
com aquelas profissões em que estas comparações são legítimas.
GAVB
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