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terça-feira, 11 de setembro de 2018

ANTES DE SEREM COMPARADOS, OS SALÁRIOS DOS PROFESSORES DEVEM SER EXPLICADOS


Sempre que os professores reclamam aumento de salário, por via direta ou indireta, há sempre um relatório de Bruxelas, da OCDE ou do FMI a dizer que os professores até ganham de mais. Os jornalistas divulgam a notícia como a enviaram, os sindicatos de professores não sabe reagir, explicando e desmontado uma verdade muito relativa, e os docentes ficam mais uma vez mal perante a opinião pública. Por isso, defendo que sempre que os sindicatos deviam publicitar quantos professores estão em cada escalão e qual o salário líquido em cada escalão remuneratório. Assim, qualquer pessoa intelectualmente honesta podia comparar e tirar as suas conclusões. Os sindicatos de professores também se deviam preocupar em anunciar anualmente o número de docentes contratados, o seu salário e os custos médios anuais que a maioria deles tem porque está deslocado.
É verdade que há professores que ganham dois mil euros e trabalham menos que um professor que ganha cerca de mil euros e está deslocado. É certo que  há muitos professores com salários a auferir os salários mais altos que a profissão paga, mas isso advém do facto de estarem na profissão há mais de trinta anos e estarem no topo da carreira, tendo-o alcançado quando esta ainda existia e havia governantes que cumpriam leis e sobretudo a palavra dada. No entanto também é verdade que há milhares de professores que ganham mil euros há mais de vinte anos e deixam cerca de metade desse valor na casa que têm de arrendar, dos transportes que têm de pagar, como não acontece com mais nenhuma outra profissão do Estado.


Quando se escreve sobre o salário dos professores normalmente invoca-se aquilo que os mais velhos ganham, mas o mesmo não acontece com os médicos, os juízes ou os trabalhadores das finanças. A média remuneratória dos juízes do Supremo Tribunal de Justiça é superior a cinco mil euros líquidos, por mês. Será essa a média dos salários dos juízes? Quanto ganha um médico-cirurgião com trinta anos de serviço público? Será essa a média salarial dos clínicos portugueses? E algum jornalista compara esses valores com aquilo que ganham os restantes trabalhadores qualificados, o que na maioria dos casos significam “detentores de uma licenciatura”?
Infelizmente, o mercado de trabalho paga muito mal há maioria dos licenciados com menos de quarenta anos, fruto de várias circunstâncias, entre as quais destaco a grave crise financeira que os políticos portugueses fizeram passar o país nos últimos vinte anos e o facto da maioria trabalhar no setor privado, onde não há uma cultura de carreira dentro das empresas, pois a maioria destas não se aguenta muito tempo no ativo. 

Por conseguinte, parece-me intelectualmente desonesto comparar o ordenado dos professores com o dos licenciados que estão a exercer profissões que nada têm a ver com a sua formação académica e cujo ordenado não faz jus à sua competência e valor.
A questão dos ordenados dos professores é recorrente e por isso seria de esperar que aqueles que têm a responsabilidade de defender os professores na praça pública soubessem explicar de um modo simples e eficaz o que ganham os professores portugueses, fazendo as comparações razoáveis e justas com aquelas profissões em que estas comparações são legítimas.
GAVB

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