Poucos povos serão como o nosso
tão intimamente quixotescos, quer dizer, tão indistintamente Quixote e Sancho.
Quando se sonharam sonhos maiores do que nós, mesmo a parte de Sancho que nos
enraíza na realidade está sempre pronta a tomar os moinhos por gigantes. A
nossa última aventura quixotesca tirou-nos a venda dos olhos, e a nossa imagem
é hoje mais serena e mais harmoniosa que noutras épocas de desvairo o pôde ser.
Mas não nos muda os sonhos.»
"Portugal - identidade e imagem" in "Nós e a Europa ou as duas
razões", Eduardo Lourenço
NOTA: Eduardo Lourenço morreu no dia seguinte ao da comemoração da morte do
poeta que mais amava e admirava (Fernando Pessoa) e no dia em que passam 380
anos que Portugal recuperou a sua independência e a sua identidade enquanto
povo. Profundamente simbólico.
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