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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

EDUARDO LOURENÇO AMOU PORTUGAL COM UMA INTELIGÊNCIA SUBLIME





«Nação pequena que foi maior do que os deuses em geral o permitem, Portugal precisa dessa espécie de delírio manso, desse sonho acordado que, às vezes, se assemelha ao dos videntes (Voyants no sentido de Rimbaud) e, outras, à pura inconsciência, para estar à altura de si mesmo. 


Poucos povos serão como o nosso tão intimamente quixotescos, quer dizer, tão indistintamente Quixote e Sancho. 
Quando se sonharam sonhos maiores do que nós, mesmo a parte de Sancho que nos enraíza na realidade está sempre pronta a tomar os moinhos por gigantes. A nossa última aventura quixotesca tirou-nos a venda dos olhos, e a nossa imagem é hoje mais serena e mais harmoniosa que noutras épocas de desvairo o pôde ser. Mas não nos muda os sonhos.»

"Portugal - identidade e imagem" in "Nós e a Europa ou as duas razões", Eduardo Lourenço 


NOTA: Eduardo Lourenço morreu no dia seguinte ao da comemoração da morte do poeta que mais amava e admirava (Fernando Pessoa) e no dia em que passam 380 anos que Portugal recuperou a sua independência e a sua identidade enquanto povo. Profundamente simbólico.


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