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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

PRECONCEITO SEXUAL



- Não concordo com a homossexualidade!
- Mas tu és gay?
- Não!
- Então, o que é que tu tens a ver com a sexualidade dos outros?

-Ah, é que vai destruir a família!
- A tua família?
-Não! A minha não!
- Então, o que é que tu tens a ver com a sexualidade dos outros?

- É que não é natural!
-Humm ... Tu és biólogo?
- Não!
-Tu és antropólogo?
- Também não.
- Então, o que é que tu tens a ver com a sexualidade dos outros?

- É que Jesus disse que é uma aberração!
- Tu estavas lá quando Jesus disse isso?
- Não! Mas estás escrito na Bíblia.
-Mas foi Jesus que colocou isso na Bíblia?
- Não.
- Então, o que é que tu tens a ver com a sexualidade dos outros?


- EU NÃO GOSTO!
- Ah, então o problema não é a família, não é natureza das coisas nem os astros, nem a descendência nem a suposta "opinião" de Jesus... O problema é que TU não gostas, certo?
-É! Eu não gosto!
-  MAS ENTÃO, O QUE É QUE TU TENS A VER COM A SEXUALIDADE DOS OUTROS?


terça-feira, 28 de janeiro de 2020

LIÇÕES DE ISABEL


Primeira lição: o que o povo angolano precisa é de desenvolvimento, empresas e investimento.
De várias Isabeis com dinheiro limpo.

Qual é a raiz da cleptocracia que tudo tolhe?
A ruína da economia angolana começou nas escolhas fundadoras da nova nação.

Cortou-se o pio e desprezou-se uma burguesia nacional com capacidade e experiência e o país foi entregue a quadros marxizantes com anos de atraso em relação à economia que tinham de gerir.


Outra lição: a transparência financeira em Portugal, país pobre e carente de investimento, anda a reboque do que possa ser a transparência angolana.
Talvez Luanda venha a ser a nossa capital.

Manuel S. Fonseca

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

JÁ NÃO É IMPORTANTE O QUE SABEMOS MAS SIM O QUE FAZEMOS COM O QUE SABEMOS


Para que é que «isto» serve?

Talvez devêssemos começar por aqui! Em primeiro  lugar, os professores; mas também os alunos, que se tornaram "clientes" pouco exigentes, viciados em aprender sem questionar.

Obviamente que o mundo mudou! E os professores precisam de aceitar isso, para depois entender o que se transformou, de modo a preparar a sua ação, a partir dessa nova realidade.
Perdemos demasiado tempo a lamentar a mudança, a queixar-nos da falta de condições e consideração, e pouco ou nenhum tempo a entender a mudança.

Para entender é preciso querer entender! Não é isso, afinal, que dizemos aos alunos, quando este recusam o mais pequeno esforço em aprender o que lhe propomos?
Aprender é ouvir, ser humilde, crítico também, mas sobretudo construtivo, partindo sempre do princípio que vivemos num paradigma social, comportamental, tecnológico e mental diferente daquele em que nos formámos.

É certo que o aluno precisa de saber para fazer, mas antes necessita de uma justificação, uma razão prática e objetiva, para ter que estudar determinado conteúdo e, sobretudo, daquele modo. O modo sempre foi fundamental. Se estamos a ensinar como aprendemos ou como ensinávamos há quinze ou dez anos, estamos, claramente, a ensinar de modo errado. 

Nenhum setor da sociedade funciona já de modo autista.

O professor precisa de procurar a sua reciclagem! Saber exatamente o que quer, ou seja, que valências tem de adquirir ou melhorar para concretizar aulas diferentes e mais produtivas. Não diferentes porque sim, porque os outros querem, mas porque os alunos são pessoas diferentes do que eram há dez anos. 
Eles têm telemóvel, acesso facilitado à internet, o inglês é-lhes familiar, vivem num mundo cheio de apps, a relação com o professor é mais próxima e democrática, o livro deixou de ser a única e mais valiosa fonte de informação.

O professor só lhes é útil, se aceitar e dominar o novo contexto. Dominar o contexto exige aprendizagem, saber trabalhar com a tecnologia, apostar fortemente no trabalho em equipa. 

A Escola não precisa de se submeter à facilidade para vencer os desafios do futuro; muito menos entrar em lutas estéreis sobre quem é mais essencial, o professor ou aluno.
A Escola precisa, sim, de promover a qualidade do trabalho que desenvolve, fundamentar as suas opções, renovar o modo e os procedimentos.

Temos tempo, o que não quer dizer que não haja exigência, porque o pior que nos pode acontecer é fazer que fazemos: nas infraestruturas, no parque tecnológico, na formação de professores, na exigência da avaliação.

GAVB

domingo, 26 de janeiro de 2020

UMA VIDA ESCONDIDA



Tinha grandes expectativas em relação a este filme, mas elas saíram completamente goradas. 

Baseado em facto verídicos, o filme recorda a história de Franz Jägerstätter (August Diehl), um fazendeiro austríaco católico, que durante a II Guerra Mundial se recusou a fazer o juramento de lealdade a Hitler quando foi chamado pela segunda vez para o Exército, invocando objeção de consciência. O ato valeu-lhe, e à família, serem ostracizados pela maior parte dos habitantes da sua aldeia, e um conflito com a sua igreja. Imperturbável perante qualquer tentativa, violenta ou institucional, para o fazer voltar atrás na decisão, nem sequer sob pena de não voltar a ver os pais, a mulher (Valerie Pachner) e as filhas, Jägerstätter foi preso, julgado em tribunal militar, condenado à morte e executado, em Agosto de 1943. Em 1971, Alex Corti fez um filme sobre ele para a televisão austríaca. Em 2007, foi considerado mártir da Igreja Católica pelo Papa Bento XVI e beatificado. 

O filme é incompreensivelmente extenso (três horas), monótono e não questiona a atitude do protagonista como esperava que o fizesse. 
Lento e arrastado, a película centra-se num relato feito a meias entre Franz e a sua mulher de uma história inusitada, mas que merecia um forte debate sobre a dignidade humana, os objetores de consciência durante a guerra, a consciência do bem e do mal assim como a inutilidade de determinadas atitudes, que, por muito justificadas e heroicas que sejam, produzem mais sofrimento sobre os inocentes que lhe aliviam as dores. 

O realizador Terrence Malick absteve-se de discutir a atitude de Franz como se ela não merecesse discussão e merecia. Alongou um filme que não devia ir além de 90 minutos, deixou de traduzir ou até colocar em discurso direto importantíssimas falas, ao longo do filme, para se centrar em reflexões filosóficas repetitivas. 

Perdeu-se uma ótima oportunidade de discutir um assunto interessantíssimo como o dos sacrifícios inúteis - em guerra como na vida!





quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O PROFESSOR MULTIDISCIPLINAR OU O PRÍNCIPIO DA GRANDE REBALDARIA




Um professor de Francês a lecionar Português ou um professor de História a lecionar Geografia é só uma pequena amostra de como as «coisas» serão daqui para a frente na Escola Pública portuguesa. Todos os dados apontavam para isto e os próximos tempos apenas tornarão mais clara a ideologia governamental (mas não só) para a Educação em Portugal.
Falo em ideologia, mas o mais correto seria dizer que não há ideologia nenhuma. Numa Escola onde todos passarão de ano, qualquer um serve para ensinar qualquer coisa. Desde que ocupe as crianças e adolescentes durante 35 horas por semana e que no final do ano carimbe a sua transição, está tudo certo.
Se ensina bem ou mal, isso pouco interessa a quem governa, à maioria dos pais e à grande parte da sociedade. Por isso, se falta um professor de Francês, avança um de Alemão, que está mesmo à mão e precisa de umas horas para completar o horário; se já não há professor de Informática, a turma fica com o professor de Educação Visual, que até fez um workshop na área e sabe usar com alguma destreza vários programas informáticos; se o aluno não tem professor de Educação Física avança o professor de Matemática, que estava encostada na biblioteca , por falta de turma, e até gosta de Desporto.
Esqueçam lá isso de contratar novos professores, de renovar geracionalmente a classe, de dotar a escola de mais qualidade profissional e académica. Para quê, se os alunos precisam de saber cada vez menos para completarem ciclos de ensino?

Se os professores pensavam que a sua hora ia chegar com a falta de professores, por via da reforma de muitos, da desistência de alguns e do desinteresse das novas gerações de licenciados, podem tirar o cavalinho da chuva! Como qualquer um serve, as insuficiências de pessoal qualificado serão sempre colmatadas recorrendo a remendos. Não estará longe o tempo em que as Escolas contratarão, à semana ou ao mês,   qualquer licenciado inscrito no Centro de Emprego que se disponibilize para ganhar uns trocos numa escola perto, enquanto aguarda melhor oferta.
Este plano governamental tem grandes hipóteses de frutificar porque a generalidade dos encarregados de educação «não quer saber» do que se ensina ou como se ensina. Isso pode ser facilmente comprovado pelo modo despudorado com cobrem e apoiam à má educação dos filhos e até os seus pequenos delitos ou crimes, dentro das escolas, com o beneplácito de diretores, Associações de Pais, Ministério da Educação.

Aqueles pais, com pretensões a uma Educação com alguma qualidade para os filhos, matriculá-los-ão em colégios privados, com o Estado a suportar alguns custos, em benefícios fiscais. E lá será também o último reduto de quem tem alguma paixão pela profissão docente.
A maioria da população continuará alegre e contente a culpar os professores, mesmo quando a maioria das escolas velhas e degradadas, propriedade das Câmaras Municipais sem dinheiro para fazerem obras, já poucos verdadeiros professores tiverem. Não se queixarão da qualidade de ensino, porque o seu nível de exigência será tão baixo quanto as qualificações que adquiriram na Escola onde todos passam, mas virão fazer queixa do colega do filhinho que o agrediu depois de semanas a ser enxolhado no recreio ou do professor que pôs o filho fora da sala porque foi insultado. 
Então virá outro profissional da educação e depois outro e outro e outro ainda, com intervalos de uma semana sem aulas, para se cumprir as regras de seleção dos candidatos. Nessa altura, todos seremos mais felizes, haverá uma António Costa qualquer a proclamar que a Educação deu um salto de qualidade, com a vantagem de tal ter sido feito sem professores. A nova designação será “técnicos de educação”. Algo genérico, porque sai mais barato e faz o mesmo trabalho indiferenciado.

domingo, 12 de janeiro de 2020

O DIA EM QUE O DAKAR PERDEU O ENCANTO

«O que fazemos aqui? Para quê?», pergunta o múltiplo vencedor do Dakar Stephane Peterhansel, também ele consternado pela trágica morte do motociclista português Paulo Gonçalves.

Todavia ele sabe perfeitamente a resposta. Ele, Paulo Gonçalves e todos aqueles que participam no Dakar, em todos os Dakares, estão ali porque «só» conseguem viver, exercitando a arriscada arte de desafiar a morte. E isto acontece não porque eles são uns maluquinhos inconscientes, mas porque há paixões humanas que têm o risco permanente por parceiro.
E como muito bem alguns sabem, mais difícil do que fugir  ao destino é fintar uma paixão, sobretudo quando ela atrai mais do que desilude. 

Ser corredor de automóveis ou de motas é viver em união de facto com o risco absoluto e o Dakar é uma espécie de Himalaias desse absoluto, onde a vida é apenas um acessório de luxo.
Chegar ao fim do Dakar sempre foi uma espécie de primeira grande vitória, perante as múltiplas ratoeiras do percurso duro e imprevisível, que os pilotos tentavam ludibriar, quer a prova se disputasse em África, na América do Sul ou nas areias da Arábia. 
Hoje,o Dakar sugou mais uma vida, a do português Paulo Gonçalves. Uma pedra de gelo no ânimo lusitano, servida ao pequeno-almoço e que tornou ainda mais frio este domingo de janeiro. 

Uma tristeza profunda! Talvez Paulo Gonçalves não tivesse a noção de quanto era querido e amado pelos seus compatriotas, mas esta profunda tristeza que nos invade demonstra bem quanto o considerávamos. 
Tal como aconteceu com a Fórmula I, quando Ayrton Senna perdeu a vida em pista, hoje morreu, em mim, a paixão pura pelo Dakar. Qualquer vitória ou glória futura trarão sempre a dor e as lágrimas da morte de Paulo Gonçalves. As cicatrizes nunca se esquecem, apenas deixamos de falar delas.

Caro Peterhansel, ainda que ele fosse alguém que conhecesse os riscos, que o motociclismo e o Dakar fossem a sua paixão, e tenha partido a fazer aquilo que o apaixonava, tu sabes bem que é sempre difícil de engolir cada vez que acontece. Talvez porque viver é a suprema das paixões. 

Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

OS MÉDICOS LIGARAM O BOTÃO DE PÂNICO


       

     Médicos agredidos por utentes!
Era só o que nos faltava! Já não nos chegava a fuga de médicos e enfermeiros para o estrangeiro ou para o setor privado; a inoperância de uma ministra da saúde que pouco manda e um ministro das finanças autista, que gere a despesa da Saúde como se estivesse sentado numa mesa de póquer, agora temos esta estupidez coletiva de agredir médicos no ato da consulta.
         Por muito ponderosos que sejam os motivos, a agressão nunca será solução, antes pelo contrário. Um médico agredido é um médico receoso, revoltado, magoado. A hipótese de perdermos mais um profissional no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é real. Para além disso, há que contar com a justa indignação e solidariedade dos colegas de ofício, o que acabará por se refletir noutros utentes dos hospitais e centros de saúde do país.
Convém ainda considerar que estes intoleráveis atos de alguns utentes levarão ao obrigatório reforço da segurança nos hospitais. Mais segurança significa mais dinheiro gasto pelas administrações hospitalares, que poderia ser aplicado na contratação de mais clínicos e enfermeiros.
Penso que a população portuguesa não se apercebeu ainda do período delicado e decisivo em que o Serviço Nacional de Saúde se encontra. Atravessamos um período de «tempestade perfeita» em que à falta de investimento do governo nos últimos quatro/oito anos se junta a escassez de meios materiais e humanos nos hospitais, a falta de perspetivas de progressão profissional dentro do Estado e a crescente desconsideração  institucional e social, a que os profissionais de saúde têm sido votados.

Em qualquer sociedade equilibrada, todos precisamos uns dos outros, mas há alguns mais vulneráveis que outros; por isso não nos podemos dar ao luxo de bater nos médicos, simplesmente porque não nos passam a baixa médica a que julgamos ter direito ou não nos obedecem como se fossemos ditadores caprichosos.

Ao contrário do que aconteceu com os professores, os médicos têm mesmo para onde ir e até se pode dar o caso de passarmos a pagar (e bem) aquilo que agora temos quase de graça, porque os melhores médicos se recusaram a trabalhar em hospitais públicos, onde até a sua segurança é posta em causa.

Nota:  Pouco antes do Natal, quando Portugal foi fustigado por uma terrível intempérie, durante vários dias, um condutor radical resolveu experimentar a adrenalina do momento e tentar atravessar o rio Ferreira com o seu jipe. Obviamente a ousadia correu mal. Para o salvar, foi preciso mobilizar vinte e um bombeiros e onze viaturas. O custo da operação orçou em 5500 euros. A Câmara Municipal de Gondomar resolveu imputar 80% deste valor ao aventureiro. No meu entender, bem! Se o custo do aumento da segurança nos hospitais fosse logo imputado aos agressores de médicos e enfermeiros, possivelmente, havia muitos que encontravam o juízo antes de perderem a cabeça.