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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O PROFESSOR MULTIDISCIPLINAR OU O PRÍNCIPIO DA GRANDE REBALDARIA




Um professor de Francês a lecionar Português ou um professor de História a lecionar Geografia é só uma pequena amostra de como as «coisas» serão daqui para a frente na Escola Pública portuguesa. Todos os dados apontavam para isto e os próximos tempos apenas tornarão mais clara a ideologia governamental (mas não só) para a Educação em Portugal.
Falo em ideologia, mas o mais correto seria dizer que não há ideologia nenhuma. Numa Escola onde todos passarão de ano, qualquer um serve para ensinar qualquer coisa. Desde que ocupe as crianças e adolescentes durante 35 horas por semana e que no final do ano carimbe a sua transição, está tudo certo.
Se ensina bem ou mal, isso pouco interessa a quem governa, à maioria dos pais e à grande parte da sociedade. Por isso, se falta um professor de Francês, avança um de Alemão, que está mesmo à mão e precisa de umas horas para completar o horário; se já não há professor de Informática, a turma fica com o professor de Educação Visual, que até fez um workshop na área e sabe usar com alguma destreza vários programas informáticos; se o aluno não tem professor de Educação Física avança o professor de Matemática, que estava encostada na biblioteca , por falta de turma, e até gosta de Desporto.
Esqueçam lá isso de contratar novos professores, de renovar geracionalmente a classe, de dotar a escola de mais qualidade profissional e académica. Para quê, se os alunos precisam de saber cada vez menos para completarem ciclos de ensino?

Se os professores pensavam que a sua hora ia chegar com a falta de professores, por via da reforma de muitos, da desistência de alguns e do desinteresse das novas gerações de licenciados, podem tirar o cavalinho da chuva! Como qualquer um serve, as insuficiências de pessoal qualificado serão sempre colmatadas recorrendo a remendos. Não estará longe o tempo em que as Escolas contratarão, à semana ou ao mês,   qualquer licenciado inscrito no Centro de Emprego que se disponibilize para ganhar uns trocos numa escola perto, enquanto aguarda melhor oferta.
Este plano governamental tem grandes hipóteses de frutificar porque a generalidade dos encarregados de educação «não quer saber» do que se ensina ou como se ensina. Isso pode ser facilmente comprovado pelo modo despudorado com cobrem e apoiam à má educação dos filhos e até os seus pequenos delitos ou crimes, dentro das escolas, com o beneplácito de diretores, Associações de Pais, Ministério da Educação.

Aqueles pais, com pretensões a uma Educação com alguma qualidade para os filhos, matriculá-los-ão em colégios privados, com o Estado a suportar alguns custos, em benefícios fiscais. E lá será também o último reduto de quem tem alguma paixão pela profissão docente.
A maioria da população continuará alegre e contente a culpar os professores, mesmo quando a maioria das escolas velhas e degradadas, propriedade das Câmaras Municipais sem dinheiro para fazerem obras, já poucos verdadeiros professores tiverem. Não se queixarão da qualidade de ensino, porque o seu nível de exigência será tão baixo quanto as qualificações que adquiriram na Escola onde todos passam, mas virão fazer queixa do colega do filhinho que o agrediu depois de semanas a ser enxolhado no recreio ou do professor que pôs o filho fora da sala porque foi insultado. 
Então virá outro profissional da educação e depois outro e outro e outro ainda, com intervalos de uma semana sem aulas, para se cumprir as regras de seleção dos candidatos. Nessa altura, todos seremos mais felizes, haverá uma António Costa qualquer a proclamar que a Educação deu um salto de qualidade, com a vantagem de tal ter sido feito sem professores. A nova designação será “técnicos de educação”. Algo genérico, porque sai mais barato e faz o mesmo trabalho indiferenciado.

6 comentários:

  1. Boa tarde, sou mãe de dois e fui professora de matemática, há precisamente 30 anos, numa altura em que não era necessário ser licenciado em matemática via de ensino, até porque a minha formação é em gestão.... Afinal o que diz que está a acontecer nas escolas não é de agora.
    Eu própria, enquanto aluna recordo-me que a minha professora de português, era também de francês.
    Os meus filhos estão no privado, e o professor de história do mais velho, é agora professor do de geografia do mais novo e, repito estão no privado.
    Generalizar quanto ao pouco interesse dos encarregados de educação, parece-me perigoso, até porque os professores na sua grande maioria são pais, será que esses são pais perfeitos e os outros não?
    Tenho a dizer que só longo da vida tive excelentes professores, mas também tive péssimos professores.... Os meus filhos também já experimentaram dos dois tipos.
    O que acho interessante, é que a classe docente veja os pais como inimigos e ache que na sua classe são todos excelentes....

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    1. Em prmeiro lugar, aprecio e muito o conttaditório e a sua opinião é tão vállida quanto a minha. No entanto, permita-me rebater alguns pontos:
      - o que está em causa não é que um professor de português /francês, que normalmente dá francês, passe agora a dar português; mas sim, um professor de línguas, por exemplo, de inglês/alemão possa lecionar português, de qualquer ano desde o 7.º ano ao 12.ºano. Acha que um aluno de 12.ºano, que passe a ter um destes professsores, fica tão bem preparado como aquele que tem um professor que dá 12.ºano de português há vários anos? Agora, aplique este exemplo a Matemática, História, Biologia...
      Quanto ao facto de supostamente os professores verem os pais como inimigos, isso não corresponde à verdade! Mas é um facto que têm aumentado as agressões gratuitas de encarregados de educação a professores tal como aumentou os desrespeito pelos professores nas escolas sem que os pais e associações de pais façam algo para contrariar a situação. É verdade que os professores também são pais, mas representam menos de 1% dos encarregados de educação, portanto a sua ação não tem significado.
      De qualquer maneira, muito obrigado pelo seu comentário, que gostaria que tivesse sido assinado, mas o anonimato é uma opção que lhe assite!

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  2. Afinal, não sou só eu a ver desta maneira a atual situação no ensino básico e secundário em Portugal:
    A piorar ao longo dos anos neste século, especialmente quando o PS está no Governo

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  3. Meus senhor@s à cerca de 6 anos a minha professora de fisiologia no ensino superior , nunca soube nada do assunto até o ano anterior, quando leu o livro correspondente, pois é uma professora de enzimologia (isto para dizer que é algo que acontece não só no ensino obrigatório). Mas não é que foi uma profissional e conseguiu leccionar a matéria de forma clara, conseguiu avaliar os seus alunos e fazer-nos pensar.

    Agora peço um exercício, cada professor pegue em 20 a 30 alunos antigos que sentiram que foram bem preparados e que passaram numa altura em que o ensino seria exigente e lhes façam 10 perguntas acerca da matéria que lecciona. Quantos acham que ainda vão responder acertadamente a mais de metade?

    As aulas mais do que para aprender matéria deveriam servir para aprender a questionar, a pensar, a argumentar, a criar, a perceber o porquê das coisas.. que nunca foram o grande objectivo de uma Escola que o que se propõe é a fazer uma checklist do que o aluno deve saber naquela hora e meia que faz o teste. Não digo que isto seja culpa dos professores, também não digo que as novas ideias sejam as mais corretas. Mas acho que este conservadorismo do corpo docente também não faz nada bem ao sistema.

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  4. O professor está obsoleto. A tecnologia está sempre a evoluir. Já nem o Prof. Doutor Google tem a procura que tinha, tal como a Mestra Wikipedia é já considerada prolixa. Agora é só Whatsapp, sem doc nem Buggs Bunny, instatretas e tweet-tweets para analfabetos. Preparemo-nos para o maravilhoso futuro, onde as paredes interiores da escola serão demolidas dando lugar a um enorme plano aberto que não desperdiça preciosa rede wi-fi. Sem turmas, anos de escolaridade, avaliação formal e muito menos professor. Para cada 200 bastam um auxiliar e um segurança, para o que der e vier. Lanche às dez, almoço às treze, charro às catorze, às dezoito bazar. Em doze anos, precedidos de três de pré-escolar, dando todos os apoios considerados necessários, atingirão a aprendizagem essencial: assinar.
    Graças a Deus que a Parque Escolar está até às orelhas, se não ainda aparecia por aí um Sousa idiota qualquer a convencer um Rodrigues banana a implementar o admirável futuro.

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