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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

OS MÉDICOS LIGARAM O BOTÃO DE PÂNICO


       

     Médicos agredidos por utentes!
Era só o que nos faltava! Já não nos chegava a fuga de médicos e enfermeiros para o estrangeiro ou para o setor privado; a inoperância de uma ministra da saúde que pouco manda e um ministro das finanças autista, que gere a despesa da Saúde como se estivesse sentado numa mesa de póquer, agora temos esta estupidez coletiva de agredir médicos no ato da consulta.
         Por muito ponderosos que sejam os motivos, a agressão nunca será solução, antes pelo contrário. Um médico agredido é um médico receoso, revoltado, magoado. A hipótese de perdermos mais um profissional no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é real. Para além disso, há que contar com a justa indignação e solidariedade dos colegas de ofício, o que acabará por se refletir noutros utentes dos hospitais e centros de saúde do país.
Convém ainda considerar que estes intoleráveis atos de alguns utentes levarão ao obrigatório reforço da segurança nos hospitais. Mais segurança significa mais dinheiro gasto pelas administrações hospitalares, que poderia ser aplicado na contratação de mais clínicos e enfermeiros.
Penso que a população portuguesa não se apercebeu ainda do período delicado e decisivo em que o Serviço Nacional de Saúde se encontra. Atravessamos um período de «tempestade perfeita» em que à falta de investimento do governo nos últimos quatro/oito anos se junta a escassez de meios materiais e humanos nos hospitais, a falta de perspetivas de progressão profissional dentro do Estado e a crescente desconsideração  institucional e social, a que os profissionais de saúde têm sido votados.

Em qualquer sociedade equilibrada, todos precisamos uns dos outros, mas há alguns mais vulneráveis que outros; por isso não nos podemos dar ao luxo de bater nos médicos, simplesmente porque não nos passam a baixa médica a que julgamos ter direito ou não nos obedecem como se fossemos ditadores caprichosos.

Ao contrário do que aconteceu com os professores, os médicos têm mesmo para onde ir e até se pode dar o caso de passarmos a pagar (e bem) aquilo que agora temos quase de graça, porque os melhores médicos se recusaram a trabalhar em hospitais públicos, onde até a sua segurança é posta em causa.

Nota:  Pouco antes do Natal, quando Portugal foi fustigado por uma terrível intempérie, durante vários dias, um condutor radical resolveu experimentar a adrenalina do momento e tentar atravessar o rio Ferreira com o seu jipe. Obviamente a ousadia correu mal. Para o salvar, foi preciso mobilizar vinte e um bombeiros e onze viaturas. O custo da operação orçou em 5500 euros. A Câmara Municipal de Gondomar resolveu imputar 80% deste valor ao aventureiro. No meu entender, bem! Se o custo do aumento da segurança nos hospitais fosse logo imputado aos agressores de médicos e enfermeiros, possivelmente, havia muitos que encontravam o juízo antes de perderem a cabeça.

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