Médicos agredidos por utentes!
Era só
o que nos faltava! Já não nos chegava a fuga de médicos e enfermeiros para o estrangeiro
ou para o setor privado; a inoperância de uma ministra da saúde que pouco manda
e um ministro das finanças autista, que gere a despesa da Saúde como se
estivesse sentado numa mesa de póquer, agora temos esta estupidez coletiva de
agredir médicos no ato da consulta.
Por muito ponderosos que sejam os
motivos, a agressão nunca será solução, antes pelo contrário. Um médico agredido
é um médico receoso, revoltado, magoado. A hipótese de perdermos mais um
profissional no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é real. Para além disso, há que
contar com a justa indignação e solidariedade dos colegas de ofício, o que
acabará por se refletir noutros utentes dos hospitais e centros de saúde do país.
Convém
ainda considerar que estes intoleráveis atos de alguns utentes levarão ao
obrigatório reforço da segurança nos hospitais. Mais segurança significa mais
dinheiro gasto pelas administrações hospitalares, que poderia ser aplicado na
contratação de mais clínicos e enfermeiros.
Penso
que a população portuguesa não se apercebeu ainda do período delicado e
decisivo em que o Serviço Nacional de Saúde se encontra. Atravessamos um
período de «tempestade perfeita» em que à falta de investimento do governo nos
últimos quatro/oito anos se junta a escassez de meios materiais e humanos nos
hospitais, a falta de perspetivas de progressão profissional dentro do Estado e
a crescente desconsideração
institucional e social, a que os profissionais de saúde têm sido
votados.
Em qualquer
sociedade equilibrada, todos precisamos uns dos outros, mas há alguns mais vulneráveis
que outros; por isso não nos podemos dar ao luxo de bater nos médicos, simplesmente
porque não nos passam a baixa médica a que julgamos ter direito ou não nos
obedecem como se fossemos ditadores caprichosos.
Ao contrário
do que aconteceu com os professores, os médicos têm mesmo para onde ir e até se
pode dar o caso de passarmos a pagar (e bem) aquilo que agora temos quase de
graça, porque os melhores médicos se recusaram a trabalhar em hospitais
públicos, onde até a sua segurança é posta em causa.
Nota: Pouco antes do Natal, quando Portugal foi
fustigado por uma terrível intempérie, durante vários dias, um condutor radical
resolveu experimentar a adrenalina do momento e tentar atravessar o rio
Ferreira com o seu jipe. Obviamente a ousadia correu mal. Para o salvar, foi
preciso mobilizar vinte e um bombeiros e onze viaturas. O custo da operação orçou
em 5500 euros. A Câmara Municipal de Gondomar resolveu imputar 80% deste valor
ao aventureiro. No meu entender, bem! Se o custo do aumento da segurança nos
hospitais fosse logo imputado aos agressores de médicos e enfermeiros,
possivelmente, havia muitos que encontravam o juízo antes de perderem a cabeça.
Castigar exemplarmente quem tais atos prática.
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