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terça-feira, 30 de julho de 2019

MULHER DO EMIR DO DUBAI PEDE PROTEÇÃO A INGLATERRA CONTRA CASAMENTO FORÇADO



Segundo a imprensa, a princesa Haya, sexta mulher do emir do Dubai pediu esta terça-feira ao Supremo Tribunal de Justiça inglês para a colocar sob proteção contra um casamento forçado. 

Numa sessão em que só a imprensa britânica pôde estar presente, a princesa Haya, de 45 anos, pediu para ser colocada sob proteção contra violência conjugal e reivindicou a custódia dos seus dois filhos. 

Além de filha rei Hussein da Jordânia, Haya é a sexta mulher do vice-Presidente dos Emirados Árabes Unidos e emir do Dubai Mohammed bin Rachid al-Maktoum, de 70 anos, ou seja, uma mulher poderosa no mundo árabe. Mesmo assim teve necessidade de fugir e pedir exílio  a Inglaterra, para continuar a viver. 

No final do mês passado, Haya fugiu do Dubai para o Reino Unido, pensando-se na altura que o seu marido suspeitava de um caso extraconjugal, por parte da princesa, no entanto, as notícias de hoje parecem apontar noutra direção. 

Segundo escreve o prestigiado jornal britânico The Guardian, a princesa Haya e os dois filhos menores - Jalila de 11 anos e Zayed de sete - poderão estar sob proteção da família real britânica, pois existem laços de amizade entre ambas as famílias, além de Haya ter estudado filosofia, política e economia, em Inglaterra Oxford), durante a sua juventude. 

A gota de água que fez transbordar o copo de Haya parece ter sido o regresso forçado ao Dubai da sua filha Latifa. Latifa tinha fugido para a Índia, mas depois de descoberta foi obrigada a regressar ao emirado, sendo severamente punida pelo marido, que a aprisionou. Numa primeiro momento, Haya tomou o partido do marido da filha enquanto os defensores dos direitos humanos diziam que a rapariga tinha sido sequestrada. Mais tarde, Haya terá tido novas informações sobre o que se passou, e percebeu que também ela estaria em perigo e resolveu fugir.

O marido de Haya, um septuagenário com 23 filhos, tem no seu curriculum vários casos de aparente terror psicológico sobre mulheres da sua família. Além da esposa que teve necessidade de fugir para a Europa e da filha Latifa (que fugiu para a Índia), já outra filha tinha tentado escapar das garras do pai em 2000, mas a fuga durou pouco tempo, pois,  segundo Latifa, a sua irmã foi apanhada, drogada e recuperada pelo emir, que a fez regressar ao Dubai como prisioneira.

Estamos perante um padrão comportamental de um emir que despreza a Mulher enquanto ser humano. Não se pode falar em falta de cultura, instrução, mas de um desrespeito absoluto pela Mulher. O problema não é apenas daquele emir, mas da cultura social que ele representa. 

Todas as culturas têm o direito à existência e à afirmação num determinado contexto, mas não podemos admitir que qualquer cultura aprisione o essencial da condição humana que é a dignidade. 


Após a fuga da princesa, Mohammed escreveu um texto, que publicou na sua página do Instagram, acusando uma mulher que não identificou de traição, referindo que pouco se importa que viva ou morra. É  muito provável que o emir do Dubai se esteja a referir a Haya. É entendível o seu desencanto, mas não o desprezo pela vida da sua esposa. As suas palavras são pouco avisadas, pois podem ser entendidas como um livre trânsito para quem a queira assassinar. O emir Mohammed não é apenas um árabe magoado com a sua esposa, ele representa um povo e uma cultura. 

Era bom que quem negoceia com o Dubai fizesse perceber ao emir que a dignidade de um mulher é também a dignidade de um homem. E um homem digno não negoceia como um homem indigno sem se tornar também ele indigno.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

NAS GARRAS DO PLÁSTICO, DEFENDIDO PELO HUMOR DE UM LÁPIS

AGIM SULAJ é um artista albanês, prestes a entrar no clube dos sexagenários, que dedicou toda a sua vida ao cartoon. 
O seu talento artístico começou a expressar-se na revista político-satírica «Hostenis», mas rapidamente os seus desenhos atravessaram fronteiras e conquistaram a admiração da crítica italiana, grega, turma, francesa, belga e inglesa, como o atestam mais de oitenta prémios arrebatados, em diversas cidades europeias, de que o último exemplo foi o Porto Cartoon World Festival, em 2018.


Agim Sulaj sempre colocou o foco nos problemas sociais e políticos do seu tempo, destacando-se, ultimamente, pelo modo sarcástico com que retratou o problema dos imigrantes no mediterrâneo e a ameaça plástica que paira sobre o planeta Terra.
Os desenhos do albanês veiculam quase sempre uma mensagem forte e clara, onde é possível notar uma dose acentuada de humor negro. 
Os temas de Agim são causas nobres da Humanidade: liberdade, fome, guerra, imigração, poluição, refugiados e uma Europa em crise.

Remendada ou com estrelas, a Europa constitui uma preocupação dominante na sua obra. Com sínteses expressivas e plasticamente apelativas, Agim Sulaj analisa os dramas europeus, obrigando-nos a refletir sobe eles. 

A mala é outro elemento fundamental nos seus desenhos. A mala do dinheiro, a da corrupção, dos acordos secretos e sonegados ao conhecimento público. Mas também a mala de cartão, velha, frágil e remendada, com que os imigrantes fogem da guerra em busca da terra prometida, que não é mais do que um terra sem guerra. Ela é uma das raízes mais profundas do problema. 

Com Brueghel como referência ("Parábola dos Cegos"), revela-nos uma paleta que é um buraco sem fundo. A metáfora de Brueghel alarga-se aos dias de hoje, evidenciando uma humanidade a caminhar para o precipício, se teimar em seguir cegamente os caminhos dos outros... "loucos", como Donald Trump.


Esta conexão com Brueghel aproxima o cartunista dos pintores, revelando aquilo que Agim não deixa de ser - um pintor inquieto da realidade, na linha de outros grandes artistas que se interrogam sobre o rumo da Humanidade.




Quem quiser usufruir da exposição dos mais recentes trabalhos deste artista albanês, vencedor da edição 2018 do Porto Cartoon World Festival, pode fazê-lo numa sala do terceiro piso do Centro Comercial Alameda, mesmo em frente ao Estádio do Dragão, na cidade do Porto. 


O cartoon cumpre uma função essencial nas democracias. O lápis do cartunista é como um bisturi atento aos desvios do poder, aos preconceitos, às discriminações. Atento às condições e perplexidades do ser humano.  O cartoon é um bom barómetro das sociedades. Faz-nos rir e ajuda-nos a pensar. 
Haverá melhor oxigénio?



sexta-feira, 26 de julho de 2019

FÁBRICA DE CHOCOLATE EM VIANA


Viana do Castelo é cada vez mais uma cidade jovem, com glamour e capaz de proporcionar a quem a visita uma combinação perfeita entre modernidade e tradição, onde o campo, a montanha e a praia se conjugam na perfeição.

Adoro passear pela cidade de bicicleta, deixar que a brisa do rio me acaricie a alma e me conduza entre o Gil Eanes e o Museu do Traje, com uma paragem obrigatória na pastelaria Natário (original).

Na última visita descobri um outro motivo para visitar a terra das Mordomas: a Fábrica do Chocolate.

O nome engana porque esta fábrica é nada mais nada menos que um hotel temático dedicado ao chocolate.
Quartos personalizados e um restaurante, onde se podem fazer refeições ligeiras, com uma carta totalmente consagrada à doce tentação feita a partir das sementes do cacau.

Para quem não se pretenda hospedar nesta icónica unidade hoteleira vianense, a Fábrica do Chocolate tem um museu interativo e moderno, onde qualquer um fica a par da história do chocolate.
Fiz, com a minha família, uma visita guiada surpreendente, onde aprendi imenso sobre a história e a origem do chocolate. Curiosidades espantosas, acompanhadas pela degustação de um pequeno e delicioso chocolate e por uma bebida desconhecida - o xcolati -, amarga e elaborada com água, canela, cacau em pó e piri-piri. Quanto mais espuma a bebida tiver melhor é a qualidade do cacau.

O imperador Montezuma bebia cinquenta copos (todos feitos em ouro) desta bebida por dia, pois acreditava que ela lhe trazia um acréscimo de energia. Conta a lenda que após cada tomada lançava fora os valiosos copos áureos, numa demonstração óbvia de poder, riqueza e desprezo pelo ouro.

Só no Séc. XIX se assiste ao grande boom da indústria chocolateira com o surgimento das mais famosas fábricas de chocolate: Nestlé, Lindt, Suchard, Cadbury, Cayer, Vianenese, Regina, Arcádia...
Obviamente, o chocolate conquistou o paladar de milhões de apreciadores no mundo inteiro, com os Suíços à frente de todos.
O mundo das artes consagrou-lhe livros, pinturas e filmes memoráveis, que só nos abrem mais o apetite para nova degustação, nova tentação.
Negro, de leite, branco ou com pimenta rosa. Cada um escolhe o seu ou deixa-se escolhe por ele.

Gabriel Vilas Boas

quinta-feira, 25 de julho de 2019

SE É PARA SER UM BIG MAC NÃO PRECISAMOS DE VIVER OITENTA ANOS


Quem percorre as ruas de Londres e Nova Iorque ou cruza alguns dos mais movimentados aeroportos europeus, sem nunca o ter feito antes, não pode deixar de ficar impressionado com o ritmo alucinante e alucinado daquela gente moderna, importante, invejável. 

No entanto, se pararmos um pouco para os observar, reparamos que nem eles sabem por que correm nem para onde correm. Mas correm!

Para o metro, para o bar, para o shopping, para a fila do fast food, para o teatro... Não observam o outro! Deixaram há muito de o fazer e por isso não os incomoda o mendigo a viver na porta de um qualquer edifício, por mais porco ou doente que aquele ser humano se apresente a seus olhos. 

Não tomam atenção ao Outro porque faz tempo que se olvidaram de si. Assumem-se como peças de uma engrenagem avassaladora que lhes chupa as forças diariamente até ao limite, numa espécie de escravatura consentida. 

Nunca vi tanta avidez em chegar ao fim!

Passamos pela beleza das pessoas, das coisas e dos lugares como quem come um Big Mac e bebe uma coca-cola - bovinamente!
Obviamente cansamo-nos depressa das pessoas, das paisagens e dos objetos por mais extraordinários, belos e diferenciados que eles sejam, porque nos sabem sempre ao mesmo. Temos o paladar estragado!

Precisamos desse extraordinário tempêro que se chama TEMPO.
Tempo para saborear a vida que transcorre no Outro; Tempo para deixá-lo Ser; Tempo para perceber a beleza que nos rodeia. 

Se é para ser um Big Mac, não precisamos de viver até aos oitenta anos.

GAVB

terça-feira, 23 de julho de 2019

A MINHA ALMA TEM PRESSA


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. 

Tenho muito mais passado do que futuro. 

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. 

Já não tenho tempo para lidar com a mediocridade. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir aqueles que admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. 

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. 

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. 

As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa. 

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de suas quedas e falhas, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. 

O essencial faz a vida valer a pena. 
E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade

terça-feira, 16 de julho de 2019

NOVO 007 É MULHER E É NEGRA


Bound continuará James Bound, que é como quem diz Daniel Craig, mas OO7 passará a ser uma mulher e negra, que é como quem diz Lashana Lynch, uma bonita atriz britânica, que, segundo Daily Mail, vestirá o papel de de agente 007, repartindo o protagonismo com Daniel Craig,

Esa cisão entre James Bound e 007 talvez seja um importante momento da longa saga de filmes sobre o espião mais conhecido do mundo, mas o que chama a atenção neste notícia do jornal inglês é o sexo e a cor da nova protagonista.

Uma cedência ao politicamente correto? Uma provocação social e política quando a América é governada pelo misógene e racista Donald Trump?
Sempre achei importante que a arte interpele a sociedade, que não fuja das questões políticas e ideológicas, assim como é bom que as sequelas dos filmes mais icónicos têm de saber reinventá-los e não repetir uma fórumla comercialmente segura. Todavia...
Parece-me esta escolha muito mais um golpe de mercado do que uma vontade de provocar consciências e afrontar políticas e políticos. 

O racismo e a misoginia não se combatem apenas nem essencialmente com escolhas simbólicas. Importante era o mundo do cinema saber criar e promover um filme cujo argumento, produção e representação soubessem expor toda a falta de humanidade, toda a boçalidade racista e xenófoba que grassa em muitos dirigentes políticos de topo, do dito mundo civilizado. 
Não é uma missão para um espião, mas para toda uma indústria como a cinematográfica.

GAVB


segunda-feira, 15 de julho de 2019

A CEGUEIRA DO ÓDIO

Começam a faltar palavras para descrever os constantes atropelos de Donald Trump às mais elementares regras da democracia e da civilização. Desta vez, o presidente dos Estados Unidos da América lançou-se num feroz ataque contra quatro congressistas progressistas democratas, que tiveram o desplante de criticar a sua política de imigração.

O alvo do ataque foram a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha, lhan Omar, nascida na Somalia, Rashida Talib, de origem palestiniana e Ayanna Pressley, afro-americana.


Sem tento nem papas na língua, como é seu hábito, Trump mandou-as "voltar para os seus países" e "resolveram os problemas desses locais corruptos e infestados de crime". 


O problema é que três delas nasceram nos EUA. Na cegueira do ódio contra todos aqueles que o criticam, Trump esqueceu-se de que as visadas do seu ataque abertamente racista são tão norte-americanas como ele  e que "resolver os problemas do seu país" é precisamente o que elas tentam fazer ao criticar as políticas xenófobas, discriminatórias e desrespeitadores dos mais básicos direitos humanos da sua administração.

Ricardo Ramos, jornalista, CM.

domingo, 7 de julho de 2019

AUTORRETRATO DO OUTRO


A exposição Tetsuya Ishida. Autorretrato Do Outro, patente no Palácio Velasquez, parque do Retiro, em Madrid, é a primeira mostra retrospectiva do artista japonês Tetsuya Ishida fora do Japão e reúne trabalhos seus desde 1996 (ano da sua licenciatura em Belas Artes, pela universidade Musashino, em Tóquio) até 2004, pouco antes da sua repentina morte em 2005. 
As suas pinturas, desenhos e esboços são um testemunho excecional do mal-estar e da alienação do ser humano contemporâneo dentro do capitalismo selvagem.
Artista de culto no Japão, Tetsuya converteu-se numa referência para a gerações mais jovens, tendo a sua obra sido apresentada na Europa, pela primeira vez, na 56.ª bienal de Veneza, em 2015.


O realismo cético e niilista de Ishida dá conta da «normalização» da precariedade e do consumo, que passaram a afetar todas as esferas da vida humana.
As personagens retratadas pelo artista nipónico são híbridas, máquinas antropomórficas, que encarnam o grau máximo do domínio das tecnologias assim como a subordinação sem limites a uma nova e inescapável forma de escravatura, que não distingue entre trabalho e consumo, alimentando a ansiedade dos corpos.

Ishida, através da sua amarga sátira social, despoja o milagre económico japonês pós-guerra de todo o idealismo. 
Para ele, esse (este?) é tão só o tempo em que a automatização robótica se intensificou em grande escala em todas as fábricas do Japão, os anos em que a força do trabalho se racionalizou segundo métodos industriais, em que o setor dos serviços desprezou as manufaturas e a taxa de desemprego atingiu números nunca antes vistos.  

Tetsuya Ishida faz parte da denominada "geração perdida" daqueles anos, que cresceu no meio de uma crise de valores que truncava as suas expectativas e a tornava cada vez mais cética. 

A obra deste artista japonês, que morreu prematuramente, alude a uma assassina aceleração dos tempos e das formas de consumo, as quais foram definindo novas dinâmicas de convivência e vinculação afetiva. 

A mostra de Ishida, em Madrid, faz-nos também refletir sobre as novas obsessões do Homem, que habita opressivamente espaços e tempos indistinguíveis, onde trabalho, consumo e ócio se confundem.

A uniformidade que atinge o ser humano moderno e para a qual Ishida quer chamar a nossa atenção está bem vincada no olhar sempre igual das figuras retratadas nos seus quadros. Rostos idênticos, expressões neutras que se replicam quadro após quadro, como reflexo espectacular do mesmo individuo em representação de muitos. 

Enquanto percorria a exposição, em Madrid, esse olhar vazio de humanidade também me incomodou, como se fosse uma ameaça presente e futura que não tenho a certeza de conseguir enjaular. 

A arte nem sempre encanta ou espanta; muitas vezes, ela dilacera, acusa e nos põe na antecâmara do fim, como se nos quisesse dar uma última hipótese de escrever outro final.
Gabriel Vilas Boas

quarta-feira, 3 de julho de 2019

NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL

Na sala de reunião de uma multinacional, o diretor, nervoso, fala com sua equipa de gestores... Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um ameaça: "Ninguém é insubstituível"!

A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião no meio do grande silêncio constrangedor.
Os gestores entreolham-se, alguns baixam a cabeça.
De repente, um braço levanta-se e o diretor prepara-se para triturar o atrevido:

- Alguma pergunta?
- Eu tenho!  E Beethoven?
- Como? -  Encara-o o diretor, confuso.
- O senhor disse que ninguém é insubstituível, mas... Quem substituiu Beethoven?
Silêncio…
O funcionário continuou então:
- Ouvi essa história por estes dias, contada por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso. Afinal, as empresas falam em descobrir talentos, mas no fundo, continuam pensando que os profissionais são peças dentro da organização e que, quando sai um, é só encontrar outro para colocar no seu lugar.
Então, eu pergunto: 

Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Elvis Presley? Paulo Autran? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Carlos Drummond de Andrade? Albert Einstein? Picasso? Salvador Dali? Mozart?

O rapaz fez uma pausa e continuou:
- Todos esses talentos que marcaram a História, fazendo o que gostam e o que sabem. E, portanto, mostraram que são sim, insubstituíveis.

Não está na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipa, em focar no brilho dos seus pontos fortes e não utilizar essa energia apenas para reparar seus erros ou deficiências?

Nova pausa e prosseguiu:

- Acredito que ninguém se lembra e nem quer saber se BEETHOVEN era SURDO, se PICASSO era INSTÁVEL, KENNEDY EGOCÊNTRICO, ELVIS PARANÓICO… 

O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos. Mas cabe aos líderes de uma organização mudar o olhar sobre a equipa e voltar seus esforços, em descobrir os PONTOS FORTES DE CADA MEMBRO. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.

Divagando o assunto, o rapaz continuava.

- Se um gerente ou coordenador, ainda está focado em 'melhorar as fraquezas' de sua equipa, corre o risco de ser aquele tipo de técnico de futebol, que não convocaria o Garrincha por ter as pernas tortas, ou Albert Einstein por ter notas baixas na escola, ou Beethoven por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria PERDIDO todos esses talentos.
Nunca me esqueço de um programa de televisão brasileiro em que o apresentador começou o programa mais ao mesmo deste modo: 
 "Estamos todos muito tristes com a 'partida' de nosso irmão Zacarias... e hoje, para substituí-lo, chamamos... Nimguém, pois nosso 'Zaca' é insubstituível!" 

O silêncio foi total! 

Cada um de nós é um talento único!
Pergunte à sua esposa, seus filhos e amigos se o substituiriam. Com toda certeza ninguém te substituirá, embora, por vezes, te façam acreditar que sim.