Há livros infantis que são divertidos, outros vão um passo além: são sublimes e os seus ensinamentos abrangem até os adultos. São livros que valem a pena ler, como as histórias de Jon Klassen, escritor e ilustrador canadiano.
“Quero o meu chapéu de volta” foi escolhido pelo New York Times Book Review como um dos dez melhores livros ilustrados do ano em que foi publicado, sendo um sucesso imediato. É um livro encantador e ao mesmo tempo sombrio, com uma narrativa subtil, cujos protagonistas, a princípio inexpressivos, de repente, revelam tudo o que está dentro deles, para que nos possamos identificar completamente com a suas vivências.
A história começa com um urso que perde o chapéu.
Como é lógico, o urso quer encontrar seu chapéu. Sem o chapéu, ele sente-se perdido e desesperado, por isso ele começa a procurá-lo.
Ele pergunta a cada um dos animais que encontra na floresta se eles o viram.
A raposa e o sapo não viram. A tartaruga não viu o chapéu, mas aceita a ajuda do urso para escalar uma rocha. A cobra refere que, uma vez, viu um chapéu azul e redondo, mas esse não era o chapéu que nosso amigo está à procura, pois ele é vermelho e pontudo. O tatu nem sabe o que é um chapéu.
Ninguém parece ter visto o seu chapéu.
Até a lebre, que a usa, diz a ele que não a viu. Ela nega categoricamente: “Não, por que é que me pergunta isso? Eu não vi chapéu nenhum por aí. Eu nunca ousaria roubar um chapéu. Para de me fazer perguntas!”
É então que Klassen nos dá o primeiro ensinamento do livro: quando estamos demasiado imbuídos no nosso mundo emocional, é como se tivéssemos vendas que nos impedissem de ver claramente à nossa volta. Deixando as emoções assumirem o comando, deixamos de pensar claramente e de aproveitar as oportunidades / soluções que estão bem à frente dos nossos olhos. É uma autêntica cegueira emocional.
A história continua.
A certa altura, já deprimido, o urso cai no chão e olha para o céu.
É então que ele dá rédea solta ao seu diálogo interior.
“Pobre chapéu, sinto tanto a sua falta”.
Nesse momento, ele começa a imaginar o quanto se sentirá mal se não encontrar o chapéu, se se deixar vencer pelo desespero e por pensamentos catastróficos, que o atiram cada vez mais para um poço de negatividade, situação que todos os adultos e até algumas mesmo crianças mais velhas irão identificar.
Passado algum tempo, aparece o cervo e pergunta-lhe como é o seu chapéu. Quando o urso começar a descrever o chapéu, o cervo recorda-se onde o viu, ou melhor, com quem o viu. É aí que o urso se levanta de um salto e volta a correr pelo bosque, até chegar à lebre.
Então, finalmente, ele recupera o chapéu.
Através desta história simples, Klassen encoraja-nos a refletir sobre as armadilhas emocionais e mentais que muitas vezes criamos a nós mesmos e que nos impedem de encontrar rapidamente a melhor solução.
in, Rincón de la Psicologia
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