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domingo, 27 de janeiro de 2019

PORTINARI EM PORTUGAL


«Portinari é organicamente um pintor e a pintura é apenas a sua linguagem. Os seus pincéis e coração saltam por cima do caixilho da tela e estão em constante ligação com tudo o que é povo, sofrimento, vida humana. Se pinta é porque não pode arranjar-se de outro modo, é porque é a sua maneira de lutar por um mundo melhor.»

Não há melhores palavras para descrever este manífico pintor brasileiro do que as do seu amigo Mário Dionísio. Candido Portinari (1903-1962) é um dos artistas estrangeiros do século XX mais estudados e colecionados em Portugal. Eu descobri-o, numa tarde soalheira de inverno, no Museu do Neo-realismo, em Vila Franca de Xira. 

A fama de Portinari, enquanto um dos príncipes do neo-realismo, vem dos excelentes murais que executou e sobretudo da obra Café. Foi exatamente esta pintura que dsencadeou a receção de Portinari, em Portugal, reproduzida com destaque na revista Sol Nascente, e pouco tempo depois observada no pavilhão do Brasil, inserido na Exposição do Mundo Português, em 1940.

Chorinho, 1942
Já nessa altura Portinari era uma referência cultural para a juventude intelectual portuguesa, de tal modo que José Augusto França, interrogado sobre o que faziam os oposionistas de esquerda na exposição do Mundo Português, organizada pelo Estado Novo de Salazar, respondeu
   «Viemos ver o cavalo de Tróia»     numa alusão a Candido Portinari.

Quando em 1946, Candido Portinari foi convidado para expôr em Paris, fez questão de parar em Lisboa, para conhecer Mário Dionísio. Os dois admiravam-se, mas apenas nessa altura tiveram a oportunidade de se conhecer. A partir de então a presença do pintor brasileiro tornou-se uma constante em Portugal, através da publicação de diversos artigos sobre a sua obra, considerada paradigmática da arte realista e social, pois Portinari dotava de expressão política, social e artística o «povo trabalhador», assumindo um genuíno interesse humano pelas suas vidas difíceis.  

Carnaval (Cavalo Marinho), 1942
A exposição patente no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, não têm um número significativo de quadros do pintor, mas lá podemos encontrar o mais emblemático de todos - Café - gentilmente cedido pelo Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro. 
Também me impressionaram outras duas enormes telas: Chorinho, 1942, cedida pelo pelo Museu de Arte Contemporânea (museu do Chiado) e Carnaval, 1942, que pertence ao acervo do Museu Nacional Soares dos Reis, onde é possível detetar claramente a influência que Picasso exerceu no pintor brasileiro. Noutro quadro, Espantalho,nota-se  nitidamente a preponderância do estilo de Salvador Dalí.

Portinari é um dos melhores representantes do ideário neo-realista.Descobri-lo faz bem aos olhos e sobretudo à alma.

P.S. Quem quiser aprofundar o seu conhecimento sobre este pintor deve conhecer aceder ao Projeto Portinari



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