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quarta-feira, 15 de novembro de 2017

TECNOFORMA: HÁ COISAS EM QUE OS POLÍTICOS NUNCA PERDEM A TÉCNICA NEM A FORMA


Já todos estranhávamos o silêncio do PSD perante tão grande aselhice do governo socialista, mas agora começa a perceber-se a razão. Bruxelas "descascou" a Justiça portuguesa, referindo que aquela absolvição de Passos Coelho e Miguel Relvas, no caso Tecnoforma só foi possível porque eles governavam o país. Afinal, havia indícios de crime.

Os portugueses já suspeitavam. O mesmo tinha acontecido com Sócrates (a uma escala diferente, claro está), quando se suspeitou que tinha recebido uns trocados para aprovar o Freeport, no tempo em que era Ministro do Ambiente. 
Se se recordam, quando o caso foi noticiado pela comunicação social portuguesa e inglesa, a magistrada do Ministério Público, Joana Marques Vidal, mandou arquivar o caso, porque Sócrates era o Dono Disto Tudo ou, pelo menos, pensava que era.

Quando Sócrates foi preso, Passos Coelho disse que “Não somos todos iguais”, o que é verdade, porque a Tecnoforma, ao lado da operação Marquês, parece uma brincadeira de crianças.

Voltando à Tecnoforma, percebemos que afinal os políticos não são todos iguais, mas tentam... e muito.
Repetindo a retórica inicial de Sócrates, também Relvas não se lembra de ter pertencido à Tecnoforma, como Passos Coelho não se lembrava se recebia ou não cinco mil euros mensais da mesma Tecnoforma (também o que é isso de cinco mil euros a mais ou a menos na conta corrente do ex-primeiro-ministro) nem Marques Mendes nos quer esclarecer sobre esta questão, apesar de também ele ter andado por lá. Prefere adivinhar o futuro dos outros. Feitios!


Quem anda com mau feitio é o gabinete de comunicação do governo socialista, que teve de lançar mão desta granada de caserna, depois de tanto ministro meter água, de tantas más decisões de António Costa, de tanta greve de gente com razão.
De facto há coisas em que a classe política não dececiona nem perde a forma ou a técnica: casos de corrupção, lixo varrido para debaixo do tapete, incompetência atroz para gerir a coisa pública.


Post Scriptum: para quem não está familiarizado com as acusações de Bruxelas à Tecnoforma, elas resumem-se da seguinte maneira: parece que o dinheiro que devia ser gasto em formação foi usado para comprar quadros, colchões e frigoríficos. 
No fundo, no fundo a combinação da escola Valentim Loureiro com a de Oliveira e Costa no BPN.

GAVB

terça-feira, 14 de novembro de 2017

O QUE PENSAM OS PARTIDOS DA OPOSIÇÃO DA GREVE DOS PROFESSORES?


Isto de dizer mal do Governo é muito bonito, mas quando chega o momento de marcarem de forma clara a sua posição sobre um assunto melindroso, os partidos da oposição “fogem sempre com o rabo à seringa”.
Quando a Direita política governava Portugal, o Bloco de Esquerda e o PCP sempre estiveram ao lado dos professores e gritavam a plena pulmões que o governo tinha de corrigir as graves injustiças cometidas contra a classe docente. Hoje, parceiros de geringonça estão calados como ratos e nem uma palavra de solidariedade nem uma pressão séria sobre o governo de Costa. 
Afinal são eles ou não são eles que asseguram a passagem do orçamento? São! Por isso, se este Orçamento de Estado, que retira 180 milhões à Educação e maltrata outra vez os professores, passar eles são os primeiros culpados. Serão, para mim, a maior desilusão e Mário Nogueira deve tirar daí uma de duas ilações: ou abandona o PCP ou a Fenprof.

Quanto ao PSD e ao CDS também devemos assinalar a sua hipocrisia, já que fizeram uma barulheira desgraçada quando o Governo acabou com o dinheiro para muitos colégios privados e hoje nem uma palavrinha, por mais hipócrita e oportunista que fosse, para este roubo, que o governo do PS se prepara para fazer aos professores.

Amanhã, os professores partem revoltados e desesperançados para mais uma greve. Estamos cansados de reclamar direitos básicos, igualdade, cumprimento de leis. Estamos fartos de gente hipócrita, de gente que não sabe como se faz, de perder e perder. Estamos cansados de formar gerações e gerações de médicos, engenheiros, economistas, juristas e muitos oportunistas, que década após década se aproveitam do nosso amor à profissão para singrar e desprezar quem os ajudou a evoluir.
Apesar de tudo, ainda esperamos que no meio de tanta desilusão haja alguém com um pingo de vergonha na cara, com sentido de ética e justiça e perceba que BASTA de tanta indignidade.

GAVB

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

INFELIZMENTE, SÓ SERÁ NOTÍCIA O POLÍCIA AGRESSOR, NUNCA O POLÍCIA AGREDIDO


Hoje, um jornal de grande tiragem, em Portugal, referia um dado estatístico assombroso: só nos últimos meses mais de 380 polícias foram agredidos, no exercício das suas funções.
A notícia dá conta de todo o sentimento de injustiça que muitos polícias sentem, quando os inúmeros casos em que são vítimas não são tratados, pela comunicação social, com o mesmo destaque e severidade do que os desmandos de alguns colegas. É injusto, mas sempre será assim.


Um polícia lida com ladrões, marginais, agressores violentos e perigosos. É previsível que quase todos os dias sejam objeto de ciladas, provocações, ameaças, agressões físicas e psicológicas. É verdade que são homens e mulheres como qualquer outra pessoa, mas não podem reagir como qualquer outra pessoa. Uma parte importantíssima do seu trabalho é saber gerir a raiva, o sentimento de injustiça, a distorção dos factos que os criminosos e seus familiares sempre farão das suas atuações. Mesmo em situações adversas ou de grande melindre têm SEMPRE de dar uma resposta exemplar.


Eles são a garantia física e armada do Estado de Direito. É por isso que não podem ter falhas ou quando as têm elas tenham de ser punidas. 
Ainda que os outros tenho batido 100 vezes e eles apenas uma, ainda que os criminosos sejam absolvidos e eles punidos, é imperioso que percebam que não podemos ter complacência com as suas falhas. Temos de ser duros com eles quando erram, porque isso é a garantia que vivemos realmente num Estado de Direito. Mas também temos o dever de os respeitar, de confiar na sua palavra, de estar ao lado deles, no essencial. E o essencial é que, em princípio, eles representam o Bem, a Justiça, a Ordem Pública. Também por isso convém não confundir a árvore com a floresta, ainda que uma árvore nos tenha acabado de multar porque estava maldisposta.

GAVB

domingo, 12 de novembro de 2017

JANTAR COM A MORTE


Se os tipos da Web Summit ainda não sabiam, ficaram a saber: em Portugal, as aparências são para se respeitar. Os portugueses adoram as aparências e não gostam que lhes toquem nessa espécie de sagrado. Pode fazer-se e dizer-se quase tudo, mas é absolutamente inconveniente que se saiba.

A aparência é a manta preferida dos portugueses. Ela cobre a ignorância, dá respeitabilidade a quem não a tem, sossega a população, permite que negócios ilegítimos se concretizem dentro da lei, faz-nos acreditar que somos bem melhores do que aquilo que somos. 
A aparência portuguesa traduz-se bem naquele adágio brasileiro “me engana que eu gosto”.

Nas últimas horas, o país mediático lá descobriu que se faziam jantares de gala no Panteão Nacional. Pior: eles não eram proibidos, pois até havia lei para os regulamentar e, sacrilégio dos sacrilégios, o jantar de encerramento da Web Summit só fora o último.
O primeiro-ministro logo se disse chocado. Ninguém sabe se com a autorização que o seu Ministro da Cultura tacitamente deu para estes jantares entre memórias fúnebres do Camões, Vasco da Gama e Nuno Álvares Pereira, se com a lei que outros fizeram e ele aceitou, se com a sua própria ignorância sobre as leis e regulamentos do país.

Concorrendo com o estado de choque de António Costa para globo de ouro do fingimento político está a indignação do maior partido da oposição e criador da lei que permite estas ceias de gala, na companhia da morte.
Entretanto, o povo, que supostamente deve estar indignado, revoltado, chocado leva com outra “revelação”: «Aqui não há corpos! Há sempre essa confusão. No átrio central do Panteão Nacional encontram-se os cenotáfios, que são memoriais fúnebres, do Infante Dom Henrique, de Nuno Alvares Pereira, Camões, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama. O que aconteceu na sexta-feira foi um jantar, entre outros que se realizam aqui, no corpo central do monumento, de acordo com o regulamento que está em vigor.», disse a Diretora do Panteão Nacional, Isabel Melo.

Ah bom, no Panteão não estão os restos mortais dos nossos maiores, só uma espécie de memorial. Isso deixa-me mais descansado, mas também algo desconsolado. Sendo assim, acho que até podemos subir de nível e passar de jantares de gala a um concurso da Elite Model Look. Acho que a memória do Camões apreciaria. Por outro lado, nem é preciso estar preocupado em atirar as culpas para o governo anterior, porque a culpa já tem dono: o Regulamento, obviamente.

Enquanto aguardamos nova bronca do governo ou da oposição, era bom que quem nos governa passasse uma vista de olhos pelas leis, decretos-lei e regulamentos que aprovou nos últimos anos, porque já não há paciência para tanta indignação, revolta e estados de choque com aquilo que eles próprios fizeram. Se não têm mais nada para nos dizer, vão jantar com a morte e depois contem como foi.

GAVB

sábado, 11 de novembro de 2017

UM MINISTRO RADICALMENTE PARADO E RADICALMENTE INÚTIL


O melhor soundbite do Ministro da Educação, nos últimos meses foi que iria lutar radicalmente pelos direitos professores. Disse-o em passo de fugida a Mário Nogueira, há menos de duas semanas.
Aquele “radicalmente” foi um truque comunicacional perfeito, porque o homem lá foi à sua vida e não teve de ouvir o discurso inflamado que Mário Nogueira trazia preparado.

Como soundbite que era, cumpriu e seu dever de ocasião e esfumou-se. Hoje, o homem que ia lutar radicalmente pelos direitos dos professores foge deles, entra pela garagem do convento de São Francisco, em Coimbra, para não ter de enfrentar os protestos daqueles que diz proteger e solicita que a iniciativa sobre educação, onde acabou por participar, não tivesse jornalistas. Quem mais o poderia ter feito? Os organizadores? Claro, que não!
 Tiago Brandão Rodrigues é um ministro medroso, acossado, que foge daqueles que diz querer proteger, porque, na verdade, perdeu a luta dentro do Conselho de Ministros, há semanas, quando o executivo de Costa discutiu o Orçamento de Estado para 2018.

Foi aí que o nosso radical defensor perdeu em toda a linha e agora não tem coragem de enfrentar aqueles a quem deixou mal. Para que serve um Ministro da Educação que foge dos professores, como se fosse perseguido por qualquer má consciência? Para queremos um ministro que não foi capaz de impor a progressão real dos professores no Orçamento de Estado?

Hoje é claro que Tiago Brandão Rodrigues não tinha bagagem política, pessoal e técnica para ser Ministro da Educação. O pior é que, passados mais de vinte meses, não melhorou em nada. Está pronto a seguir o caminho da Constança e ser sepultado no negro vaso do esquecimento.
Daqui a dias, os professores organizarão uma importante jornada de luta pela efetiva reposição daquilo a que têm direito.
A razão dos professores é total e já dura há dez anos. A injustiça será ainda maior, porque veremos outras classes profissionais progredir na carreira, subir salários, melhorar de vida.

Mário Nogueira terá novamente as costas quentes com mais de cinquenta mil professores nas ruas e uma brutal máquina chamada Razão. Espero que saiba o que fazer com ela e com a força dos professores. Não me interessa nada que digam que estivemos mais de setenta mil nas ruas, que temos toda a razão, mas… Por mim podem ficar com todos os “mas”, que os cedo de bom grado.
A estratégia do Governo já começa a ser definida – “Mais de 46 mil professores vão progredir na carreira", dixit o inefável António Costa.
Espero que o líder da Fenprof tenha estudado bem a maneira de derrotar este tipo de argumentação, demonstrando a justiça da luta dos professores, pela correta valorização da suas carreiras.

GAVB 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

PADRES QUE ASSUMEM A PATERNIDADE DEVEM CONTINUAR A SER PADRES?


A questão é melindrosa para a Igreja, que se esforça a cada dia que passa para passar uma imagem de abertura mental a todos as questões que anteriormente eram autênticos dogmas de fé, apesar de serem apenas condutas censuráveis.


Sempre que um padre assume a paternidade de um filho e manifesta o desejo de continuar sacerdote, o dilema coloca-se às cúpulas da Igreja Católica, sobretudo porque o Papa se chama Francisco e quando era bispo de Buenos Aires defendia que os padres deviam assumir a paternidade dos seus filhos, deixando implícita a ideia que deviam continuar a exercer o sacerdócio se assim o entendessem.
A verdade é que desde que chegou a Papa, o argentino não alterou a lei do celibato obrigatório para os padres, mas tem deixado que alguns continuem em funções. Cada caso é um caso, mas a discrição do Vaticano no que diz respeito a este assunto mostra bem como ele é melindroso para todos.

Penso que já não se trata apenas de defender o celibato enquanto conceito abstrato, mas de perceber se aquele sacerdote estará em condições psicológicas, morais e sociais de assumir o seu duplo papel de pai e padre, sem nenhum tipo de constrangimento. Por outro lado há que ter em conta a opinião dos paroquianos, sobre o caso concreto. Se  aceitam o sacerdote e querem que ele continue, apesar da falha cometida ou se preferiam que ele resignasse. Também há que pensar no efeito que a manutenção em funções de um padre-pai terá junto de outros sacerdotes. Que sinal passam o bispo e o Papa a quem fez uma escolha difícil de vida e abdicou, com custo elevado, de uma vida conjugal?

É verdade que cada caso é um caso, mas na Igreja todos os caso são simbólicos e balizam atitudes futuras.
Na minha opinião a Igreja precisa de renovar comportamentos-padrão, para não andar sempre de adenda em adenda, a jeito de comentários maldosos ou da benevolência da opinião dos fiéis.

Ter a coragem de mudar, quando isso for verdadeiramente o mais correto, pode ser um avanço decisivo para o rejuvenescimento da Igreja liderada pelo Papa Francisco.
GAVB

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

ASSEDIAR E DENUNCIAR: UMA QUESTÃO DE PODER

A América de Trump vive o frenesim das denúncias em catadupa de assédios sexuais, praticados há uns anos. Tal como Emma Thompson tinha previsto, Harvey Weinstein era só a ponto do iceberg, embora seja uma ponta bastante extensa, dado o número de casos de assédio e violação que lhe são imputados. Só entre os famosos, seguiu-se o realizador James Toback, o ator Kevin Spacey (agora descrito como um predador sexual), o renomado Dustin Hoffman (hoje mesmo acusado por Meryl Streep de lhe apalpar os seios em teste de elenco) e mais alguns se aparecerão nos próximos tempos.


Aberta a caixa de Pandora, muitas denúncias estarão na calha, a maioria delas ocorridas há largos anos, porque há muita raiva reprimida, muitas contas por ajustar e, sobretudo, porque o poder mudou de mãos.

O assédio sexual, mas também o moral ou o laboral, é uma forma ilegítima, imoral, repugnante até, de exercer o poder. 
Quem assediava sabia disso, quem era assediado também. 
Podemos sempre contra-argumentar que quem era assediado tinha o poder de denunciar. Tinha… e não tinha. Quem era assediado estava, quase sempre, numa posição de fragilidade (económica, social, física) e o mais normal era que a sociedade não desse crédito às suas denúncias. Bastava apenas que não fosse bonita, para que se duvidasse da veracidade da sua acusação. E se a isso se acrescentasse o facto de não ser famosa, então o caso era enterrado em dias, e ela exposta ao ridículo, pelos media.

O ano passado, por esta altura do ano, o juiz do Supremo Tribunal americano, Clarence Thomas, foi acusado pela advogada Moira Smith, de assédio sexual em 1999. Moira, então com 23 anos, só denunciou o caso em 2016. Na mesma altura, uma ex-funcionária do sexagenário juiz americano, Anita Hill, confirmou a versão de Smith, dizendo que também fora vítima do assédio de Clarence Thomas. Apesar das evidências, o juiz Thomas foi confirmado como uma dos juízes do Supremo Tribunal americano.

O que distingue o caso do juiz Clarence Thomas, dos de Harvey Weinstein, Toback, Spacey ou Dustin Hoffman? Anita Hill responde de maneira elucidativa: as denunciadoras de hoje são mulheres lindas e poderosas. Ninguém questiona que elas possam estar a mentir.

Tanto para assediar como para denunciar o assédio a questão é sempre a mesma: PODER. 

GAVB