A
Câmara Municipal de Amarante encomendou ao arquiteto Souto Moura um projeto
para requalificação do mercado municipal e uma intervenção na alameda Teixeira
de Pascoaes. O renomado arquiteto apresentou o seu anteprojeto e a polémica
instalou-se entre os amarantinos.
No meu
entender, há neste processo e neste projeto alguns dados relevantes que
deveriam ser tidos em conta, que levariam a parar o processo e, na minha
opinião, a rejeitar o projeto.
1º O
anteprojeto é muito polémico, havendo várias pessoas, que amam e pensam
Amarante, que estão frontalmente contra.
2º Um
projeto desta envergadura e com este impacto não pode… não deve ter uma
oposição técnica, social, histórica e económica tão forte… mas tem!
3º
Manter o mercado municipal onde ele está, requalificando-o, não é a grande paixão
da maioria dos amarantinos, que preferiam outra proposta para o espaço.
4º
Mais do que intervir no mercado, o projeto propõe-se “mexer” na Alameda, ou seja, na
face mais visível da cidade, mas não há projeções 3D, que permitam perceber,
desde já, como ficará a cara da cidade quando o projeto for concluído.
5º A
proposta de uma larga escadaria ate ao rio é interessante, mas será uma mais
valia económica, social e cultural para os amarantinos ou funcionará apenas
como aporte estético?
6º
Tendo por garantido (?) este upgrade estético de uma das margens, como jogará
ele com a imagem projetada do outro lado do rio?
7º o
projeto emagrece ainda mais a Alameda, tornando-a numa praça. É isso que os
amarantinos querem? É isso que sonham para a cidade? Foi isso que o presidente
da CMA pediu a Souto Moura?
8º O
Mercado permanecerá no mesmo local, mas o trânsito terá forte restrições, e, no
futuro, querer-se-á residual. Isto é plausível? Como se vai querer apertar o
trânsito naquela zona, quando se investe fortemente num mercado que usa e abusa
de carros, carrinhas, camionetas? Estão a ver as pessoas a transportar as
compras, ao longo de centenas de metros, à mão, em dias de feira? Eu não. O que
vejo é um Teixeira de Pascoaes ainda mais aturdido, às quartas-feiras, com o
trânsito caótico à sua volta.
9º Não
é o ideal em termos de mobilidade, mas a verdade é que os comerciantes e os
moradores precisam que os carros passem na ponte de São Gonçalo. O projeto
Souto Moura pressupõe que isso, a prazo, deixe de acontecer. É bem-intencionado,
mas pouco exequível em termos sociais e económicos. E que diz Souto Moura sobre
o assunto? Não quer saber, não é problema seu? E que diz o Presidente da Câmara
de Amarante sobre o problema? Vai criar parques de estacionamento, nas
redondezas. Se for com a rapidez e eficácia daqueles que servem a zona do
Arquinho e a Rua 31 de Janeiro, podemos ficar descansados!
10º
Nem a Câmara de Amarante nem Souto Moura disseram quanto irá custar a execução
da obra (pelo menos um valor aproximado). O arquiteto é conhecido por gostar de
trabalhar em obras / projetos “sem orçamento”.
Há vinte anos projetou o belo, o
magnífico, o laureado Estádio AXA, em Braga, por 65 milhões de euros. Já custou
165 milhões e pode chegar aos 180 milhões e é frio, pouco confortável, longe da
cidade e das pessoas, além de ter uma manutenção caríssima. Sabem quem pagou?
Os bracarenses, ao longo de quinze anos. A edilidade minhota já teve as contas
congeladas por causa do sumptuoso estádio de Souto Moura, e por causa da renda
que teve (ainda tem) de pagar à banca, deixou de fazer importantes
investimentos sociais e culturais. Ora, em Amarante, o executivo camarário já
atingiu o limite razoável de endividamento bancário, mas propõe lançar-se numa
obra cara (e sem preço final garantido), polémica, divisionista e criadora de
problemas a quem vive e trabalha no centro da cidade.
Não é
sensato, não é equilibrado e pode causar danos irreversíveis, por muitos e
longos anos.
P.S.
Souto Moura é um grande arquiteto, mas não temos de aceitar tudo o que ele
propõe como se fosse divino. Para ele, isto é só mais um projeto, para Amarante
pode ser um beijo de escorpião.
Gabriel
Vilas Boas