Etiquetas

Mostrar mensagens com a etiqueta pouco Útil E Divisionista. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pouco Útil E Divisionista. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

UM PROJETO CARO, POUCO ÚTIL E DIVISIONISTA



A Câmara Municipal de Amarante encomendou ao arquiteto Souto Moura um projeto para requalificação do mercado municipal e uma intervenção na alameda Teixeira de Pascoaes. O renomado arquiteto apresentou o seu anteprojeto e a polémica instalou-se entre os amarantinos.
No meu entender, há neste processo e neste projeto alguns dados relevantes que deveriam ser tidos em conta, que levariam a parar o processo e, na minha opinião, a rejeitar o projeto.

1º O anteprojeto é muito polémico, havendo várias pessoas, que amam e pensam Amarante, que estão frontalmente contra.

2º Um projeto desta envergadura e com este impacto não pode… não deve ter uma oposição técnica, social, histórica e económica tão forte… mas tem!

3º Manter o mercado municipal onde ele está, requalificando-o, não é a grande paixão da maioria dos amarantinos, que preferiam outra proposta para o espaço. 

4º Mais do que intervir no mercado, o projeto propõe-se “mexer” na Alameda, ou seja,  na face mais visível da cidade, mas não há projeções 3D, que permitam perceber, desde já, como ficará a cara da cidade quando o projeto for concluído.

5º A proposta de uma larga escadaria ate ao rio é interessante, mas será uma mais valia económica, social e cultural para os amarantinos ou funcionará apenas como aporte estético?

6º Tendo por garantido (?) este upgrade estético de uma das margens, como jogará ele com a imagem projetada do outro lado do rio?

7º o projeto emagrece ainda mais a Alameda, tornando-a numa praça. É isso que os amarantinos querem? É isso que sonham para a cidade? Foi isso que o presidente da CMA pediu a Souto Moura?

8º O Mercado permanecerá no mesmo local, mas o trânsito terá forte restrições, e, no futuro, querer-se-á residual. Isto é plausível? Como se vai querer apertar o trânsito naquela zona, quando se investe fortemente num mercado que usa e abusa de carros, carrinhas, camionetas? Estão a ver as pessoas a transportar as compras, ao longo de centenas de metros, à mão, em dias de feira? Eu não. O que vejo é um Teixeira de Pascoaes ainda mais aturdido, às quartas-feiras, com o trânsito caótico à sua volta.

9º Não é o ideal em termos de mobilidade, mas a verdade é que os comerciantes e os moradores precisam que os carros passem na ponte de São Gonçalo. O projeto Souto Moura pressupõe que isso, a prazo, deixe de acontecer. É bem-intencionado, mas pouco exequível em termos sociais e económicos. E que diz Souto Moura sobre o assunto? Não quer saber, não é problema seu? E que diz o Presidente da Câmara de Amarante sobre o problema? Vai criar parques de estacionamento, nas redondezas. Se for com a rapidez e eficácia daqueles que servem a zona do Arquinho e a Rua 31 de Janeiro, podemos ficar descansados!

10º Nem a Câmara de Amarante nem Souto Moura disseram quanto irá custar a execução da obra (pelo menos um valor aproximado). O arquiteto é conhecido por gostar de trabalhar em obras / projetos “sem orçamento”. 
Há vinte anos projetou o belo, o magnífico, o laureado Estádio AXA, em Braga, por 65 milhões de euros. Já custou 165 milhões e pode chegar aos 180 milhões e é frio, pouco confortável, longe da cidade e das pessoas, além de ter uma manutenção caríssima. Sabem quem pagou? Os bracarenses, ao longo de quinze anos. A edilidade minhota já teve as contas congeladas por causa do sumptuoso estádio de Souto Moura, e por causa da renda que teve (ainda tem) de pagar à banca, deixou de fazer importantes investimentos sociais e culturais. Ora, em Amarante, o executivo camarário já atingiu o limite razoável de endividamento bancário, mas propõe lançar-se numa obra cara (e sem preço final garantido), polémica, divisionista e criadora de problemas a quem vive e trabalha no centro da cidade.
Não é sensato, não é equilibrado e pode causar danos irreversíveis, por muitos e longos anos.

P.S. Souto Moura é um grande arquiteto, mas não temos de aceitar tudo o que ele propõe como se fosse divino. Para ele, isto é só mais um projeto, para Amarante pode ser um beijo de escorpião.
Gabriel Vilas Boas