Há nas sentenças de muitos juízes e acórdãos que os sustentam verdadeiras pérolas de preconceito, misoginia, abuso de opinião, desumanização, que qualquer pessoa tem de voltar a ler, para acreditar naquilo que foi escrito.
Em outubro de 2017, o juiz presidente do tribunal coletivo de Viseu, Carlos Oliveira, colocava sérias dúvidas que uma mulher tivesse sido vítima de violência doméstica, porque "era uma mulher moderna, sem perfil de vítima".
Como é que este homem se mantém num cargo tão importante na sociedade portuguesa, julgando pessoas, com este perfil retrógrado, preconceituoso, imoral? Como não culpá-lo enquanto autor moral das dez mortes de mulheres, em 2019, em consequência da violência doméstica?
Nas últimas semanas, Portugal foi atingido por um surto de violência doméstica. Os números são alarmantes e das autoridades não vemos uma atitude, uma intervenção pública, um sinal de alerta. o que vemos é um encolher de ombros, como se o assunto fosse apenas um problema de algumas mulheres, quanto muito "das mulheres".
A violência doméstica é um problema da sociedade portuguesa, homens e mulheres, jovens e velhos. É um problema dos homens, pois são alguns deles "a besta à solta" que agride e mata, com uma regularidade absurda.
A violência doméstica é um problema de todos, mas nem todos têm o mesmo poder de persuasão, nem todos têm o mesmo poder de intervenção. Infelizmente aqueles que podem fazer algo, ainda que seja um remedeio, fazem uma graçolas tristes, indignas, chocantes e revoltantes como a do juiz Carlos Oliveira.
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