Maquievel ocupou-se deste tópico nos Discursos de Tito Lívio, lembrando o mal que pode resultar da desmesurada ambição, quando ela é orientada para satisfazer uma vontade presente.
Não apenas as revoluções devoram, muitas vezes, os seus filhos, também a ambição sem freio pode perder os que se inebriam com o poder e a desmesura desse forte afrodisíaco, como lhe chamou Kissinger.
Já o padre António Vieira lembrava num dos sermões "Não baste que as coisas que se diz sejam grandes, se quem as diz não é grande."
Há um detalhe mínimo que sempre me intrigou na franja de gente guiada pela insaciável fome de grandeza. Parece sempre mais fácil, por exemplo, pôr de acordo políticos, jornalistas, comentadores quanto à incorreção daquele plural "acordos". É mais fácil convencê-los de que a atonia é sinal de fraqueza. Difícil é levar os da mania das grandezas a deixarem de dizer «piquenos» quando reduzem o plano. Trata-se de um tique finório, um esgar de altivez na lapela dos lábios.
Um modo afetado de fazer do pequeno, ínfimo.
Um modo afetado de fazer do pequeno, ínfimo.
Quando escuto de lábios que parecem franzir o sobrolho esta palavra assim apoucada, «piquenos», remeto, secretamente, o finório para aquele que Sebastião da Gama chamou de «Pequeno Poema».
Pequeno Poema - não deixeis de o procurar. começa assim:
Quando eu nasci,
Ficou tudo como estava
Nos restantes dezassete versos dá-se uma lição de grandeza.
Fernando Alves Guerra, Sinais, 2014
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