Etiquetas

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O QUE É A GRANDEZA?


A ambição de grandeza pode fazer poderosos, mas não faz, só por si, um homem grande.
Maquievel ocupou-se deste tópico nos Discursos de Tito Lívio, lembrando o mal que pode resultar da desmesurada ambição, quando ela é orientada para satisfazer uma vontade presente.
Não apenas as revoluções devoram, muitas vezes, os seus filhos, também a ambição sem freio pode perder os que se inebriam com o poder e a desmesura desse forte afrodisíaco, como lhe chamou Kissinger.
Já o padre António Vieira lembrava num dos sermões "Não baste que as coisas que se diz sejam grandes, se quem as diz não é grande."

Há um detalhe mínimo que sempre me intrigou na franja de gente guiada pela insaciável fome de grandeza. Parece sempre mais fácil, por exemplo, pôr de acordo políticos, jornalistas, comentadores quanto à incorreção daquele plural "acordos". É mais fácil convencê-los de que a atonia é sinal de fraqueza. Difícil é levar os da mania das grandezas a deixarem de dizer «piquenos» quando reduzem o plano. Trata-se de um tique finório, um esgar de altivez na lapela dos lábios. 
Um modo afetado de fazer do pequeno, ínfimo.
Quando escuto de lábios que parecem franzir o sobrolho esta palavra assim apoucada, «piquenos», remeto, secretamente, o finório para aquele que Sebastião da Gama chamou de «Pequeno Poema».

Pequeno Poema - não deixeis de o procurar. começa assim:
Quando eu nasci,
Ficou tudo como estava

Nos restantes dezassete versos dá-se uma lição de grandeza.
Fernando Alves Guerra, Sinais, 2014

Sem comentários:

Enviar um comentário