Quando os professores mais novos do sistema educativo português desesperam com a ausência de notícias sobre a sua colocação profissional para o novo ano letivo, a Associação dos Diretores Escolares propõe algo profundamente naïf: os professores com mais de sessenta anos podem optar por deixar de dar aulas, cumprindo o seu horário apenas com atividades não letivas (projetos, clubes, assessoria...).
Ninguém contesta o mérito da proposta e ela não é nova, mas as hipóteses de ser aceite são muito reduzidas.
Então o governo do partido socialista não reconhece aos professores o direito a ter um carreira, apagando-lhes mais de nove anos de tempo de serviço, e agora ia permitir que os professores deixassem de exercer a sua principal atividade seis anos antes da idade da reforma?
A razão principal pela qual a reforma sem penalização só se atinge depois dos sessenta e seis anos é económica.
Quando igualou a idade da reforma dos funcionários do Estado aos do setor privado, o governo tornou-se cego, surdo e mudo para as profissões de grande desgaste físico e psicológico. Na última década a situação não se alterou nem se vai alterar significativamente.
Além da docência há outras atividades de grande desgaste físico e psicológico como é o caso dos enfermeiros ou de algumas forças de segurança e não se vê os governantes portugueses com vontade de atender à especificidade de cada profissão. Antes pelo contrário! A única exceção é a classe política, cuja pouca vergonha nas pensões e subvenções vitalícias é tão grande que acharam por bem impedir a divulgação da lista da vergonha.
A proposta dos diretores parece-me demasiado ingénua e destinada apenas a tentar restabelecer o clima de confiança entre diretores e professores, agora que a municipalização da educação está em marcha e todos os apoios conta. Lembram-se tarde que também são (ou foram) professores.
Se queriam mostrar a sua solidariedade e coragem deviam mostrar a sua repulsa e indignação perante a falta de respeito que todos os anos o ministério da Educação manifesta com os professores, anunciando apenas nas últimas horas de Agosto a colocação profissional de milhares de professores. Além disso, ninguém ouviu a Associação de Filinto Lima ter uma palavra inequívoca sobre a justa luta dos professores pela restituição do seu tempo de serviço.
GAVB
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