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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O DIÁRIO PERDIDO DE UMA ADOLESCENTE


No dia 1 de Agosto de 1944, Anne Frank escrevia pela última vez o seu diário. 
Aquele que viria a tornar-se o diário mais famoso do século XX, pelo modo como nos deu a conhecer a visão, de uma adolescente de 15 anos, do acontecimento mais marcante do século passado - a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto -, registava na sua última:
«O que eu digo não é o que eu sinto, e é por isso que tenho a fama de perseguir rapazes, de ser namoradeira e espertalhona e de ler romances. A Anne otimista dá uma resposta petulante, encolhe os ombros e finge que não se importa. A Anne discreta reage exatamente ao contrário.»  

A escrita de um diário, que se quer mais ou menos secreto, era uma das marcas da adolescência. Nele a rapariga ou o rapaz exprimia os seus sentimentos, medos, dúvidas, zangas, revoltas, segredos. Anos mais tarde (se não o tivesse destruído), havia de se rir daquelas tempestades emocionais, percebendo a pouca dimensão das suas tormentas, mas também revia o seu percurso, as suas razões e as dos outros. 

Hoje os adolescentes não escrevem diários. No entanto, eles têm emoções semelhantes às dos seus pais ou avós; tacteiam o mundo cheios de dúvidas e têm acontecimentos que gostariam de registar, mas mantê-los em segredos. 
Apesar disto tudo ser verdade, deixaram de escrever, de exprimir-se por palavras secretas e fechadas a cadeado. Postam fotos ou frases que viram no Instagram de um amigo ou de uma celebridade do momento. 
Há quem diga que se adaptam à modernidade e à tirania da imagem. É só uma parte da verdade. A outra é que perdem a construção da sua intimidade e da sua personalidade. 
Há um mundo de pensamentos e emoções que nenhuma foto resgistará. Além disso, atrasam o inevitável debate com as suas contradições, com as suas dúvidas, com as suas emoções, com os seus valores. Essa coisa maravilhosa que é verbalizar, através da escrita, o pensamento.

GAVB

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