Mais um Projeto Arte Partilhada, da
Fundação Millenium BCP, desta vez patente no MMASC (Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso), trazida para integrar a programação
de excelência do evento MIMO Festival.
Concorde-se ou não com o título que
lhe foi atribuído, sublinhe-se o espaço e o contexto em que nasce esta Exposição, que coloca Arte
em diálogo, que constrói e desconstrói histórias, personagens, paisagens e
cenários. Estas “amizades” tocam-se em espaços pictóricos de rebeldia, amizades
que se espraiam em gerações avessas aos academismos que algemam, amizades que
se desenham em traços de individualismo em implosão.
António Carneiro. Amadeo de Souza-Cardoso.
Eduardo Viana…tantos.
Nesta Exposição, com a excelente curadoria da Dr.ª Raquel Henriques, patente no MMASC até
28 de outubro de 2018, apresentam-se obras de especial importância, quer do
Primeiro Modernismo Português, o mais puro e genuíno, quer do modernismo
marcado pelas amarras do SPN – Secretariado de Propaganda Nacional – e pelo
gosto de António Ferro, em sintonia com os ideais do Estado Novo.
Esta Exposição merece de todos nós uma
visita pausada e um olhar atento a todas as 85 obras expostas. No entanto, para
aguçar curiosidades, deixem-me lembrar apenas três óleos que me agradaram
particularmente. A uni-los, a elegância e o mistério da figura feminina.
Desta tela brota uma beleza e uma
elegância que em nada se coaduna com o traje que cobre as duas mulheres, a
sugerir simples aldeãs. A estilização surpreende e lembra a figura feminina a
roçar a Arte Nova, num tratamento esguio e longitudinal que não esperávamos.
Os anos vinte trouxeram-nos esta
“Mulher Sentada à Janela”, de Eloy. Uma pintura geometrizada, a lembrar a
decomposição cubista, enigmática pela ausência de traços marcantes do seu rosto
e pela atitude de quase acomodação…a janela espreita e desvenda o horizonte. Nada
disso importa à mulher, alheada e em profundo desalento…
Eduardo Viana, Rapariga à Janela, óleo
s/tela,1948
Viana a surpreender de novo, numa
composição a lembrar Cézanne e uma natureza-morta de enfeitar,absolutamente
desinteressante e que passa despercebida à figura feminina.
Poderia ter sublinhado outros pintores, outras
obras. Por exemplo, Almada, de quem sou devota; Amadeo, por quem me apaixono
sempre; António Carneiro, que ainda tento decifrar…mas estes retratos ou quase
retratos ficaram-me na retina, pela elegância, pelo arrojo, pelo invulgar da
representação. Nestas telas, consegui ver inovação, deleite, sedução, devaneio
e provocação. Um Modernismo que é um MIMO.
E tudo isto, a um pequeno passo de
nós.
Visitem.
Rosa
Maria Alves da Fonseca
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