Quando observo a minha profissão através dos olhos apressados do cidadão comum, não posso deixar de sentir uma amarga tristeza, ao perceber naquilo que nos tornámos aos olhos do outro: um velho sábio, zangado com o mundo, desfasado da realidade, resmungão e cansado, vivendo de prodigiosas glórias passadas.
Não gosto nada do retrato, mas a verdade é que ele apenas se acentua com o passar do tempo.
Quais os desafios que se colocam ao professor atual?
Em primeiro, a classe docente precisa de rejuvenescer. Muitas salas de professores caminham para lares da terceira idade, mas o pior é o afastamento mental em relação aos alunos, aos encarregados de educação, à realidade social e cultural que rodeia a Escola. Mais facilmente os alunos sentem comiseração pelos seus professores do que admiração.
Os alunos precisam de uma classe docente intergeracional, mas a sociedade faz pouca pressão sobre o governo para que este assuma e renovação geracional dos professores como uma prioridade.
Outro problema central que os professores precisam de enfrentar é reinventar o seu papel na escola e na sociedade. É preciso ser professor de outra forma. Perceber que estamos num mundo tecnológico, que temos de aproveitar, utilizar e rentabilizar e não ignorar ou hostilizar. O tempo do papel, do lápis e da caneta, do quadro negro ou branco, das longas aulas expositivas já passou... ou devia ter passado. Os alunos aprendem muito mais fazendo, experimentando, partilhando com os colegas as aprendizagens que fazem por si. É certo que largar o comando da aulas é muito desconfortável para o professor, mas o caminho é esse.
Por outro lado, o professor português tem de perceber que já não tem o papel social que tinha e que muitos ainda julgam ter. É importante sim, mas não o mais importante! É um par, e não primus inter pares. Além disso, necessita de recuperar muito terreno para repor uma imagem positiva que perdeu há mais de uma década. O professor precisa de fazer sentir a sua relevância, através doseu trabalho, em vez de constantemente estar a reclamá-la como se ela fosse sua por direito natural. Mostrar como a sua atividade pode interagir com o de outras profissões, apresentar à comunidade local e regional o trabalho desenvolvido com os alunos.
Reinventar-se e reerguer-se! Recuperar o prazer de ensinar, ensinar de outra forma, por mais cansado que se esteja, por mais desiludido e sem esperança que nos sintamos, o caminho só pode ser o da mudança. Paciente e não excluindo ninguém, todavia sem protelarmos mais, porque o tempo urge.
GAVB
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