Durante uma semana, Penafiel esteve em festa com a poesia de Manuel Alegre.
A XII edição da ESCRITARIA homenageou um dos mais vultos da literatura portuguesa, um poeta ilustríssimo, já vencedor do prestigiado Prémio Camões, que para sempre estar ligado à luta pela liberdade no tempo da ditadura Salazarista.
Agora que a ampulheta da vida deixa cair os últimos grãos do Tempo, o mais importante evento literário do país, não podia deixar de se curvar perante a beleza, a profundidade e a mensagem da poesia de Manuel Alegre.
Durante a semana, o escritor esteve por Penafiel, visitando escolas, contactando com alunos e professores, participando em palestras e encontros, ao mesmo tempo que se inauguravam exposições sobre Sophia de Mello Breyner, o Bibliomóvel percorria as ruas do concelho com poesia de Manuel Alegre, prémios literários eram revelados e os jovens.
Mas o melhor de qualquer poeta é sempre a sua poesia. Dela brota a sensibilidade do poeta, que ora nos faz sonhar ora nos interpela angustiado ora motiva à ação.
Convido-te a ler um dos vários poemas de Manuel Alegre que muito me encanta.
ÍTACA
era uma luz um rosto um cheiro
a sombra em certas tardes na sala de jantar
ou o teu sorriso debaixo da ameixieira.
Um sítio. Um sítio sagrado algures no tempo.
Um sítio por dentro. Um obscuro ponto
no mapa luminoso
do coração.
Para sempre só teu
para sempre escondido.
Como Ulisses ninguém volta ao que perdeu
como Ulisses não serás reconhecido.
2.
Não vale a pena suportar tanto castigo.
Procuras Ítaca. Mas só há esse procurar.
Onde quer que te encontres está contigo
dentro de ti em casa na distância
onde quer que procures há outro mar
Ítaca é tua própria errância.
a sombra em certas tardes na sala de jantar
ou o teu sorriso debaixo da ameixieira.
Um sítio. Um sítio sagrado algures no tempo.
Um sítio por dentro. Um obscuro ponto
no mapa luminoso
do coração.
Para sempre só teu
para sempre escondido.
Como Ulisses ninguém volta ao que perdeu
como Ulisses não serás reconhecido.
2.
Não vale a pena suportar tanto castigo.
Procuras Ítaca. Mas só há esse procurar.
Onde quer que te encontres está contigo
dentro de ti em casa na distância
onde quer que procures há outro mar
Ítaca é tua própria errância.
Regresso a Ítaca
ResponderEliminarConheces a casa pelos cheiros e os ruídos
As sombras na parede a certas horas
Uma jarra de rosas sobre a mesa
E a primavera no quintal com seu perfume
De terra e musgo e buxo e flores de limoeiro
Conheces a casa até por sua música
Que é um branco silêncio povoado
Por móveis e tapetes ecos vozes
Este devia ser o teu lugar sagrado
Aquela Ítaca secreta que pensavas
Quando buscavas um caminho ou um destino
Mas eis que chegas e algo está mudado
É certo que na vila os velhos te reconheceram
Como a Ulisses o fiel porqueiro
Porém na casa algo está diferente
O teu próprio retrato te parece um outro
E mais do que nunca sentes-te estrangeiro
Por isso o teu exílio é sem remédio
Regresso a Ítaca
ResponderEliminarConheces a casa pelos cheiros e os ruídos
As sombras na parede a certas horas
Uma jarra de rosas sobre a mesa
E a primavera no quintal com seu perfume
De terra e musgo e buxo e flores de limoeiro
Conheces a casa até por sua música
Que é um branco silêncio povoado
Por móveis e tapetes ecos vozes
Este devia ser o teu lugar sagrado
Aquela Ítaca secreta que pensavas
Quando buscavas um caminho ou um destino
Mas eis que chegas e algo está mudado
É certo que na vila os velhos te reconheceram
Como a Ulisses o fiel porqueiro
Porém na casa algo está diferente
O teu próprio retrato te parece um outro
E mais do que nunca sentes-te estrangeiro
Por isso o teu exílio é sem remédio