A História não pode ser reescrita. Foi o que foi e cada povo deve asumi-la, mas também enquadrá-la. Daqui a umas décadas acontecerá o mesmo connosco, pois aquilo que agora consideramos aceitável pode, muito bem, ser visto como abjeto, pelas próximas gerações.
Assumir o que os portugueses fizeram em África, desde o século XV até ao final do século XX é um dever para com a verdade.
É verdade que alguns portugueses tiveram comportamentos racistas durante décadas, como é verdade que muitos (a maioria) não os tiveram.
A maneira como o mundo era visto nos séculos XVI ou XIX era muito diferente da atual visão dos comportamentos humanos aceitáveis, mas isso não justifica tudo o que de mal se fez. Há que fazer um ato de contrição e... avançar.
Assumir responsabilidades históricas não é ficar eternamente preso a um culpa cometida pelos nossos antepassados, mas assumir essa herança negativa porque se quer um mundo melhor, mais justo, mais harmonioso e pacífico.
Pedir desculpa pelo passado não é aceitar a violência nem o ódio do presente! Quem fomenta o ódio e a vingança não quer construir nada de bom entre povos, nem quer aceitar qualquer pedido de desculpas, mas apenas vingar-se.
Destruir estátuas ou vandalizar monumentos relevantes para um povo que nos acolhe, porque, no passado, alguém desse povo foi racista não é fazer justiça, mas apenas fomentar a vingança, a discórdia e a guerra.
No final de 2019, Angela Merkel esteve em Auschwitz para assumir, em nome da Alemanha, a responsabilidade pelo holocausto. Vergonha e mágoa, mas também a consciência de que assumir a dor e a vergonha do passado é o caminho para seguir em frente, construindo um futuro melhor.
Os povos e as pessoas precisam de seguir em frente e quem quer seguir em frente, construindo a paz entre povos, não tem interesse em estar constantemente em processos de vingança e ajustes de contas.
É verdade que muitos povos europeus têm de prestar contas pelo seu passado, mas também é verdade que muitos povos africanos têm de prestar contas pelo seu presente e passado recente. Que sociedades construíram eles depois da descolonização? África é hoje um exemplo de igualdade, democracia e paz? Não há racismo nem ódio em África ou na Ásia?
Quando se perde tempo e energia a destruir, não sobra força nem arte para construir paz, igualdade, respeito pelo ser humano.
O grande problema do Racismo é que ele não faz apenas parte do passado. Ele está impregnado em muitas almas infelizes, doentias e malévolas. Combatê-lo é um luta diária, que terá de ser vencida sem ódio, sem violência, sem ceder à provocação.
GAVB