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Quando a crise económica visita um povo pouco esclarecido ou governado por gente incapaz, a cultura é a primeira fatia do orçamento a cortar. Não por ser a maior, mas por ser a mais fácil de aceitar pelo povo. Realmente, quando uma imensa maioria não está habituada a consumir cultura, a pagá-la, não lhe sente a falta. Provavelmente, por isso, acha muito bem que as migalhas que anualmente lhe são atribuídas podem muito bem desaparecer e deixar na indigência milhares de pessoas.
Como se os artistas não fossem trabalhadores de pleno direito ou aquilo que fazem não tivesse a dignidade de uma profissão. É possível que muitos achem que a vida de artista é um hobby de fim-de-semana e que o músico, o artista plástico ou a atriz têm outro trabalho donde retiram o dinheiro que paga as contas.
É aceitável que, em Portugal, um jogador profissional tenha um salário que varia em os dez mil euros e os duzentos mil euros líquidos mensais? Ao que parece há suporte empresarial para isso e a indústria sabe como angariar receitas e fazer exigências ao poder político. Ano após ano consegue montar uma rede de influências que permite aos vários agentes viver trinta a quarenta anos com rendimentos angariados durante quinze.
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É necessário socorrer os agentes culturais, como medida de emergência. Depois é necessário uma profunda reforma da maneira como funciona a cultura em Portugal, tornando-a, paulatinamente, num produto de consumo comum, alargando drasticamente o número de consumidores, para que, no futuro, os artistas não façam o triste papel de pedintes a quem o Estado ou a população em geral, quando está bem disposta ou de barriga cheia, faz donativos para alguns dotados exercerem o seu hobby.
Urge mudar a mentalidade, alterar as regras, tornar a cultura (qualquer que seja a sua manifestação) num ato digno, respeitado sustentável. E isto tem tanto urgência como salvar um banco.
A propósito, quantos orçamentos anuais do ministério da cultura já enterramos no Novo Banco?
GAVB
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