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sexta-feira, 24 de abril de 2020

RETRATOS & TRANSFIGURAÇÕES

Esta fotografia, tirada pelo meu amigo e artista Antero de Alda, é a capa do livro Retratos & Transfigurações, da editora Fábrica da Poesia, 2015, e nele podemos ver como o Antero captou o rosto de gente anónima, onde a solidão, a angústia, o desespero, outras vezes o abandono estão retratados, de uma maneira extraordinária.

Hoje, retirei da estante este magnífico fotolivro para sentir novamente toda a humanidade que o Antero colocava em cada uma das suas criações. Fotografou dezanas de pessoas, esquecidas nos penedios de Trás-os-Montes ou nas planícies alentejanas, captando, como poucos, uma beleza derrotada pelas agruras de  vida.
Antero de Alda gostava muito de citar uma frase de Agostinho da Silva, "A vida para a arte é sempre breve, só quando não se faz nada há sempre tempo".
Ele criou imenso e de várias maneiras. 
Sinto imensas saudades dele! Da sua forma sensível de fotografar aquilo e aqueles em quem ninguém já rapara; da sua generosidade artística, da fraternidade dos gestos.

Olho com atenção as fotos deste livro, uma por uma, onde quase não há palavras... apenas rostos de gente cansada, triste, mas que transporta em si uma história, uma vida, uma memória que também é a história e a memória de um povo.

Termino com um excerto do poema Transfiguração, de Miguel Torga, que o Antero escolheu para abrir o seu livro.

Tens agora outro rosto, outra beleza: 
um rosto que é preciso imaginar,
e uma beleza mais furtiva ainda...
Assim te modelara, caprichosas, 
mãos irreais, que tornam irreal
o barro que nos foge da retina.

(...) Neste novo encanto 
te conjuro 
que permaneças.
Nenhum mito regressa...
Todas as deusas são mulheres ausentes.

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