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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

DA ARTE, DA PINTURA, DO ROMANTISMO

O pintor não deve pintar somente aquilo que vê exteriormente, mas sim o que descobre sobre si próprio. E se não vê nada em si próprio, mais vale que deixe de pintar o que tem à sua frente. Caso contrário, os seus quadros seriam como esses biombos, atrás dos quais só se espera encontrar doentes ou, inclusivamente, mortos.” Caspar David Friedrich
  
Caspar David Friedrich (1774-1840) foi uma figura de destaque na pintura romântica alemã. Pintor de cavalete, é profícuo no retrato e em conceções muito particulares da Natureza. Natural de Greiswald, Alemanha do Norte, este é o pintor da subjetividade e da poética da Natureza.
Exímio na pintura de paisagem, mas de uma paisagem inebriada de sentimento e espiritualidade, vai deixar-nos cenários de exceção, como sejam as colinas da Saxónia ou o  litoral do Báltico, com as suas escarpas e precipícios rochosos, num claro convite para o abismo.
Marcadamente individualista, os Românticos isolam-se para questionar Deus, o Mundo, o seu próprio destino…esperam revelações fatais, extraordinárias…
Impossível a calma, a serenidade. Estas obras denotam exaltação dos sentidos, a exacerbação absolutamente passional do mundo, dos homens, das causas. A ideia da Morte obcecava-os e morrer por um amor impossível ou pela  causa da Liberdade era um impulso exageradamente estimulante. Daí, a representação da noite, tão ao gosto romântico, numa prefiguração da Morte. Daí, a fuga da realidade e o mergulho no mistério, na neblina, nas trevas ou no passado longínquo como o era a Idade Média, que vira afirmarem-se as diferentes nacionalidades europeias.
Na obra com que vos deixo hoje e que pode ser apreciada em Hamburgo, Friedrich constrói o verdadeiro herói romântico.

                                                              Kunsthalle, Hamburgo

 Este é um dos maiores museus de arte da Alemanha fazendo parte da sua coleção pintura holandesa do séc. XVII, incluindo obras do grande Rembrandt, pintura do Romantismo alemão, como as obras de Runge e Friedrich, passando pelo Impressionismo e pelo Modernismo clássico.
É também importante o acervo de Arte Contemporânea (Pop Art, Arte Conceptual, Vídeo e Fotografia).Mas hoje, deixemo-nos envolver pelo Romantismo de Friedrich.
Mergulhemos no Viajante Diante de um Mar de Neblina; neste óleo sobre tela, a figura principal aparece representada de costas e apenas temos uns loiros cabelos revoltos a deixar voar a nossa imaginação. Que feições nos esconde o pintor? Suaves, ou marcadas de rugas inglórias por constantes desilusões? Que vencido da vida é este homem que nos volta as costas e não nos enfrenta com ousadia? Usando um elegante sobretudo verde, apenas o bordão de viajante nos leva a pensar na solitária e perigosa caminhada pela encosta grandiosa e mística. A neblina deixa-nos adivinhar a alma da personagem representada, envolvida pela tempestade representada em paisagem de tons ácidos e frios, a começar pelo céu inundado de nuvens…
Que batalhas se travam ali? Que fascínio atrai a personagem para o encontro fatal com a solidão? Que ausências magoam e ferem de morte aquela silhueta esguia? Que visão metafísica procura? Ou sonha apenas momentos vividos?
Soubera eu responder…

Viajante Diante de um Mar de Neblina, Caspar David Friedrich,1818, (Kunsthalle, Hamburgo)
Como não sei, deixo-vos airosamente com uma poesia de Garrett, como sabem, também ele um fervoroso romântico. Haveriam de se entender e de ser amigos, estes dois.

Quando eu sonhava

Quando eu sonhava, era assim

Que nos meus sonhos a via;

E era assim que me fugia,

Apenas eu despertava,

Essa imagem fugidia

Que nunca pude alcançar.

Agora,que estou desperto.

Agora a vejo fixar…

Para quê?-quando era vaga,

Uma ideia, um pensamento,

Um raio de estrela incerto

No imenso firmamento,

Uma quimera, um vão sonho,

Eu sonhava-mas vivia:

Prazer não sabia o que era,

Mas dor, não na conhecia…
                                                  Almeida Garrett, Folhas Caídas


Rosa Maria Fonseca

domingo, 17 de agosto de 2014

PALÁCIO DA PENA - SINTRA


Virgílio Ferreira certo dia chamou-lhe “O mais belo adeus da Europa” e quem sobe a serra de Sintra e lá no alto encontra o majestático e imponente Palácio da Pena percebe a razão e não lamenta a pena que traz no corpo.
 O Palácio da Pena é o maior símbolo da arquitetura romântica que existe em Portugal. Residência real de verão, este palácio em forma de castelo foi mandado construir por D. Fernando Saxe Coburgo Gothe, rei consorte, com quem a nossa rainha D. Maria II casou em 1836.
Na construção do palácio foram aproveitadas as ruínas dum pequeno convento já existente no local, mandado edificar no século XVI por D. Manuel II, em comemoração da segunda viagem do navegador Vasco da Gama à Índia. No entanto, o pequeno convento Jerónimo estava, no momento em que foi comprado pelo rei D. Fernando em 1838, em ruínas em consequência do terramoto de 1755 e abandonado em por causa da extinção das ordens religiosas em 1834.

A ideia inicial era recuperar o antigo convento, mas a pequenez das instalações para os fins previstos, levou o mecenas real à ampliação da construção com um conjunto de novas construções, a que se chamou palácio novo.
Este projeto, de grande envergadura, que corresponde à totalidade do edifício amarelo e revestido a azulejo, teve a colaboração do barão Von Eschwege, engenheiro de minas alemão que estava em Portugal na altura. O gosto romântico do rei-artista, (assim o rei D. Fernando ficou conhecido entre os portugueses), aliado a uma versatilidade de interesses com as artes decorativas, a pintura, a escultura e os seu entusiasmo pelos espaços verdes levaram à criação de um magnífico jardim romântico, sendo o parque da Pena o exemplo acabado do paisagismo  pitoresco, tão apreciado na época, plantando invulgar coleção de plantas e árvores que hoje são o ex-libris da floresta de Sintra.


O palácio nacional da Pena constitui um exemplo de tendências arquitetónicas e decorativas ímpares do período romântico e da extraordinária sensibilidade do rei D. Fernando.
A estrutura arquitétonica, o ecletismo e o exotismo oriental e islâmico criaram o programa romântico de todo o conjunto, constituindo-se, espaço verde e espaço edificado como uma “obra de arte total”.
Como Richard Strauss afirmou, talvez o Palácio da Pena seja “a coisa mais bela que vi em Portugal; o verdadeiro Jardim do Klingsor, onde, lá no alto, fica o Castelo do Santo Graal”.
Certamente é por isso que muitos dizem que Sintra é um local mágico a que convém não escapar. Visitar o Palácio da Pena é um verdadeiro bálsamo para a alma e para o espírito.
Gabriel Vilas Boas.