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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O TEATRO RIVOLI


O Teatro Rivoli é um dos equipamentos culturais mais importantes e bonitos da cidade do Porto.
Situado numa das praças mais modernas da Invicta – a praça Dom João I – assumiu-se desde meados do século passado como a grande sala de espetáculos da cidade portuense. Pelo seu palco passam espetáculos de dança, teatro, dança, marionetas, música, ópera, cinema. O Rivoli alarga o leque de oferta cultural da cidade, pois tem uma programação complementar ao Teatro Carlos Alberto e ao Teatro Nacional São João. 
O Rivoli nasceu em 1913, como Teatro Nacional, mas as mudanças no centro da cidade obrigaram a obras e pouco anos após a sua abertura já o arquiteto Júlio José de Brito era chamado a pensar um novo Rivoli, onde a projeção de filmes também fosse possível.

Reabriu em janeiro de 1932, já com novas valências, permitindo que o teatro desse lugar ao cinema ou à dança, contribuindo para uma maior amplitude da arte portuense. No entanto, a evolução do espetáculo artístico a necessidade de uma maior comodidade por parte dos espetadores ditaram nova intervenção, na derradeira década do século XX, a cargo do arquiteto Pedro Ramalho. São criados um segundo auditório, um café concerto, uma sala de ensaios e o foyer dos artistas. Por essa altura já o Rivoli era a casa do Fantasporto e Rui Veloso já o tinha associado ao seu “Anel de Rubi”.

Durante catorze anos (1993-2007), Isabel Alves Costa assumiu a direção artística do Rivoli, transformando-o numa sala de espetáculos referência da cidade, sobretudo nas áreas da dança e do novo circo.
Quando o anterior presidente da câmara do Porto, Rui Rio, assumiu a edilidade, decidiu concessionar o Rivoli a privados, tendo a empresa de Filipe La Féria sido a escolhida para dinamizar o teatro. Ainda que debaixo de fortes protestos da comunidade artística portuense, La Féria trouxe para o Porto o seu conceito de teatro, fundado essencialmente no teatro de revista, mas o público portuense não apreciou particularmente a experiência.

Durante sete anos o Rivoli foi o centro da controvérsia do panorama cultural portuense, até que a eleição de novo Presidente da Câmara, em 2014, ditou o regresso do Rivoli à gestão pública. Integrando o Teatro Municipal do Porto juntamente com o Teatro do Campo Alegre, o Rivoli, sob direção artística de Tiago Guedes, voltou a estar ao serviço das Companhias da cidade e voltou a dar primazia à dança, sendo frequente, atualmente, encontrarmos em cartaz espetáculos da Companhia Nacional de Bailado.
No sábado passado, a direção artística do Rivoli preparou uma festa do 84.º aniversário com dezoito horas seguidas de espetáculos. Os mais novos tiveram direito à estreia nacional de Partituur, da croata Ivanna Muller – um jogo performativo que permite aos mais pequenos jogar e refletir em simultâneo. Os mais velhos tiveram direito a um espetáculo de dança – Ha – coreografado pela marroquina Boucha Ouizguen e criado a partir das quadras do poeta persa Djlaâl ad-Din Rûmi. Antes houve declamação de poesia portuguesa e depois música até às cinco da madrugada, no bar Passos Manuel, ao som do coletivo D.M.A. (Disco My Ass).

    

sábado, 24 de outubro de 2015

IFIGÉNIA, de Eurípedes no TNSJ


Durante 10 dias, o dramaturgo e encenador Tiago Rodrigues traz ao Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, três extraordinárias tragédias – Ifigénia, Agamémnon, Electra – que nos permitem o reencontro, há muito ansiado por mim, com os grandes autores clássicos, especialmente os gregos.
Apenas um único senão: somente oito apresentações, no Porto, para estas três magníficas peças, é pouquíssimo, para todo o público do norte que gosta de teatro. Fui à estreia, na passada quinta-feira. A sala estava quase repleta e entre a plateia muita gente ligada ao mundo da representação: Lúcia Moniz, Mariana Pacheco, António Capelo, entre vários outros.


 Tiago Rodrigues e o seu magnífico elenco reinventou Ifigénia de Eurípides, dialogando com a extraordinária tragédia do dramaturgo grego e colocando-nos perante uma série de questões que a própria tragédia Ifigénia evoca.
Para perceber esta tragédia, temos de recuar a Helena (aquela que foi de Troia mas antes tinha sido dos gregos), cujo rapto ou a fuga ativou o cumprimentou de uma promessa que o pai de Helena fez jurar a todos seus pretendentes: se ela fosse raptada, todos os chefes gregos se deviam empenhar no seu resgate. Menelau exigiu ao rei dos gregos e seu irmão, Agamémnon, o cumprimento dessa promessa, mas não havia vento que permitisse que os barcos gregos partisse para Troia. Para que os deuses trouxessem o vento, um sacrifício se reclamava: Ifigénia, filha de Agamémnon e Clitemnestra tinha de ser imolada. O rei de Troia concordou, mas o seu coração de pai estremeceu e ele quis voltar com a palavra a traz, no entanto, acabou por ceder e sacrificar a sua própria filha.

Toda a peça gira em torno deste drama pessoal de Agamémnon. Um sacrifício pessoal em nome de um bem comum. Agamémnon debate-se com um dilema terrível, até porque era pressionado por Menelau, por Ulisses, pelos gregos e depois, por Clitemnestra, por Ifigénia e, sobretudo, pela sua consciência, pelo seu amor de pai.
Podia parecer que a grande culpada de tudo aquilo era Helena. Aquela que foi raptada ou se deixou raptar. Mas Helena não era mais do que uma ideia do passado, que naquele momento do drama de Agamémnon e Ifigénia já não estava presente. Podemos dizer que é ela a raiz dos problemas, mas ela está ausente, nada decide. O que decidiu o sacrifício de Ifigénia foi outra coisa que não Helena: a defesa da honra dos gregos, o exemplo de sacrifício que Agamémnon devia dar em prol do país. Com muito bem notou o encenador Tiago Rodrigues numa entrevista dada em agosto passado, “no fundo nós sabemos que o que move os humanos é outra coisa. São precisas ideias para justificar a ação.”

E a verdade é que Agamémnon não se consegue justificar à esposa que por acaso também era irmã de Helena. Mas, para ela, Helena era só uma ideia tal como é apenas uma ideia que as tragédias têm de acabar mal ou são de confiança. Para ela não havia como perdoar o marido, não havia nada que entender nem seria possível esquecer. Isabel Abreu esteve muito bem no papel de Clitemnestra. Emprestou à personagem a força da razão de um coração de mãe, vergastou Agamémnon, destruindo todos os seus argumentos, especialmente aquele que se refere ao destino e à culpa, tão associados às tragédias.
Miguel Borges, na difícil pele de Agamémnon, também teve uma atuação digna de nota, ao exibir toda a fragilidade de um náufrago, que se perdeu no labirinto da sua consciência e do seu dever. Derrotado aos pontos por um coro de mulheres zangadas que faziam o papel do público e lhe questionavam as decisões e as indecisões, contestando também os fundamentos da própria tragédia, como se ela trouxesse um guião pré-definido que não pode ser alterado. Mas pode…é o momento em que os humanos desafiam os deuses, outros dirão que é apenas o momento em que os Homem se desafia.

Gabriel Vilas Boas