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domingo, 22 de novembro de 2020

UM SENHOR RICO E O SEU ESCRAVO

   

 Há quase dois mil anos o Vesúvio cuspiu revolta em forma de lava e as suas cinzas incandescentes congelaram Pompeia para a eternidade. 

  Ao longo dos séculos, arqueólogos e historiadores foram destapando, pacientemente, as histórias que o vulcão cobrira de cinza e morte. Recentemente, vieram à luz do dia os restos mortais de dois homens, deitados lado a lado, iguais na morte, desiguais em vida. 

     As investigações permitiram concluir que um deles, o mais velho, seria um senhor rico e com status, pois os vestígios de um manto de lã foram encontrados junto ao seu pescoço; já o outro, mais jovem, com idade provável entre os 18 e os 23 anos, seria um escravo, dado que as vértebras esmagadas indiciavam trabalho braçal. 


  Olho novamente a fotografia do extraordinário achado arqueológico e não deixo de pensar como a natureza, de tempos a tempos, repreende o Homem pelas distinções arbitrárias e abusivas que cria entre si.

     Não é apenas a morte que nos iguala e nos coloca no nosso lugar. Também a Natureza é uma lição silenciosa sobre a maneira como agimos entre pares. O modo como a consumimos, como a desejamos sequestrar, fazê-la um condomínio privado do nosso egoísmo tonto, diz muito da falta de inteligência emocional de muitos de nós e da nossa incapacidade de nos situar no tempo, no espaço e na História.

     A lava dos vulcões ou as marés vivas que nos lambem as casas plantadas sobre as dunas são importantes lições que teimamos em ignorar. A Natureza detesta que lhe pisem os calos, por isso sacode, cada vez com mais frequência, todas as tentativas parolas de escravização humana. Tal como aconteceu em Pompeia, se continuarmos a desafiar as suas leis, em breve seremos apenas material arqueológico.

GAVB

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