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sábado, 28 de novembro de 2020

PASSAR OS CONTRATADOS A EFETIVOS RESOLVERIA O PROBLEMA DA FALTA DE PROFESSORES?

 


Filinto Lima acredita que sim! Todavia é possível que não seja bem assim! O grande trunfo desta medida seria oferecer aos professores contratados uma garantia de emprego a longo prazo, mas acredito que isso não seja suficiente, pois manter-se-iam os dois grandes obstáculos que tornam a profissão de professor tão pouco atrativa entre os jovens.

O primeiro obstáculo é a questão monetária. Um professor que entra na carreira pouco mais ganha que um professor contratado. Ora, não são mais 100 euros que levarão uma professora de Penafiel a fazer as malas e a trabalhar em Sintra. Depois de fazer as contas, facilmente chegaria à conclusão que para manter o mesmo nível de vida que um salário mínimo lhe proporciona perto de casa precisar de ganhar bem mais do que o Estado lhe promete oferecer. O mais certo seria pagar para trabalhar, ficar longe da família e aumentar os encargos indiretos. 

Outra questão é o da valorização social da profissão. Os jovens não seguem os cursos de educação apenas porque percecionam que não estes não oferecem grandes saídas profissionais. Eles veem todos os dias o trabalho dos seus professores, o modo como muitos pais os desconsideram, a falta de respeito com que as suas opiniões são deliberadamente ignoradas. Eles observam a desilusão cravada nos olhos de quem os ensina e sabem que não querem ir por ali. 


Faltam professores em Portugal, mas não a todo o tipo de alunos. Faltam professores, sobretudo, aos alunos pobres. Alunos cujos pais não têm voz nem poder. Faltam professores às famílias que ainda não perceberam que a Escola, uma boa escola pública, é o único passaporte que têm para subir socialmente. 

Hoje a comunidade docente está muda e cansada. Espera que o tempo passe, sem contaminações, até à reforma. Deixou de lutar porque já não acredita na luta e porque sente que luta por gente ingrata. 

A Escola pública continuará a ter bons professores e bons alunos, mas estes serão cada vez menos. Serão apresentados como troféus do poder político, uma espécie de heróis modernos, e servirão apenas para legitimar o aprofundamento do fosso entre ricos e pobres. Tal como acontece já um pouco com os médicos, os professores terão apenas boas condições de trabalho, mas não remuneratórias, nos colégios, tornando-se uma espécie de proletariado dos ricos.

A sociedade será mais desigual porque a Escola se torna, a cada dia que passa, mais desigual.

Portugal produz riqueza suficiente para que este não seja o caminho, mas a teia está de tal modo bem montada, que serão os mais prejudicados a defendê-la, com unhas e dentes, e a executá-la, em parte. 

Um país que se preze, que queira ter orgulho em si, tem de querer uma escola pública de qualidade. Esta só se consegue com bons professores. Estes têm de se sentir considerados, justamente remunerados e livres nas suas decisões.

GAVB

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