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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A CATALUNHA É O FILHO DE 18 ANOS QUE QUER SAIR DE CASA



A frase é do controverso Gerard Piqué, jogador do F.C. Barcelona, um assumido independentista, que nos últimos dias tem sido fortemente insultado, contestado e instado a abandonar a seleção espanhola, dado o assumido independentismo catalão que nos últimos dias voltou a professar com convicção.


Podemos acusar Piqué de tudo (provocador, divisionista, arrogante…) mas nunca o poderemos acusar de hipocrisia. Nunca gostei muito de Piqué, sobretudo pela maneira acintosa como provocava Madrid, desprezando quanto isso feria toda a Espanha, mas nos últimos dias tenho de reconhecer que o vejo com outros olhos. Sobretudo, pela coragem e lucidez com que abordou o caso do referendo, partindo do seu emblemático caso pessoal. 

Voltou à frase de Piqué e completo-a: “A Catalunha é o filho de 18 anos que quer sair de casa. O governo de Espanha tem que se sentar e falar com o filho, ou ele vai embora.” 

Piqué tem razão! O governo espanhol tem mesmo que se sentar com o seu filho rebelde. Ele já é maior de idade. Não o pode tratar como um miúdo, porque pior do que perder a sua presença é perder o seu coração e a sua alma. E essa ainda é resgatável. É o próprio Piqué que implicitamente o admite. 


Se Rajoy e  Filipe VI se limitaram a ser filhos de Franco, então a maioria silenciosa cairá para o lado dos independentistas. Ainda há tempo e algum espaço de manobra, mas não é possível empurrar, com a barriga, o problema nem pensar que isto passará. 90% dos que votaram querem a independência. Não me digam que todos estes são uns inconscientes e não sabem o que fazem, que não é verdade. 
A janela de oportunidade do governo e do Rei de Espanha são os 57% que se abstiveram. São elas que podem dizer que o referendo não é vinculativo e são eles os parceiros de Espanha na Catalunha que Filipe VI tem de convocar e convencer, mostrando que permanecer é mais vantajoso que partir. 

Piqué disse que a Catalunha é um filho de Espanha. É por aí que Filipe e Letícia têm de começar a sua luta de defesa da unidade de Espanha.

GAVB

domingo, 22 de junho de 2014

FILIPE VI, O NOVO REI DE ESPANHA


PARA QUE SERVE UM REI?
Espanha tem um novo rei. Filipe VI sucede ao pai, Juan Carlos, que abdicou após quatro décadas de reinado. Chega ao trono espanhol, com 46 anos, o príncipe que casou com uma plebeia e cujos súbditos estão desencantados com a sua monarquia.
Todos os reinados têm os seus desafios, até porque, como diria Ortega y Gasset, o “Homem é ele próprio e as suas circunstâncias”. No entanto, há desafios intemporais e universais que todos os Homens têm de enfrentar qualquer que seja a sua circunstância.
O grande desafio de Filipe VI é tornar a figura do Rei pedra angular do seu povo. Certamente, Filipe VI sabe perfeitamente qual o papel institucional que lhe cabe, conhece as regras protocolares e as leis do seu país, compreende os anseios do seu povo. A questão que se coloca é outra: que tipo de monarca quer Filipe ser? Ou seja, que grau de comprometimento quer ter com o seu povo e com o seu cargo.
O povo espanhol sabe bem que tipo de Rei quer. Quer um rei que ame o seu povo, que o entenda, que o saiba unir sem o constranger, que saiba dizer que sim e, sobretudo, dizer que não, dum modo decisivo e coerente. Quer um rei que seja admirado não apenas por ter uma mulher bela e elegante, mas por tornar um povo orgulhoso das decisões do seu rei.
O povo ama o seu rei e gosta da monarquia. Aceita bem a ideia dum escolhido que vista o papel de herói e o represente com o glamour que só uma casa real pode emprestar. Todavia, um povo do século XXI exige muito mais ao seu Rei. Não baste a Filipe dizer que quer a unidade do país mantendo a diversidade das regiões autonómicas. É necessário construir essa unidade. E essa unidade conquista-se com um grande rei e um reinado exemplar, arguto, próximo das pessoas, paciente e ativo.


Filipe VI parte com alguns trunfos: a maioria do povo espanhol não quer a desintegração da Espanha e percebe que só pode ser grande na Europa se não se dividir; os espanhóis sabem que é o Rei o garante dessa unidade; a juventude do casal real e a origem plebeia de Letizia funcionam como facto de aproximação dos novos reis aos seus súbditos. No entanto, estes são apenas factores promissores que só a vontade e determinação de Filipe e Letizia podem transformar em decisivos.
Os grandes monarcas e os grandes reinados não são um concurso de beleza, um roteiro de visitas ao estrangeiro ou uma cuidadosa gestão de posições políticas que foge dos problemas sem nunca os resolver. É verdade que essa é a marca dos tempos modernos, mas também a razão que afasta reis e rainhas do coração do seu povo.
Ganhar o respeito, a admiração, o carinho e o amor do povo espanhol é uma tarefa árdua que Filipe e Letizia têm pela frente. E desafios não faltam. Desde logo o referendo separatista na Catalunha, a eterna questão basca ou as desigualdades económicas vividas pelas regiões mais pobres como é o caso da Galiza. Poder-se-á dizer que o Rei não detém o poder legislativo nem tem um ascendente psicológico decisivo sobre o povo. Pois precisa de o conquistar.
Filipe VI e Letizia Ortiz têm de escrever a sua própria história. Da determinação e sagacidade com que o fizerem dependem um bocadinho a História próxima de Espanha e o futuro da própria monarquia na Europa.

Gabriel Vilas Boas