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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

REDUZIR APENAS AS PROPINAS É POUCO E É POBRE

A grande ideia do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, para a próxima década parece ser o fim gradual das propinas. O ministro fala numa eliminação gradual, a dez anos, quando lhe restam apenas dez meses de governação. Pura propaganda eleitoral e de baixa qualidade.

Cobrar propinas ou deixar de cobrar parece mais uma preocupação de adjunto de ministro das finanças do que de um ministro do ensino superior. Não que o financiamento das universidades não mereça debate ou suscite polémica, mas esse é um problema de opção política do primeiro-ministro face às contingências financeiras e económicas do país e não uma questão onde o ministro tenha real poder de decisão.  Em matéria de dinheiro (investimento), o poder dos ministros, em Portugal, é residual.

O que Manuel Heitor não disse, e fazia sentido que tivesse opinado, foi o que pensa sobre o modelo de acesso ao ensino superior. As universidades querem escolher quem acolhem, impondo os seus critérios e fazendo tábua rasa dos resultados do secundário. O ministério da educação, pela voz de Alexandra Leitão (verdadeira ministra da educação), pensa que o atual modelo de acesso ao ensino superior está bem como está, porque garante "universalidade e transparência". É capaz de ter razão. No entanto, também é verdade que este modelo garante muita mediocridade nas universidades e é isso que os reitores querem erradicar. Não conseguirão tão cedo os seus intentos, sobretudo enquanto continuarem , ano após ano, a ter de mendigar dinheiro para pagar salários aos professores e outras despesas de financiamento. 

A ideia dos reitores merece debate, mas é pouco viável nos próximos tempos. Faria do ensino secundário uma inutilidade, onde todos passariam e os melhores deixariam de investir. Ora isso retiraria poder ao ministério da educação (que faz os exames nacionais de acesso ao ensino superior) e colocaria muito poder nos reitores. Nem pensem nisso!

P. S. ainda a propósito das propinas, o governo quer descê-las 10% ao ano, apresentando isso como uma medida social para ajudar as famílias, mas é pouco provável que as famílias paguem realmente menos para ter os filhos nas universidades, porque essa diminuição terá como contrapeso o aumento do preço dos mestrados e doutoramentos. E hoje, sem mestrados, os jovens ficam com uma formação superior coxa.

Gabriel Vilas Boas 

terça-feira, 12 de julho de 2016

AQUELES QUE NÃO QUEREM CONTINUAR A ESTUDAR


Foram cerca de vinte mil, em 2015, ou seja cerca de 30% dos alunos que se apresentam a exame para concluir o ensino secundário. A maioria destes alunos pertence ao ensino profissional.
Por que não querem estes vinte mil alunos continuar a estudar? Por agora o Ministério da Educação apenas constata um dado estatístico, mas não mandou fazer qualquer estudo que explique este fenómeno de cerca de 30% dos alunos portugueses não quererem aceder ao ensino superior.
Na minha opinião há um misto de razões a considerar: falta de recursos económicos por parte de algumas famílias; a pouca atratividade/empregabilidade que muitos cursos superiores oferecem; a pouca relevância que estes alunos atribuem à sua formação académica; a escolha pela entrada imediata no mercado do trabalho, entre outras razões.
Estes alunos pertencem às primeiras “fornadas” que percorreram doze anos de ensino obrigatório. Quantos destes vinte mil não teria abandonado a escola antes de completar o ensino secundário se este não fosse obrigatório?

Grande parte desta “desistência” de estudar vem do ensino profissional. Isto não impõe uma profunda reflexão sobre o modo como é ministrado o ensino profissional em Portugal? Parece que este é tão frustrante que os alunos não veem necessidade de prosseguir a sua formação. Claro que alguns podem argumentar que ele é tão bom que os alunos já se sentem capazes de entrar em força no mercado de trabalho. No entanto, se isto fosse verdade, o tecido empresarial andaria a tecer loas ao ensino profissional e alguns dos melhores alunos do ensino básico optariam pelo ensino profissional, mas todos as pessoas que trabalham em educação sabem que não é isto que acontece.
A questão da falta de recursos materiais para prosseguir estudos também não deve ser negligenciada. Era importante apurar quantos milhares desistem da universidade porque os seus pais não têm meios financeiros para lhes pagar propinas, alojamento, alimentação e livros, durante quatro/seis anos. A ação social escolar, a nível universitário, é claramente insuficiente.
Subsiste ainda o outro problema, quanto a mim o maior: a atratividade/empregabilidade da maioria dos cursos. Tirando Medicina e Enfermagem (em que o maior empregador é o Estado – curioso…) a grande maioria dos cursos superiores não é uma garantia de emprego quanto mais de uma remuneração justa face à competência profissional demonstrada.

Neste caso, como noutros, há mais perguntas que respostas, mas um dado é certo: vinte mil jovens concluíram o ensino secundário (e a escolaridade obrigatório) e desistiu de estudar. Que rentabilidade terá o investimento feito na sua educação? Que dirão acerca da importância da escola nas suas vidas estes vinte mil jovens?
Gabriel Vilas Boas