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terça-feira, 20 de outubro de 2020

É O QUE QUEREM?


 Já estamos mais do que habituados ao uso do desporto para fins de propaganda política e até os privilégios pelas quais certas modalidades vendem o jeitinho que fazem ao populismo.

Nos EUA, a liga de futebol americano - supremo jogo dos brancos - só condenou o racismo quando não podia fazer mais nada e inclusive já tinha anatemizado um jogador negro que reclamou igualdade.

E do Brasil acaba de nos chegar a notícia da utilização de vários momentos da transmissão do Peru-Brasil, na estação estatal TV Brasil, para atingir a TV Globo, a cadeia de televisão que mais tem criticado o presidente Bolsonaro.

Nada disso me assusta tanto como a suspensão do multimedalhado nadador nipónico Daiya Seto, pelo Comité Olímpico do Japão, para os Jogos de Tóquio 2020, que, como se sabe, estão marcados para 2021.

Casado, foi apanhado num vídeo a entrar num hotel com a amante. O Comité Olímpico suspendeu-o de imediato porque - parafraseio - os atletas devem comportar-se de modo socialmente exemplar.  Sem alternativa, Seto pediu desculpa "pelo comportamento irresponsável", aceitando passar o resto do ano a treinar sozinho.

No Brasil e face à rábula da TV Brasil, alguém perguntou: 

« Mas estamos na Coreia do Norte?!»

E eu não sei se alguém, no Japão, alguém perguntou:

« Mas estamos no EUA?!»

É que nos EUA, ao menos, o adultério, continua delito criminal em 19 estados. No Japão deixou de sê-lo há 70 anos. E agora voltamos para trás. Voltamos para trás porque, em geral, o mundo voltou para trás.

Estamos mais conservadores, mais moralistas, mais incivilizados. E o desporto continua a deixar-se utilizar como instrumento desse retrocesso. As gerações futuras não se esquecerão.

Joel Neto

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

PREFIRO TRABALHAR NO SUPERMERCADO

 


É a economia, estúpido! 

Quando o Ministério da Educação oferece cerca de 500 euros a um professor para fazer meio horário, numa cidade a 50 quilómetros da sua residência está, obviamente, a convidá-lo a rejeitar a oferta. Nem precise de ser tão longe que o obrigue a arrendar um quarto ou uma casa. Agora imaginem quem tem  de contar também com este custo acrescido na hora de tomar uma decisão.

Basta ter de se deslocar três vezes por semana do Porto a Amarante, por exemplo, para o professor ser obrigado a gastar 75 euros semanais em portagens, combustível e almoço. Ao fim de quatro semanas terá deixado na estrada e no restaurante 300 dos 500 euros que lhe pagaram. Ser caixa de supermercado garante-lhe três vezes esse rendimento, sem desgaste do carro.

Evidentemente que ninguém quer ser professor com opções destas, muito menos com a falta de respeito e consideração que a profissão merece de grande parte da sociedade portuguesa. 

E o futuro não se afigura brilhante. Ao encolher de ombros generalizado, seguir-se-á o "cada um trate de si", para terminarmos numa sociedade cada vez mais desigual, onde o presidente da Associação Académica de Coimbra declara com lucidez e crueza, no arranque de mais um ano letivo "Escolhemos o curso consoante o custo da habitação e o nosso rendimento familiar".

Daqui a poucos anos ter um curso superior com um mínimo de qualidade será uma utopia para a maioria dos filhos da classe média. Pior do que isso é os jovens perceberem que será pouco eficazmente economicamente. 

GAVB

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

OS FUNDOS EUROPEUS AINDA NÃO CHEGARAM MAS A CALDEIRADA JÁ ESTÁ EM PREPARAÇÃO

 Daqui a alguns meses a União Europeia fará chover diariamente milhões de euros sobre o governo português, para recompor a economia, por causa da pandemia. 

Enquanto o presidente Marcelo coage a oposição, impedindo-a, indecorosamente, de regatear umas migalhas para as suas reivindicações costumeiras (o que custaria muito pouco ao governo do Partido Socialista) o governo  prepara o terreno para usar o dinheiro dos fundos europeus sem grande escrutínio. 

Mal soube que os milhões de Bruxelas entrariam durante 2021, o governo português propôs à assembleia da república a alteração das leis que regem a contratação públicas. «Agilizar processos», na linguagem do governo, significa menos vigilância do Tribunal de Contas.

Nos últimos dias o presidente do Tribunal de Contas disse que o a lei, como está a ser desenhada, abre as portas à corrupção. O primeiro-ministro respondeu com a dureza de um ditador: Vítor Caldeira, presidente do Tribunal de Contas, não será reconduzido. 

Costa não rebateu as críticas nem demonstrou que as alterações propostas à legislação da contratação pública impediam a corrupção. Não, António Costa mandou embora o presidente do Tribunal de Contas. Não foi um qualquer funcionário, foi o presidente do TC. E o que diz Marcelo a isto? NADA! Diz que não quer crise política! O que ele não quer é democracia, nem escrutínio público e legal daquilo que o governo faz ou se prepara para fazer, usando leis aprovadas sob coação presidencial.

Da oposição já espero pouco, pois fica contentinha com as denúncias estilo facebook, mas de Marcelo esperava mais. Uma enorme desilusão. Cada vez parecido com o ex-amigo de Ricardo Salgado do que com o presidente dos portugueses, que todos os dias veem adiado a concretização de uma país mais desenvolvido, onde haja oportunidades para todos. 

Por mais milhões que chovam da Europa continuamos a ser um país do chico espertismo, onde pouca gente investe seriamente. É por isso que a cada ano que passa mais países nos passam a perna. Holanda, Bélgica, República Checa entre outros, também já tiveram os seus problemas nos últimos cinquenta anos, mas venceram-nos e hoje está bem à frente de Portugal. 

É que quando lhes deram dinheiro, eles não perderam tempo a criar leis para os desviar para os amigos de sempre, mas concentravam esforço em ter projetos sustentados para desenvolver o país. Os resultados estão à vista.

Se hoje chegasse a Portugal um velhote com setenta anos e procurasse ver onde estão milhões que a UE mandou para cá nos últimos trinta anos, os homens de Soares e Cavaco teriam muito pouco para mostrar.   

Se é para continuar o legado de Sócrates, Salgado e Oliveira e Costa não é necessário enviar mais milhões. Mais triste do que não ter oportunidades é desperdiçar gerações por causa de sucessivas corrupções. 

P.S. Quando é que Ana Gomes sai do PS? De que vale ser contra os corruptos se foi eurodeputada de Sócrates e é candidata presidencial do PS de Costa?