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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

PREFIRO TRABALHAR NO SUPERMERCADO

 


É a economia, estúpido! 

Quando o Ministério da Educação oferece cerca de 500 euros a um professor para fazer meio horário, numa cidade a 50 quilómetros da sua residência está, obviamente, a convidá-lo a rejeitar a oferta. Nem precise de ser tão longe que o obrigue a arrendar um quarto ou uma casa. Agora imaginem quem tem  de contar também com este custo acrescido na hora de tomar uma decisão.

Basta ter de se deslocar três vezes por semana do Porto a Amarante, por exemplo, para o professor ser obrigado a gastar 75 euros semanais em portagens, combustível e almoço. Ao fim de quatro semanas terá deixado na estrada e no restaurante 300 dos 500 euros que lhe pagaram. Ser caixa de supermercado garante-lhe três vezes esse rendimento, sem desgaste do carro.

Evidentemente que ninguém quer ser professor com opções destas, muito menos com a falta de respeito e consideração que a profissão merece de grande parte da sociedade portuguesa. 

E o futuro não se afigura brilhante. Ao encolher de ombros generalizado, seguir-se-á o "cada um trate de si", para terminarmos numa sociedade cada vez mais desigual, onde o presidente da Associação Académica de Coimbra declara com lucidez e crueza, no arranque de mais um ano letivo "Escolhemos o curso consoante o custo da habitação e o nosso rendimento familiar".

Daqui a poucos anos ter um curso superior com um mínimo de qualidade será uma utopia para a maioria dos filhos da classe média. Pior do que isso é os jovens perceberem que será pouco eficazmente economicamente. 

GAVB

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