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terça-feira, 3 de setembro de 2019

A CAMORRA


Não seria necessário contar os mortos para compreender as economias da CAMORRA, porque são o elemento menos indicativo do poder real, mas apenas a marca mais visível e aquela que consegue de imediato fazer pensar com o estômago.


Começo a fazer a conta:
Em 1979 cem mortos;
Em 1980 cento e quarenta mortos;

Em 1981 cento e dez mortos;
Em 1982 duzentos e sessenta e quatro mortos;
Em 1983 duzentos e quatro mortos
Em 1984 cento e cinquenta e cinco mortos;
Em 1985 noventa e oito mortos;
Em 1986 cento e sete mortos;
Em 1987 cento e vinte e sete mortos;
Em 1988 cento e sessenta e oito mortos;
Em 1989 duzentos e vinte e oito mortos;
Em 1990 duzentos e vinte e dois mortos

Em 1991 duzentos e vinte e três mortos;
Em 1992 cento e sessenta mortos;
Em 1993 cento e vinte mortos;
Em 1994 cento e quinze mortos;
Em 1995 cento e quarenta e oito mortos;
Em 1996 cento e quarenta e sete mortos;
Em 1997 cento e trinta mortos
Em 1998 cento e trinta e dois mortos;
Em 1999 noventa e um mortos;
Em 2000 cento e dezoito mortos;

Em 2001 oitenta mortos
Em 2002 sessenta e três mortos
Em 2003 oitenta e três mortos;
Em 2004 cento e quarenta e dois mortos;
Em 2005 noventa mortos.

Três mil e seiscentos (3600) mortos desde que nasci. 
A Camorra matou mais do que a a Máfia Siciliana, mais do que a 'ndrangheta, mais do que a máfia russa, mais do que as famílias albanesas, mais do que a soma dos mortos feitos pela ETA em Espanha e pelo IRA na Irlanda; mais do que as Brigadas Vermelhas, do que os NAR (Núcleos Armados Revolucionários, grupo de extrema-direita) e mais do que todas as vítimas de Estado ocorridas em Itália.
A Camorra matou mais do que todos.
Vem-me à cabeça uma imagem: a do Mapa-mundi, que geralmente aparece nos jornais. Sobressai constantemente em alguns números do Le Monde Diplomatique um mapa que indica com um sinal de fogo todos os locais da Terra onde há conflito. Curdistão, Sudão, Kosovo, Timor-Leste. 
Acabo de lançar um olhar sobre a Itália do Sul. De somar os montes de carne que se amontoam em todas as guerras que dizem respeito à Camorra, à máfia, à 'ndrangheta, aos Sacristi de Puglia e aos Basilischi de Lucania.
Mas não há vestígio de clarão, não há desenhado nenhum fogacho.
Aqui é o coração da Europa. Aqui se forja a maior parte da economia da nação. Quais são as suas estratégias de extração, pouco importa.  
O que é necessário é que a carne para canhão permaneça atolada nas periferias, nos emaranhados do cimento e do lixo, nas fábricas clandestinas e nos armazéns de coca. E que ninguém faça sinal. Que tudo pareça uma guerra de bandos, uma guerra de maltrapilhos.  
Roberto Saviano, Gomorra

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