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sábado, 31 de agosto de 2019

PROFESSORES: DA DESCONSIDERAÇÃO AO DESENCANTO


«Se ainda me queres vender 
Se ainda me queres negociar 
Isso já pouco me interessa 
Perdemos o gosto de viver 
Eu a obedecer e tu a mandar 
Os dois na mesma triste peça 
Os dois à espera do fim» 


Apesar de estarmos à porta de um novo ano letivo e de isso coincidir com eleições legislativas (altura em que a classe política se esforça um bocadinho por prometer aquilo que não cumprir no passado), reina entre os professores uma calma angustiante de quem já nada esperada de bom, de quem perdeu a esperança em dias melhores quer para a sua classe profissional quer para a Educação, de quem espera, apenas, que a luz se apague com a dignidade possível. 


Ao fim de quatro décadas de escola pública, em democracia, os professores não perceberam bem o tipo de português que formaram nem o que eles verdadeiramente esperam da Escola. 

A Escola de tudo para todos, da melhor qualidade possível e pública não é um bem essencial para a maioria dos portugueses. É um bem que os portugueses desdenham e não acham de grande preço, como também desdenhavam o médico do centro de saúde em relação ao do consultório privado.

Outra ideia enraizada na sociedade portuguesa é que os professores trabalham pouco e ganham muito (para aquilo que fazem). De nada valem argumentos contrários, provas, factos, exemplos. 

Ser reivindicativo, lutar por direitos laborais equilibrados também é muito mal visto. A maioria dos portugueses gosta mais da autoridade do que da justiça e fica até um pouco irritada e enciumada quando um grupo profissional luta abertamente porque aquilo que acha justo e alcança os seus objetivos. 

O que traz vantagem atualmente em Portugal? Ser sonso. 

Fingir uma preocupação que não se tem, atribuir um estatuto e importância sociais a determinadas sociais apenas em discurso, sorrir pela frente e ameaçar nas costas (ver o caso dos juízes e magistrados), apoiar publicamente os poderosos (governo, patrões, grupos económicos) sempre com o objetivo de aproveitar futuros migalhas públicas. 

Queixar-se, queixar, queixar-se é «coisa» abominável e desprezível para a maioria dos portugueses. Os portugueses preferem pagar no privado aquilo que podiam e deviam ter gratuitamente no público. Possivelmente pensam que começam logo aí a cavar uma diferença para os demais. É uma maneira egoísta de construir o futuro dos filhos, mas é a que existe. 

O problema da geração de professores formada no século XX é que não percebeu que o país está muito mais individualista, sem nunca ter deixado de ser sonso. Resta-lhe esperar o fim. 

Sobre as nuvens negras que pairam sobre o futuro da Educação? Na verdade, já não nos dizem respeito.


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