O que aprende um aluno do 1.º ano na mesma sala com outro
do 2.º ano, ouvindo o mesmo professor que ora fala para ele, ora fala para o
colega assuntos diversos, que por vezes parecem os mesmos, outras vezes são
bem diferentes?
Como manter a atenção e a concentração de crianças de tão tenra
idade, quando temos de as deixar abandonadas a um canto, sem nenhum apoio, para
ensinar outras, sobre outro assunto?
As turmas mistas (coexistência de alunos de vários níveis de
ensino na mesma sala, com o mesmo professor) é um problema absurdo da Educação
em Portugal. É um problema que só atinge aluno pobre, em terras longe dos
grandes centros, onde a desertificação social impera.
A construção dos centros escolares pressupunha que este
problema deixasse de existir, pois acreditava-se que seria possível formar,
pelo menos, uma turma por ano escolar, em cada concelho. Com acontece com quase
todos os problemas, ficaram alguns casos pontuais por resolver. E o que se faz
com caos pontuais/excecionais? Dá-se respostas excecionais e adequadas.
É
preciso um professor para cinco alunos e outro para três? Coloca-se o professor
e ponto final. Há tanto professor com horário-zero, há tanto professor no
desemprego, há tanto investimento feito em recursos tecnológicos nas escolas,
tanta obra sumptuária feita pela Parque
Escolar, e está o Ministério da Educação a regatear meia dúzia de
professores colocadas em escolas isoladas do interior do país? É preciso ter a
noção do ridículo e da maldade que se faz a estas crianças, porque é de maldade
que se trata quando se lhes fornece uma educação deficitária, pelas
circunstâncias em que ocorre.
Estas crianças e estes pais não pedem ao Ministério da
Educação nada de mais, nada a que não tenham direito.
E o Ministério que não lhes
envie um professor de apoio, uma solução de remedeio palerma, mas outro professor.
O custo é semelhante, mas a dignidade e o respeito são bem diferentes.
Gabriel Vilas Boas