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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O BOM, O MAU E O PAROLO

 


A época que antecede qualquer eleição autárquica é sempre um altura em que o poder político revela o seu melhor e o seu pior, sem deixar de mostrar também o patético. Finalmente, aparece o dinheiro que não havia nos anos anteriores e as cidades tornam-se estaleiros de obras, procurando o poder autárquico mostrar trabalho feito, como se não tivesse havido três anos e meio para o realizar. É uma estratégia um pouco tola e algo dispendiosa, mas que a maioria dos políticos autárquicos aplica. Curiosamente nunca vi nenhum estudo de opinião questionar os cidadãos dos vários municípios portugueses se é uma estratégia adequada ou não, mas talvez interessa a quase todos manter o mistério sobre excelência da estratégia. 

Quanto a mim, não gosto de ver obras em ano de eleições quanto mais a dois meses de eleições. Acho que revela má consciência de quem sabia que devia ter trabalhado em tempo oportuno e não o fez, e demonstra também alguma falta de respeito para com os eleitores, pois toma-os por tolos, pensando «comprar o seu voto» com o tradicional foguetório de obras públicas, normalmente concentradas na sede do concelho.

Obviamente isto também se passa em Amarante, onde realmente faltavam (e continuam a faltar) alguns equipamentos públicos essenciais à população enquanto outros precisavam mesmo de ser remodelados. E foi isso que a Câmara  fez, acertadamente. Na recuperação de bairros sociais, na requalificação de equipamentos culturais, na facilitação rodoviária, na construção do trilho das azenhas. Opções certeiras, mas que deviam ter sido feitas e concluídas há mais tempo e jamais deviam estar a ser realizadas em tempo de eleições. 


No entanto não existem só coisas positivas. Algumas há até bastante negativas, umas por ação outras por omissão. A pior de todas: a construção de um parque de estacionamento na margem do rio Tâmega, bem junto à água. Contra toda a lógica de proteção e defesa do ambiente. Numa altura em que se quer restringir o trânsito automóvel dentro das cidades, Amarante constrói um parque de estacionamento para embelezar a margem do seu lindo rio. Inqualificável do ponto de vista ambiental, desnecessário para as necessidades de uma população habitual a rondar os dez  mil habitantes, um erro crasso para aquilo que se devia pretender para  o futuro da cidade e para o rio.

Esta medida é tão negativa que imensos amigos, vindos de fora da cidade, me questionam «Como é possível os amarantinos "deixarem" erguer uma coisa destas?! Como não se revoltam?!» 


Depois há o tipicamente parolo: os cassapos. no rio Tâmega. E logo o Tâmega que tem/tinha belas gaivotas e as tradicionais gigas que tão bem representavam  a cidade de Teixeira de Pascoaes. Em breve, Amarante será o gozo dos turistas, pelo menos, aqueles que tenham um bocadinho, só um bocadinho, de bom gosto e um pouco de conhecimento das tradições portuguesas e da cidade de Amarante. Estão a ver os cassapos na ria da Aveiro em vez dos moliceiros, não estão? Eu também não!  E duvido que o presidente da Câmara de Aveiro ou os aveirenses permitissem tamanho desaforo.

Uma palavra final para o que ainda ficou de fora e já devia estar feito há mais de duas décadas: um parque infantil público, no centro da cidade, totalmente dedicado às crianças; um pavilhão municipal com dimensões oficiais, de maneira a que a seleção nacional de voleibol ou de andebol ou de basquetebol ou de futsal pudesse disputar um jogo internacional na nossa cidade, algo nunca aconteceu. 


P.S. Amarante é uma cidade em transformação, para melhor, mas o seu atraso em relação às cidades vizinhas não permite erros nem parolices. Honrar compromissos não é mais do que a obrigação de uma pessoa de bem e portanto nada de mais para quem quer servir a causa pública. A cidade também precisa mais do que IMAGINAR, precisar de concretizar algumas ideias válidas e consensuais, mesmo que isso significa algum sacrifício político. Mais importante que quem faz é aquilo que se faz. 

Que seja útil, belo e reprodutor. 

Gabriel Vilas Boas

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