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terça-feira, 4 de agosto de 2020

A ÚLTIMA CRÓNICA DE UM REI EMBARAÇADO

Juan Carlos, o rei emérito de Espanha, entretanto caído em  definitiva desgraça, partiu para o exílio. Definitivo e irrevogável. É realmente o fim do monarca que construiu a própria decadência e que agora vê os seus atos privados do passado fazerem perigar a monarquia espanhola.

Juan Carlos regressa ao Estoril, que o acolheu nos primeiros anos de vida, também num exílio forçado pela ditadura de Franco, para tentar salvar os cacos em que deixou a família real. Chega só, abandonado, escorraçado do reino e do palácio que o viu brilhar durante mais de três décadas fulgurantes, em que a Espanha foi una e próspera. 

Os seus méritos são hoje vãos e desprezados porque a sua conduta pessoal sempre deixou muito a desejar, especialmente no que diz respeito ao enxovalho a que submeteu a mulher, a rainha Sofia, com os inúmeros casos de infidelidade que pontuaram o seu longo reinado. 
Curiosamente viria a ser um escândalo com dinheiro e mulheres a fazê-lo tombar definitivamente do trono. 
Juan Carlos amava o seu povo, amava a liberdade e a democracia, mas à sua maneira, ou seja, desde que este lhe permitisse todo o género de devaneios. 
Durante décadas, o povo espanhol foi generoso com o seu rei, todavia toda a generosidade tem limites. O limite da decência, do carácter e da honestidade. Melhor do que ninguém, o povo espanhol soube distinguir entre o que era esfera privada do dever público e por isso só abandonou o seu rei quando este traiu o povo.     
É completamente intolerável que um rei se torne num vulgar comissionista, usando a coroa para intermediar negócios das arábias, dos quais alegadamente recebeu importantes fundos, depositados num paraíso fiscal, enquanto o povo passava por uma grave crise económica e social. 
Só a suspeita já é suficientemente grave e embaraçante, mas a dificuldade que o rei emérito teve / tem para rechaçar as alegações da acusação suíça revelam bem quão fundo cavou Juan Carlos a sua sepultura e provavelmente a da própria monarquia espanhola. 

Juan Carlos não é só um membro da família real, como tenta acudir o primeiro-ministro Pedro Sanchez; ele era o rei ao tempo em que os factos se reportam e ele não abdicou de nada de essencial. Infelizmente também não abdicou de ser o protagonista de escândalos.
Juan Carlos chegou ao Estoril para o capítulo final da sua história pública. Veio sozinho ou trouxe consigo os despojos da monarquia em Espanha?

GAVB 

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