Passaram, ontem, 226 anos
sobre a tomada da Bastilha, uma data e local com grande simbolismo para os
franceses. Hoje não me quer deter sobre a data, mas sobre o local.
A Bastilha foi mandada
construir por Carlos V como portão fortificado das muralhas de Paris, em meados
do século XIV. A sua intenção inicial era defender a cidade dos ataques
ingleses, que, na altura, hostilizavam com frequência.
Três séculos depois, o
portão foi transformado em fortaleza militar e prisão, usada pela nobreza e
monarquia francesas para manter presos todos aqueles que se opunham ao regime.
Normalmente a Bastilha
estava ocupada por uma média de 40 “inimigos” do Estado. A prisão tornou-se num
símbolo da autoridade e fascismo do Estado. Para se ser encarcerado bastava um
mandado de captura direto, assinado pelo rei.
No reinado de Luís XIV,
a Bastilha funcionou também como local de detenção judicial. Servia ainda para
depósito de livros e panfletos proibidos, ou seja, rapidamente tornou-se num
local de pessoas e ideias perigosas para a monarquia francesa, cada vez mais
acossada.
A estrutura da Bastilha comportava oito torres de trinta metros
de altura, todas ligadas por muralhas de pedra reforçadas. Com uma espessura de
três metros, as muralhas eram rodeadas por um fosso de vinte e quatro metros de
largura, que, por sua vez, estava cercado por pequenos muros.
A posição e a forma
circular das torres não só aumentavam a resistência da Bastilha como davam aos
soldados uma vista de 3600, englobando os pátios
interiores e os territórios em volta do edifício. Com as torres ligadas era
também mais fácil aos soldados circularem entre torres sem terem de descer ao
rés-do-chão.
O interior da Bastilha
incluía dois pátios principais, “escritórios”, aposentos de oficiais de menor
patente, câmara de interrogatório, armazéns de armamento, masmorras, celas,
residências de carcereiros, uma cozinha e uma pequena capela.
As celas diferiam
bastante: havia celas escuras e húmidas, nas masmorras, habitadas por
ratazanas, mas também aposentos espaçosos, com fogões, cadeiras e camas e
outras que eram apertadas e frias. Ficavam nas torres. O tipo de cela atribuída
dependia da classe social do prisioneiro, da sua riqueza e até do crime cometido.
A nobreza, por exemplo, tinha direito a aposentos melhores e até vistas para o
exterior.
As execuções na
Bastilha eram concretizadas de três formas: enforcamento, decapitação com o
machado ou morte na fogueira. Os nobres eram os únicos prisioneiros que podiam
escolher a forma como seriam mortos. Normalmente optava pela decapitação, pois
era vista como uma forma correta de execução pela aristocracia. Havia muito
interesse popular em assistir às decapitações e por isso estas nunca era
agendadas para os dias em que houvesse estreia de peça de teatro.
No geral, a Bastilha
oferecia um nível de conforto muito superior ao de outras prisões na época, mas, por albergar vários inimigos do Estado e ativistas políticos, tornou-se sinónimo
e símbolo do regime decadente e fascista da monarquia.
Tudo culminaria no dia
14 de julho de 1789, com os revolucionários a pedirem ao governador da
Bastilha, Bernard Rene Jourdan, que cedesse as largas lá guardadas, para ajudar
à sua causa. Jourdan não disse que sim nem que não; furiosos, por esta ação
aparentemente pró-monárquica, os revolucionários tomaram de assalto a Bastilha.
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