sábado, 7 de abril de 2018

AS TRALHAS DESNECESSÁRIAS QUE ACUMULAMOS NA VIDA


Muitos de nós já se deram conta que as suas casas e as suas vidas estão atafulhadas de coisas desnecessárias. Muitos querem livrar-se delas, mas não conseguem. Porquê? Porque ignoram quem as pôs lá e/ou como lá apareceram.
Na sociedade em que vivemos, as coisas chegam até nossa casa sem termos necessidade de as escolhermos. Os catálogos de supermercado, as campanhas promocionais, as datas icónicas que trazem quase sempre presentes encarregam-se de nos impor uma quantidade de objetos que nunca sonhámos adquirir.

Se não houvesse aquele folheto na caixa do correio ou se não tivesse visto aqueloutra promoção na televisão jamais teria adquirido aquela consola de jogos, por exemplo. No entanto, a sensação de estarmos a fazer um grande negócio hipnotiza-nos o discernimento e adquirimos coisas que não precisamos, que dificilmente nos serão úteis e, em muitos casos, de que não gostamos.

Aquela sensação que estamos a ser mais espertos que os outros ou que nos estamos abastecer para um putativa necessidade futura serve-nos de justificação.

Pior do que ter uma vida guiada pelos outros, hipotecando opções próprias, é poluirmos a nossa existência de objetos, dependências, estilos de vida que nos cansam e nada nos acrescentam.
A escritora japonesa Hideko Yamashita costuma tratar esta temática da nossa relação com as coisas, em sociedade, através de uma metáfora elucidativa.
Ela pede que nos imaginemos peixes vivendo numa pequena lagoa do curso médio de um rio.

No princípio as coisas chegam à entrada da lagoa e sempre que não precisamos delas descartámo-las. Sabemos que para mantermos a nossa existência só precisamos de algumas (poucas) delas e por outro lado não temos dinheiro para adquirir aquelas pechinchas que nos impingem, por muito baratas e apetecíveis que sejam.

A nossa pequena lagoa não precisa de ser alimentada por um rio inteiro, basta-lha o caudal de um pequeno ribeiro. No entanto, gostamos de viver «à grande» e por isso, com o tempo, as coisas que entram na nossa lagoa vão aumentando e em pouco tempo já lá cabe o caudal de um rio inteiro. Entram, mas não saem…


A sociedade ocidental é hoje um grande Amazonas transbordante, mas a nossa consciência continua igual ao que era assim como a nossa lagoa (casa). 
Rapidamente a lagoa sofre a pressão do grande rio caudaloso e alarga, transformando-se num imenso lago de águas paradas, porque deixou de haver circulação de água.
As tralhas acumulam-se na outrora lagoa límpida e azul e a truta esguia e saudável que lá vivia (nós) corre o risco de se transformar num enorme peixe-gato, ou seja, material potencialmente tóxico, porque apenas de alimenta do que jaz perdido entre o lodo.
GAVB

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