Muitos de nós já se deram conta
que as suas casas e as suas vidas estão atafulhadas de coisas desnecessárias.
Muitos querem livrar-se delas, mas não conseguem. Porquê? Porque ignoram quem
as pôs lá e/ou como lá apareceram.
Na sociedade em que vivemos, as
coisas chegam até nossa casa sem termos necessidade de as escolhermos. Os
catálogos de supermercado, as campanhas promocionais, as datas icónicas que trazem
quase sempre presentes encarregam-se de nos impor uma quantidade de objetos que
nunca sonhámos adquirir.
Se não houvesse aquele folheto na
caixa do correio ou se não tivesse visto aqueloutra promoção na televisão
jamais teria adquirido aquela consola de jogos, por exemplo. No entanto, a
sensação de estarmos a fazer um grande negócio hipnotiza-nos o discernimento e
adquirimos coisas que não precisamos, que dificilmente nos serão úteis e, em
muitos casos, de que não gostamos.
Aquela sensação que estamos a ser
mais espertos que os outros ou que nos estamos abastecer para um putativa
necessidade futura serve-nos de justificação.
Pior do que ter uma vida guiada
pelos outros, hipotecando opções próprias, é poluirmos a nossa existência de
objetos, dependências, estilos de vida que nos cansam e nada nos acrescentam.
A escritora japonesa Hideko
Yamashita costuma tratar esta temática da nossa relação com as coisas, em
sociedade, através de uma metáfora elucidativa.
Ela pede que nos imaginemos
peixes vivendo numa pequena lagoa do curso médio de um rio.
No princípio as coisas chegam à
entrada da lagoa e sempre que não precisamos delas descartámo-las. Sabemos que
para mantermos a nossa existência só precisamos de algumas (poucas) delas e por
outro lado não temos dinheiro para adquirir aquelas pechinchas que nos impingem,
por muito baratas e apetecíveis que sejam.
A nossa pequena lagoa não precisa
de ser alimentada por um rio inteiro, basta-lha o caudal de um pequeno ribeiro.
No entanto, gostamos de viver «à grande» e por isso, com o tempo, as coisas que
entram na nossa lagoa vão aumentando e em pouco tempo já lá cabe o caudal de um
rio inteiro. Entram, mas não saem…
A sociedade ocidental é hoje um
grande Amazonas transbordante, mas a nossa consciência continua igual ao que
era assim como a nossa lagoa (casa).
Rapidamente a lagoa sofre a pressão do
grande rio caudaloso e alarga, transformando-se num imenso lago de águas
paradas, porque deixou de haver circulação de água.
As tralhas acumulam-se na outrora
lagoa límpida e azul e a truta esguia e saudável que lá vivia (nós) corre o
risco de se transformar num enorme peixe-gato, ou seja, material potencialmente
tóxico, porque apenas de alimenta do que jaz perdido entre o lodo.
GAVB
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