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sábado, 3 de maio de 2014

FIEL JARDINEIRO

Fiel Jardineiro foi um dos melhores filmes a que assisti na última década.
Quando por detrás da câmara temos um realizador do calibre do brasileiro Fernando Meirelles, que resolve desafiar a bela e talentosa Rachel Weisz para dar corpo a uma história de John Le Carré, o resultado só pode ser um filme de grande qualidade.
A história acompanha a vida de Justin e Tessa Quayle. O primeiro, um diplomata em missão em África e a segunda, sua mulher, uma ativista feroz dos direitos humanos. Depois de um início em que as personalidades das personagens principais ficam bem vincadas (ela, irreverente e aguerrida; ele, pacificador) nasce um amor, de um desejo físico. Com o avançar da carreira de Justin, Tessa pede-lhe para o acompanhar até África. Em África, nos momentos livres, Justin procura o seu refúgio no jardim (daí o título do filme), enquanto Tessa, sempre enérgica, se envolve em movimentos de defesa dos direitos humanos, contra grandes corporações estrangeiras. Entretanto, Tessa Quayle (Rachel Weisz) é encontrada brutalmente assassinada. O seu companheiro de viagem, um médico local, desapareceu. E como tal, tudo indica tratar-se de um crime passional. Os membros do Alto Comissariado Britânico em Nairobi partem do princípio que Justin Quayle (Ralph Fiennes), o marido de Tessa, um pacato diplomata sem ambições, deixará o assunto ao cuidado deles. Mas não podiam estar mais enganados... Assombrado pelo remorso e revoltado com os rumores sobre a infidelidade da sua mulher, Justin embarca numa perigosa odisseia para limpar o nome de Tessa e também para "terminar o que ela iniciara". Uma viagem que o levará aos meandros da poderosa indústria farmacêutica e às terríveis verdades que a mulher estava à beira de revelar.

Quem viu o filme "O Fiel Jardineiro" apercebe-se de uma crítica subjacente à ainda muito forte presença inglesa em África e à forma como o povo africano é tratado pelas empresas farmacêuticas e visto pelo resto do mundo.
O filme choca nesse ponto: a insensibilidade do mundo perante aquela situação. Embora o filme fale de um amor nem sempre evidente e, por vezes, frágil, não deixa de lado a crítica, muito dura, à forma como o mundo funciona com África. Este é um assunto muito delicado. É um assunto que deve ser discutido com urgência e não apenas superficialmente. Não está em causa a pobreza - isso não é o mais importante. É preciso abrir os olhos à instabilidade social em África, em parte devido à pressão conveniente dos países ricos para permanecerem as tribos selvagens, bem como os problemas que afetam as populações directamente: falta de alfabetização, falta de saneamento, falta de infraestruturas com qualidade e higiene mínima.
Neste filme tudo me impressionou. A história é envolvente, misteriosa, política, social, humana. Temos a história de amor, temos a exploração do continente africano e do seu povo pela ocidental e gananciosa Inglaterra. Temos o contraste entre dois mundos. Temos o amor à vida e à verdade. Temos a luta pelos direitos humanos, a coragem e a determinação, a luz e a sombra do ser humano. Um grande argumento que valeu nomeação para Óscar, em 2006.
            A direção de Fernando Meirelles é soberba. O realizador brasileiro sobe tirar de Rachel Weisz uma atuação guerreira, sentida, talentosa. Meirelles é um homem sensível, capaz de captar o melhor dos seus atores. Ao mesmo tempo que soube transmitir toda a beleza de África em imagens áreas duma poesia pictórica impressionante. Quando convidou os habitantes de Kibera a atuarem como figurantes nas cenas gravadas na localidade, trouxe a genuína alegria dum povo martirizado para a tela ocidental e proporcionou à equipa de atores e assistentes o convívio com a realidade que ficcionavam.
A banda sonora de Alberto Iglesias, também indicada para Óscar, é algo de fabuloso. Combina a personalidade calma de Justin Quayle (Ralph Fiennes), com a personalidade determinada de Tessa (Rachel Weiz), mistura a beleza tranquila e monstruosa do continente africano com a alegria contagiante do seu povo. As músicas jogam na perfeição com as personagens, as paisagens, as emoções e os sentimentos com que o realizador quer impregnar a alma do espectador.

            E depois há Rachel Weisz. Talvez a atriz da minha geração que mais gosto de ver em cinema. Ela tem uma beleza britânica, a que junta uma inteligência e intuição perante a câmara fora do comum. O Fiel Jardineiro foi certamente a sua melhor performance até ao momento e isso valeu-lhe um Óscar, em 2006, enquanto Melhor Atriz Secundária. Venceria a mesma categoria nos Globos de Ouro, nos BAFTA e no Screen Actors Guild Awards.
História com conotações políticas óbvias, Meirelles continua a mostrar o seu sentido de justiça na defesa dos mais vulneráveis. O filme desliza por vários estilos, como thriller político, acção, guerra mas o ponto central mantêm-se sempre: o amor.
De um amor rotineiro e previsível durante a vida de Tessa, surge um amor total profundo aquando do seu final. É como se a viagem de busca de Justin o fizesse encontrar o que tinha como adquirido. E o amor nunca deve ser dado como adquirido, mas como algo a procurar…. sempre.

Gabriel Vilas Boas

3 comentários:

  1. Belíssimo filme que revi há pouco tempo. :)

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  2. Veremos agora m ainda não vimos este filme , gratos pela postagem . Beijos de nós dois !

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  3. EXCELENTE TEXTO!!! BELÍSSIMO FILME... GOSTEI MUITO!

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